Filósofa foi palestrante da manhã,em Salvador, no Seminário Representação Política e Enfrentamento ao Racismo, atividade preparatória da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que acontece de 5 a 7 de novembro em Brasília. A cobertura completa do evento estará disponível a partir de quarta-feira (24/04) no link: www.aids.gov.br/mediacenter
SEPPIR – “Precisamos desconstruir a noção dominante de representação e criar uma outra concepção porque não faz sentido um conceito de representação que deixa o outro de fora”, declarou a professora doutora do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), Marilena Chauí, palestrante do Seminário Representação Política e Enfrentamento ao Racismo, realizado ontem (19/04), em Salvador, pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR-PR). Chauí, que conduziu sua fala a partir dos conceitos de ética, violência e racismo, afirmou que a classe dominante manipula para produzir a exclusão.
A palestra de Marilena Chauí integrou a programação da atividade em Salvador, primeira capital fora de Brasília a sediar os Seminários Temáticos, que é parte das comemorações de dez anos de criação da SEPPIR e etapa preparatória para a III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial – III CONAPIR, que acontece de 5 a 7 de novembro, em Brasília, com o tema Desenvolvimento e Democracia por um Brasil Afirmativo.
Agenda
No dia 26, será a vez de Recife tratar sobre Trabalho e Desenvolvimento: Capacitação Técnica, Emprego e População Negra. São Paulo sedia a discussão Desenvolvimento e Mulher Negra no dia 07 de maio e Belém do Pará, no dia 17 do mesmo mês, fará o seminário sobre Territórios Tradicionais Negros: Desenvolvimento e Enfrentamento ao Racismo. Com o tema Oportunidades para a Juventude Negra, Porto Alegre sedia o último evento da série no dia 24 de maio.
“A ética não é um estoque de condutas e sim a práxis. Ela se opõe à violência”, explicou a professora, para depois falar sobre o racismo como uma crença fundada na hierarquia entre raças, uma doutrina e um ato político. Chauí afirma que para refletir sobre o racismo é preciso rever o conceito de representação, cujo sentido político deriva de dois outros, o jurídico e o teatral. “Representar politicamente o outro de quem recebeu o mandato é estar no lugar do outro e falar por esse outro. O outro entendido como inferior. A classe dominante ocupa o seu lugar. Daí a exclusão racial no espaço público”, sentenciou a filósofa.
Para a ministra da SEPPIR, Luiza Bairros, a escolha de Salvador para sediar o primeiro seminário fora de Brasília e exatamente para discutir o tema da representação política e enfrentamento ao racismo foi acertada. “Um bom começo para os caminhos que ainda temos que percorrer para termos uma representação que corresponda ao peso da população negra brasileira”, disse Bairros. Em seu entendimento, esse tema deve ser colocado no centro do debate para contagiar toda a população brasileira do mesmo modo que vem ocorrendo com outros temas relacionados à questão racial e sobre os quais “a sociedade não pode mais deixar de tratar”.
“Além do que, Salvador produziu um quadro único do ponto de vista eleitoral, com candidaturas a vice-prefeito de pessoas negras, especialmente mulheres negras, um quadro importante para a nossa representação política”, completou Luiza Bairros.
A ministra falou na mesa de abertura, que contou ainda com a participação da senadora Lídice da Mata (PSB-BA), do vereador de Salvador, Waldir Pires, do secretário de Promoção da Igualdade Racial da Bahia, Elias Sampaio, da reitora da Universidade Federal da Bahia, Dora Leal Rosa, da secretária de Reparação de Salvador, Ivete Sacramento, da representante do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, Valdecir Nascimento, e do deputado estadual Bira Cora.
Celebração
A senadora Lídice da Mata falou sobre a importância da celebração dos 10 anos da SEPPIR, destacando conquistas do período, entre os quais o avanço da política de cotas em universidades e a aprovação dos direitos das trabalhadoras domésticas, através de Proposta de Emenda Parlamentar recentemente aprovada no Senado Federal. A senadora também revelou preocupações locais, convocando parlamentares e a população baiana a lutarpela consolidação do Museu Afro da Bahia, bem como para lutar pelo combateà violência contra os jovens negros.
“A nossa universidade tem o compromisso de contribuir para um Brasil afirmativo”, disse Dora Leal Rosa, destacando a peculiaridade da Faculdade de Medicina da Bahia, primeira instituição de ensino superior do país e local do evento. “A universidade é o lugar onde não pode haver discriminação; é o lugar do debate e precisa contribuir para a construção da democracia”, disse ainda a reitora, afirmando que “a UFBa trabalha para ser uma universidade afirmativa assim como a SEPPIR propõe com o tema da sua próxima conferência”.