CIMI – Triste e infeliz a pátria que não sabe acolher seus filhos, acariciar sua rica natureza e biodiversidade, se deleitar em suas águas abundantes, ainda limpas em grade parte, conviver harmonicamente com os animais, se deliciar com suas frutas saborosas, com seu ar puro.
A Amazônia dos amazônidas continua seriamente ameaçada, violentamente agredida, absurdamente negada aos seus povos. A lógica da motosserra, das grandes madeireiras internacionais, das companhias mineradoras, das mega-hidrelétricas, que destoem e avançam sem dó nem piedade. A civilização do boi e da soja se alastra como ervas daninhas, tombando florestas, devorando corações e mentes. A mentira do progresso impera e ilude.
Comitê da Verdade e resistência do Amazonas
Fiquei muito feliz ao voltar a Manaus e Presidente Figueiredo e sentir o enfrentamento com os grandes interesses saqueadores das riquezas da região, na “articulação de convivência com a Amazônia”, na Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, no Comitê da Verdade do Amazonas.
Abril Indígena, tempo de fazer avançar a luta pelos direitos dos povos primeiros dessa bela terra, das populações tradicionais, e de todos os aliados dos ricos sistemas de vida da Amazônia, ainda na paixão, mas de pé e resistente.
Waimiri Atroari – da heróica resistência à “prisão de ouro”
Uma das situações emblemáticas de violência e genocídio é sem dúvida a dos Kiña, Waimiri Atroari. Por esta razão, o massacre de mais de dois mil indígenas deste povo foi o primeiro documento densamente documentado, entregue à Comissão Nacional da Verdade. Isso já em outubro do ano passado, pelo Comitê Estadual. Infelizmente ainda não tiveram nenhuma resposta sobre os encaminhamentos e providências, especialmente no que diz respeito ao contato com os Waimiri Atroari, para que eles possam, com sua memória de luta e resistência, dar mais densidade e consistência comprovada do massacre que sofreram por ocasião da construção da BR-174, Manaus/Caracaraí/Boa Vista, de 1967 a 1977.
Já esgotados os prazos prometidos à coordenação da Comissão Nacional da Verdade, pelo indigenista da Eletrobrás e coordenador do Programa Waimiri-Atroari, o grupo entendeu que é o momento de cobrar respostas efetivas, particularmente com relação à visita à terra indígena e um efetivo diálogo com posicionamentos incisivos a favor dos direitos deste povo, particularmente com relação à liberdade de participação do movimento indígena e aliados, conforme defende Egydio Schwade. Manoel Moura, índio Tukano, classificou a situação da política indigenista empresarial com relação a esse povo de “prisão de ouro”.
Também foram tomados alguns encaminhamentos com relação ao debate sobre a questão dos militares na Amazônia e a política indigenista dos governos militares. Esses temas que tem sido uma espécie de tabu, precisam ser aprofundados para que não se repitam determinadas violências, autoritarismo e prepotência com relação aos povos e populações tradicionais da região. O Comitê Estadual da Verdade está sendo um importante instrumental neste sentido.