Quando se pensa em mulher negra no Brasil, na maioria das vezes, a primeira imagem que aparece na mente é de mulata no Carnaval. É o que mostra um estudo da ONG Idobem, que entrevistou mais de cinco mil brasileiros em diversos pontos do país. Ao todo, 41% dos entrevistados apontaram para esta resposta.
O índice mostra que, mais de cem anos após a abolição da escravatura, a luta das mulheres negras por dignidade, respeito e igualdade, continua no Brasil.
Quando nos deparamos com a realidade das mulheres negras, que representam quase 20% da PEA (População Economicamente Ativa) intensifica-se o quadro de desigualdades e opressões, tanto em relação ao gênero, quanto em relação à etnia, pois é evidente que ainda existe desvantagem sistemática das mulheres em relação aos homens, e dos negros de ambos os sexos em relação aos brancos. Essa desvantagem é especialmente marcada no caso das mulheres negras.
Um estudo publicado recentemente pela Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher) comprovou que o salário da brasileira é, em média, 30% inferior ao do homem, chegando a 61% essa diferença, se a mulher for negra.
Das 500 maiores empresas brasileiras, 58% não possuem mulher na direção, sendo que apenas 9% dos cargos executivos são ocupados por mulheres, embora elas representem 35% do conjunto de funcionários. Em relação à mulher negra, nos deparamos com um quadro mais deplorável: somente 0,1% desses cargos têm mulheres negras.
Segundo o último censo, mais de 70% das domésticas são negras. Isso também evidencia o quanto a sociedade despreza este tipo de mão de obra.
A triste herança do tempo da escravidão, onde a mulher negra era vista como objeto sexual por seu senhor ou não passava apenas de uma serviçal, ainda existe. Naqueles tempos, estuprar uma mulher negra era considerado virilidade e não crime. Enquanto isso, as mulheres brancas eram protegidas e “guardadas”.
Hoje, apesar das recentes conquistas, a imagem de “mulata do Carnaval” ainda é explorada na mídia, como comprova a pesquisa. E se a mulher estiver fora dos padrões de beleza, é tratada com discriminação.
Ainda estamos longe de superar todas as diferenças históricas. Apesar dos índices baixos, a mulher negra está sim presente em diversos setores da sociedade. Os estudos sociológicos sobre o Brasil revelam que a sociedade foi constituída, essencialmente, com base no sistema escravocrata. No entanto, a escravidão não pode ser a única responsável pela discriminação racial, pela desigualdade racial e pelo racismo na sociedade brasileira. A consciência individual também tem o seu papel.
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Mulher negra ainda é vista como objeto sexual, diz pesquisa!