Embora muitas prefeituras recebam recursos federais por meio do Fundeb, que garante uma parcela para incentivos na educação indígena, muitas comunidades do Amazonas não possuem sequer uma escola. É o caso das comunidades da região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte (AM), onde vivem povos indígenas de diferentes etnias (Mayoruna, Marubo, Kanamari, Matis, Korubo, Kulina etc). Na aldeia Lobo, por exemplo, o professor Gonçalo (foto acima) dá aulas em sua casa, pois ali até hoje nunca foi construída uma escola. Os materiais didáticos são permanentemente reutilizados. A prefeitura de Atalaia do Norte recebeu recursos para construção de escolas em seis comunidades e, até o momento, nenhuma foi construída.
Polo base de saúde da aldeia 31 (vizinha da aldeia Lobo). Precariedade do prédio revela o descaso do poder público para a saúde indígena. Este é apenas um exemplo do que acontece em todo o Brasil. Quando cheguei na aldeia e vi a situação do polo base pensei que o local estivesse desativado. “Não”, me disse o cacique Augusto, “este polo está funcionando. Mesmo nessa situação, os técnicos em enfermagem atendem a gente aqui. Mesmo com tudo quebrado, com sujeira, cocô de morcego e falta de gerador de energia”.
Este casal de indígenas Matis foi afastado de seu filho em tratamento de grave doença em Manaus. A mãe, Tekpam Kana Matis, e o pai Tumi Machopa Matis, foram considerados suspeitos de praticarem “infanticídio” no filho. Em uma conversa que tive com eles, em Atalaia do Norte, os dois negaram. Eles estavam tristes e traumatizados com a decisão dos profissionais de saúde do governo do Amazonas A medida revela o despreparo que o sistema único de saúde tem na atuação junto aos povos indógenas. Eu, como jornalista, também fiquei indignada com a cobertura de determinado veículo de comunicação local, que também fez matéria sobre o assunto e insinuou que a suposta tentativa de infanticídio fazia parte de um “ritual” (este termo ficou estampado no vídeo durante toda a transmissão da reportagem).
Lideranças Mayoruna (ou Matsés) em uma manifestação que interrompeu as discussões sobre impactos da atividade petrolífera em suas comunidades. Durante os debates, subitamente as lideranças mais velhas, muito revoltadas, saíram em uma espécie de “dança que antecede uma guerra”, com gritos e cantos, ao redor da maloca. Esta imagem foi feita dentro da maloca, cujo ambiente era ligeiramente escuro.