José Maria Tomazela – Agência Estado
A duplicação da Serra do Cafezal, último trecho de pista simples da rodovia Régis Bittencourt (BR-116), que liga São Paulo ao sul do País, começou para valer sem nenhum alarde. Nesta quinta-feira (11), motosserras de uma contratada faziam a abertura da mata espessa para a entrada de máquinas e equipamentos. A limpeza do traçado teve início na altura do km 334, no bairro do Cafezal, divisa de Juquitiba com Miracatu. A duplicação de 19 quilômetros no trecho central da serra, do km 344 ao km 363, deve ser concluída apenas em 2017. O trecho é recordista em acidentes nos 402,6 quilômetros entre São Paulo e Curitiba, por isso a estrada ficou conhecida como “rodovia da morte”.
A empresa informou ter cumprido as condicionantes ambientais para a duplicação, previstas na licença concedida em janeiro, e que a supressão vegetal é preparatória para as obras de engenharia.
Paralelamente à retirada da mata, a empresa realiza o resgate de flora e fauna ameaçada de extinção. O projeto prevê quatro túneis e 36 pontes e viadutos para reduzir o impacto na Mata Atlântica que recobre a serra. Ao todo, serão oito quilômetros de pista aérea e dois de subterrânea. Na subida, sentido São Paulo, a rodovia terá três faixas e estrutura para receber, no futuro, uma quarta faixa. Na descida, sentido Curitiba, serão duas faixas, com base para a terceira.
Para diminuir o impacto ambiental, a segunda pista terá cinco quilômetros fora do eixo da estrada atual. O traçado vai contornar um maciço de serra e mata que faz parte do Parque Estadual da Serra do Mar. O desvio, do km 358 ao km 363, vai formar uma “ilha” de mata, cercada pelas duas estradas, mas os viadutos sobre pilares elevados evitarão o confinamento da fauna. O material retirado de 1,8 km de túneis será usado em aterros. As obras consumirão 130 mil m3 de concreto. A pista antiga será restaurada e ganhará reforço com concreto asfáltico. Alguns trechos serão refeitos para redução de curvas e declives. A obra tem custo estimado de R$ 700 milhões.
A duplicação implicará na supressão de 113,8 hectares de floresta, dos quais 34 em Área de Proteção Ambiental (APP), mas está prevista a recuperação de matas degradadas na mesma região. Entidades do meio ambiente contestam o projeto. A SOS Manancial encaminhou documento ao Ibama comparando a duplicação da Régis à construção da nova pista na Rodovia dos Imigrantes. Para a entidade, o projeto de Imigrantes adotou 100% de obras de arte para preservar a mata, enquanto na Régis o índice de obras de arte é inferior a 50%, aumentando os cortes e aterros na região serrana.
Inaugurada em 1961, no governo de Juscelino Kubitschek, com pista simples, a Régis foi quase toda duplicada até o final da década de 1990. A duplicação da serra é reivindicada há mais de 20 anos. O afunilamento no tráfego causa perda de tempo e acidentes. Em 2012, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ocorreram 410 acidentes – mais de um por dia – com 13 mortes. Os congestionamentos geram outro tipo de prejuízo para os usuários: quadrilhas aproveitam o trânsito parado e saqueiam as cargas dos caminhões ou ameaçam motoristas de automóveis, furtando dinheiro e objetos de valor. O começo e o fim de serra já tiveram obras de duplicação: o trecho inicial, do km 334 ao 337 já foi aberto ao tráfego; o final, entre o 363 e o 367, será entregue em agosto.
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Enviada para a lista da Rede Brasileira de Justiça Ambiental por Léa Corrêa Pinto com o seguinte comentário: “Destaco o parágrafo quinto desta reportagem ” A SOS Manancial encaminhou documento ao Ibama comparando a duplicação da Régis à construção da nova pista na Rodovia dos Imigrantes. Para a entidade, o projeto de Imigrantes adotou 100% de obras de arte para preservar a mata, enquanto na Régis o índice de obras de arte é inferior a 50%,aumentando os cortes e aterros na região serrana.” Observo que a matéria não menciona o ilhamento, entre os kms 349 e 354, do Ribeirão do Caçador que coleta as dezenas de nascentes de águas puras advindas dos altos divisores. Além disto, não se pode deixar de frisar que as melhorias ao projeto inicial devem-se à pressão de expressivo coletivo de entidades civis”.