Por Coletivo Oca Digital, Especial para Caros Amigos
A roda de conversa sobre Educação Indígena e Educação Escolar Indígena, na tarde de sexta-feira (28), no IV Seminário Internacional de História e Cultura Indígena Caboclo Índio Marcelino, na Aldeia Itapuã (Olivença, Sul da Bahia) foi marcada pela exigência de ensino diferenciado em escolas indígenas. Os educadores também exigiram o cumprimento da lei 11.465/03, que estabelece a inclusão da temática da história indígenas nas redes de ensino.
A professora de história Circe Bittencourt, aposentada da Universidade de São Paulo (USP), atualmente na PUC-SP, destacou que “ninguém melhor que escrever a história indígena que os próprios indígenas”. Circe começou a trabalhar com a questão indígena no começo da década de 1990, com os Terena, de Mato Grosso do Sul.
A professora lembrou as palavras de Florestan Fernandes no livro “Nota sobre a educação da sociedade Tupinambá”: “A escola do branco, do capitalista, é uma escola que prepara um aluno para ser um indivíduo consumidor dentro da sociedade capitalista e a escola indígena prepara as crianças para uma vida em comunidade”.
História Rica
Terezinha Marcis, professora da Universidade Estadual de Santa Cruz destaca que “a história indígena é muito rica. Simplificar a história indígena é um grande erro científico, acadêmico e um desserviço para a educação em geral”.
Uma das falas mais marcantes da roda de conversa foi a do educador indígena Edson Kayapó, professor-doutor do Instituto Federal da Bahia (IFBA), de Porto Seguro. Nascido em uma aldeia do Amapá, Edson foi estudar em um internato religioso com 12 anos de idade. Fez o ensino médio em outro internato, na cidade de Petrópolis (RJ), onde sofria preconceito por ser indígena. Ao concluir o ensino médio, sem opção, virou missionário na Zona da Mata de Minas Gerais. Em Belo Horizonte, graduou-se em História e percebeu que, ao longo de seu aprendizado na escola, desaprendeu a sua própria cultura.
Desaprendendo
“Fui fazer um trabalho de desfazer essa coisa”, afirma o Kayapó. Depois de graduado, voltou para o Amapá e se envolveu com movimentos na floresta. Começou a desenvolver um trabalho com educação indígena e com escolas de educação diferenciada.
“Esta é a trajetória dos povos indígenas em geral. Chegaram para impor diferentes formas de ser, que os índios têm uma organização inferior. A escola é um instrumento para emplacar esta ideia, impondo outras línguas, outra cultura, outra forma de vida, outro jeito de ser”, comenta Edson.
O educador indígena lembra que “a legislação internacional e nacional garante manifestação diferenciada, mas o estado atua de outra forma. O primeiro a quebrar o direito que ele próprio oficializou é o Estado. É importante fortalecer a educação diferenciada para ser uma prática e não apenas discurso”.
Efetivo Indígena
Na Bahia, desde janeiro de 2011, foi instituído o quadro efetivo indígena, que ainda não é cumprido. Na Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença (EEITO), que foi construída pelos próprios indígenas, por exemplo, 87% dos alunos são índios mas 75% do quadro de professores não são índios.
“Dentro da história da educação indígena, é o momento que a população indígena tem a oportunidade de assumir o papel de principal protagonista do ensino em suas escolas. A escola indígena é uma das frentes de luta”, argumenta a professora Terezinha Marcis.
A cobertura do Seminário foi realizado por indígenas que participaram de laboratórios de apropriação de Artes e Tecnologias promovido pela Oca Digital, realizado pela Thydêwá e Cardim Projetos e Soluções Integradas, com o Patrocínio da Telefonica/Vivo e do Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura da Bahia.
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Enviada por Pablo Matos Camargo.
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