De agosto a dezembro de 2012 a Associação Cultural Cachuera! realiza em São Paulo o projeto Grandes Temas – Edição Batuques. Uma vez por mês serão apresentados grupos de cultura popular tradicional que têm como eixo identitário modalidades de música-dança- poesia-teatro pertencentes à grande família dos Batuques de Terreiro afro-brasileiros.
Os Batuques constituem um dos Grandes Temas das Tradições Brasileiras de Música e Dança, modelo de classificação das formas de expressão performáticas brasileiras desenvolvida por pesquisadores da Associação Cultural Cachuera! nos últimos anos. O projeto objetiva aproximar esta vertente da cultura afro-brasileira do público paulistano, situando-a como essencial para a compreensão das raízes da música brasileira, e propiciar o encontro entre comunidades de diferentes pontos do Brasil.
Acupe (BA)
O Nego Fugido é uma tradição de Acupe, distrito de Santo Amaro da Purificação (BA), que relembra anualmente o período da escravidão na região do Recôncavo Baiano. Durante a festa as ruas dessa comunidade de pescadores, situada numa das maiores regiões escravocratas da Bahia, recebem os participantes com rostos pintados por pasta de carvão e a boca bem vermelha de tinta, encenando o processo de como se deu a aquisição da liberdade dos negros escravizados. Manifestações correlatas são o Lambe Sujo, de Laranjeiras (SE), e o Quilombo de Alagoas.
A apresentação retrata os personagens capitão do mato (que organiza a busca dos negros fugidos), caçadores (a mando do capitão do mato, são os responsáveis pela captura dos fujões), soldados (simbolizando a presença do Estado), a madrinha (representando a paz e aludindo à Princesa Isabel) e o rei (de Portugal, a quem se exige a carta de alforria), além dos escravos (que atualmente são representados por crianças e adolescentes).
Durante três finais de semana de julho o grupo apresenta-se em diferentes pontos da cidade de Acupe, sendo a última apresentação coroada pela encenação da revolta das negas (os escravos), a batalha e a captura do rei e de seus soldados. Sob a mira das armas dos revoltosos, o rei é obrigado a dar a liberdade aos negros. Uma outra versão da história é, assim, contada, colocando em foco o protagonismo dos escravizados no processo de abolição.
Ao final de cada apresentação, comandada pelo som dos atabaques e por cânticos com palavras em línguas africanas, os participantes e o público celebram dançando um gingado de Samba de Roda, o batuque de terreiro tipicamente baiano. Após a encenação, os moradores do distrito preparam uma grande feijoada para a comunidade com o dinheiro arrecadado durante a brincadeira (quando a população contribui ‘comprando’ os escravos).
No folguedo notamos uma interessante confluência de contribuições étnicas: elementos da cultura jeje-nagô originária da Nigéria e Benin, também caracteristicos dos candomblés (como o conjunto de três atabaques e seus padrões rítmicos, a movimentação do torso e dos braços na dança, as melodias pentatônicas e a presença de termos iorubá nos cânticos), junto a práticas da cultura banto Congo-Angola, como o Samba de Roda.
Há indícios de que esta tradição tenha surgido depois da libertação dos escravos, no final do século XIX, entre negros que viveram no período da escravidão e/ou seus descendentes. Ela passou por um período de quase desaparecimento entre as décadas de 70 e 80, mas a partir do final da década de 80 o Nego Fugido passou a ser reencenado anualmente.
Serviço:
19h – Samba de Roda Chula com o grupo Raízes de Acupe
*Também haverá apresentações do Nego Fugido no Parque da Luz, na Matilha Cultural e no Instituto Pombas Urbanas
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Compartilhada por Sandrah Guarani-Kaiowá.