Iolando Lourenço e Ivan Richard, Agência Brasil
Brasília – Indígenas de diversas etnias de todo o Brasil lotaram o plenário da Comissão de Orçamento e parte dos corredores da Câmara para participarem e acompanhar a instalação do grupo de trabalho destinado a debater a situação dos índios no Brasil. O grupo foi instalado por deputados ligados ao meio ambiente e às causas indígenas, sem a presença de parlamentares da bancada ruralista, que defende mudanças nas normas de demarcação de terras indígenas.
O grupo foi criado ontem (17) pelo presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), na tentativa de encontrar uma solução para acalmar os representantes dos índios, que invadiram o plenário da Câmara na última terça-feira (16). Eles são contrários à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere do Executivo para o Legislativo a última palavra sobre as demarcações de reservas indígenas.
O grupo de trabalho é formado por dez deputados, sendo cinco ambientalistas e igual número de ruralistas, e dez lideranças indígenas de comunidades como guarani kaiowá, terena, kaigangue e guajará, entre outras. O ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Moreira Mendes (PSD-RO), integrante do grupo de trabalho, questionou a lisura da instalação do colegiado.
“Não falaram comigo, nem avisaram os outros deputados da bancada [ruralista]. Já começa cheirando mal, está errado e já começa comprometido”, disse Moreira Mendes à Agência Brasil. Ele disse que vai procurar o presidente da Câmara para questionar o procedimento de instalação do grupo.
“Eles [ambientalistas] sabem que quinta-feira não tem ninguém na Câmara à tarde. Não participo de circo. Se for para discutir com seriedade, sentar em uma mesa, sem circo, sem plateia, contem comigo, mas não vou participar de circo. Vou falar com o presidente da Casa , porque não se pode marcar reunião sem avisar o outro lado. Não avisou a ninguém da bancada. Estou muito irritado com isso”, acrescentou.
O líder do PV, deputado Sarney Filho (MA), integrante do grupo, comemorou a instalação do colegiado e agradou os indígenas ao afirmar: “Esse é um novo momento para a dignidade indígena. Muitos insistem em desconhecer os nossos irmãos, verdadeiros donos dessa nação, que são vocês”.
Antes e durante a instalação do grupo de trabalhos, os indígenas entoaram diversos cânticos e dançaram em volta da mesa dos trabalhos. O deputado Lincoln Portela (PR-MG), presidente da Comissão de Legislação Participativa da Câmara, foi designado pelo deputado Henrique Alves como o mediador do grupo de trabalho.
Ao término da reunião, em que foram escolhidos os dez representantes dos indígenas para integrar o grupo, Lincoln Portela marcou a próxima reunião para o dia 14 de maio e avisou que o grupo fará reuniões mensais para debater as questões indígenas.
Edição: Fábio Massalli
Não são os indígenas que “são contrários à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215”. São todas as pessoas dignas deste País!