“Despejar” índios de suas terras é uma prática recorrente no Brasil desde que os primeiros portugueses pisaram por aqui, cinco séculos atrás. Mas as expulsões arbitrárias e os extermínios violentos raras vezes mobilizaram de fato a sociedade civil, mesmo quando questões indígenas se tornaram pauta de governos, fundações, ONG’s etc.
Um dos capítulos mais recentes dessa história, no entanto, envolvendo os Guarani-Kaiowás no Mato Grosso do Sul, alcançou uma repercussão quase inédita no país, em tempos de internet e redes sociais. O motivo principal foi uma carta divulgada no último mês pelos índios, na qual eles falavam em “morte coletiva” no caso de despejo de suas terras.
Pertencentes a uma tribo já conhecida pelas altas taxas de suicídio, eles pediam que, se fosse para tirá-los de lá, era melhor decretar de uma vez por todas sua dizimação e extinção total. A Justiça Federal acabou suspendendo a decisão liminar que obrigava a saída dos cerca de 170 índios de uma área da fazenda Cambará, mas ainda não há uma resolução definitiva para o problema.
Para além dos fatos concretos, das ordens judiciais e decisões políticas imediatas, parece estar por trás do caso dos Guarani-Kaiowás, como de tantos outros, uma antiga intolerância e incompreensão do pensamento indígena. “Há ainda uma insuperada distância mantida com relação às formas ameríndias de conhecer e habitar o mundo”, afirma Marta Rosa Amoroso, professora do Departamento de Antropologia da USP. (mais…)