Tania Pacheco
O título da matéria não era bem esse, na verdade. O publicado pela Agência Brasil foi “As obras de Belo Monte poderão ser retomadas amanhã”. E, sob ele, novo texto de Pedro Peduzzi, informando que isso se concretizará “caso o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), responsável pela execução das obras civis do empreendimento, avalie não haver riscos para a segurança de seus funcionários”. Quais os riscos para a segurança? Obviamente, os “atos de vandalismos ocorridos no fim de semana”, relatados ontem pelo mesmo repórter.
Ainda segundo ele, “Neste momento, o pool de seguradoras contratadas pelo CCBM está levantando os danos materiais nos três canteiros de obras que foram alvos dos ataques. Ainda não há estimativas sobre o prejuízo causado. O vandalismo ocorreu em meio à negociação entre representantes dos trabalhadores e empresa para renovação do acordo coletivo de trabalho, que tem data-base em novembro“ [grifo deste Blog]. E finaliza: “Atualmente, há cerca de 15 mil trabalhadores contratados para atuarem nas frentes de obra, 12 mil diretamente pelo CCBM. A expectativa é que o ápice de contratações aconteça em 2013, quando o empreendimento terá 23 mil trabalhadores” .
É claro que é a nossa concepção de mundo que determina como vemos o cenário à nossa volta. Para o autor da matéria, a ideia de 23 mil pessoas destruindo a região de Belo Monte é um “ápice de contratações”, enquanto que na revolta dos atuais 15 mil trabalhadores contra acordos lesivos aos seus interesses ele só enxerga vandalismo, saques, ataques e danos ao patrimônio empresarial do consórcio.
Pois para nós vandalismo é o que o chamado Consórcio Construtor e o Governo Federal estão fazendo com a Amazônia e com as populações originárias e tradicionais que lá vivem. Saque é o que madeireiras, garimpeiros e, agora, mineradoras transnacionais realizam em escala cada vez maior na região, abrindo chagas de destruição e contaminação. Quanto aos ataques e danos, eles de fato existem e ferem de forma abjeta e mortal o patrimônio imaterial da humanidade – quer na cultura, nas crenças e nas tradições que estão sendo destruídas, quer na naturalização com que a maioria da população urbana encara tudo isso, na sua vidiota e lastimável alienação.