ASCOM FAOR – Em coletiva realizada na manhã desta quinta-feira (04), na sede do Ministério Público Federal, em Belém, Valdenir Munduruku do Rio Tapajós, representante dos índios Munduruku, relatou como está sendo a ofensiva militar do Governo Brasileiro no território indígena e entregou ao procurador da república, Ubiratan Cazetta, a carta do povo Munduruku, pedindo o cancelamento da “Operação Tapajós”. Também estavam presentes na coletiva, Marquinho Mota, representante do FAOR – Fórum da Amazônia Oriental e Luiz Cláudio, do CIMI – Conselho Indigenista Missionário.
A “Operação Tapajós”, teve inicio no fim de março de 2013, quando contingentes de dezenas de homens da Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e militares, desembarcaram na sede do município de Itaituba, no Oeste do Pará, às margens do rio Tapajós, para garantir a segurança de técnicos que irão fazer um estudo de acessibilidade para a construção de 30 usinas hidrelétricas na Bacia do Tapajós. De acordo com convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), qualquer medida administrativa ou legislativa que possa afetar diretamente as populações indígenas e tradicionais, deve passar por consulta prévia com as populações, segundo Valdeir Munduruku, o povo indígena ainda não foi escutado, “não é que agente não queria dialogo, tanto que já foi marcada uma reunião entre as aldeias para decidir quem são as lideranças que vão representar o povo Munduruku, nesta consulta, nós não queremos mais violência, pedimos pela retirada das forças armadas do nosso território, eles nos proíbem de caçar e pescar,” declarou.
Os indígenas temem que a operação repita a tragédia ocorrida em 07 de novembro de 2012, quando Polícia Federal realizou uma operação (Operação Eldorado), na Aldeia Teles, fronteira entre Pará e Mato Grosso. O saldo foi um Munduruku assassinado por um delegado da polícia federal, vários indígenas gravemente feridos, além de crianças, idosos e mulheres ameaçados e humilhados pelos agentes federais. Na ocasião, o Ministério Público Federal abriu investigação que segue até o momento.
O procurador da república, Ubiratan Cazetta, recebeu a carta do povo Munduruku e vai anexar ao processo que o Ministério Público Federal – MPF, já iniciou, pedindo o cancelamento da “Operação Tapajós”. “Já entramos com recurso para cancelar a operação, estamos aguardando a posição do desembargador, em Brasília. Pedimos que não haja o licenciamento, sem que as comunidades indígenas sejam consultadas, e o MPF vai acompanhar o processo de perto, para não continuar as irregularidades”, concluiu o procurador.
A sociedade civil e os movimentos sociais estão se manifestando em apoio aos índios Munduruku, na ultima terça-feira (02), o FAOR – Fórum da Amazônia Oriental, divulgou uma nota de apoio e recolheu 92 assinaturas de diversas entidades, ONGs, movimentos sociais que também são contra a ofensiva militar contra o povo Munduruku e contra a construção do complexo hidrelétrico nos rios da Amazônia.
Marquinho Mota, que representou o FAOR, disse que “nós estamos aqui para declarar nosso apoio total e irrestrito ao povo Munduruku, um povo que está sendo ameaçado não só pela construção de uma barragem, mas de 30 barragens na Bacia do Tapajós, além de vários projetos de mineração. Outro motivo é que é inadmissível, dentro de um estado democrático, o governo usar o exército e a polícia para intimidar populações indígenas que estão vivendo dentro do seu território, sem afetar ninguém ou oferecer ameaças para o estado brasileiro ou para a democracia. Também questionamos, a forma como estes projetos de barragens estão sendo feitos, eles rasgam a constituição, os acordos internacionais, e a convenção 169 da OIT, fazendo esse governo virar uma ditadura, como no caso de Belo Monte, no Xingu, o FAOR está ativamente denunciando as irregularidades na esperança que isso um dia acabe.”
O CIMI tem acompanhado, essa ofensiva militar no território Munduruku, Luiz Claudio Teixeira, que representa o CIMI conta como esta a situação nas aldeias, “ o clima está tenso, os índios estão ao mesmo tempo com medo da reação da polícia e indignados com o que eles consideram uma traição do Governo, já que eles sempre dialogaram, uma comissão de indígenas esteve em Brasília no fim de março e conversaram com o secretário nacional de articulação social da Presidência da República, Paulo Maldos, que garantiu que nada seria feito sem a consulta indígena,” relata Luiz Cláudio.
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Enviada por Elen Pessoa para Combate ao Racismo Ambiental.