O primeiro trecho da obra da transposição do Rio São Francisco, entregue em junho, ainda não começou a funcionar por falta de ponte e estação de bombeamento. Previsão para o recurso chegar aos moradores de Cabroró (PE) é só em 2014
Leandro Kleber
Mais de três meses depois da inauguração do primeiro trecho das obras de transposição do Rio São Francisco, executadas pelos militares no valor de R$ 121 milhões, nenhuma gota d”água do Velho Chico chegou aos moradores da região de Cabrobó (PE). Ninguém foi beneficiado pelo canal com pouco mais de dois quilômetros porque, até hoje, uma estação de bombeamento e uma ponte não estão prontas. A ponte, aliás, ainda nem começou a ser erguida, e a estação só deve ser concluída no fim de 2014, conforme explica o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo projeto de transposição no Nordeste.
“A ponte pertence ao Lote 1 das obras e está sob a responsabilidade do Consórcio Construtor Água de São Francisco, formado pelas empresas Serveng, SA Paulista e Carioca. A perspectiva é que as obras comecem ainda neste semestre”, afirma a pasta em nota. De acordo com o órgão, a estação de bombeamento é feita pela empresa Mendes Júnior que, procurada pela reportagem, não se manifestou sobre o assunto. Os empreendimentos, segundo a nota, estão em obras há seis meses e contam com mais de 400 pessoas trabalhando dia e noite para cumprir os prazos firmados.
Quem olha o canal construído pelos militares, com 8 a 14 metros de profundidade e 50 metros de largura, até consegue ver água. Mas se trata do reservatório dos lençóis freáticos e, eventualmente, da quantidade acumulada das chuvas. O trecho executado pelo 2º Batalhão de Engenharia de Construção é fundamental para todo o projeto porque é o canal de aproximação do Rio São Francisco no eixo norte — há também o eixo leste. Dali, da captação da água no rio, é que tudo começa até a primeira estação de bombeamento e a barragem de Tucutu, que possui uma extensão de quase 1,8 mil metros e altura de 22 metros — atualmente seca devido aos atrasos da ponte e da estação de bombeamento.
Cooperação
Ao inaugurar o empreendimento em 20 de junho deste ano, os militares se orgulhavam de terem sidos os primeiros a entregar um trecho de uma das principais obras do governo petista. A realização da etapa foi resultado de um termo de cooperação estabelecido entre o Exército Brasileiro, por intermédio do Departamento de Engenharia e Construção, e o Ministério da Integração Nacional. Os trabalhos tiveram início em maio de 2007. Na sua execução foi empregada uma força de trabalho que contou com o efetivo de 190 militares, 29 equipamentos, 25 viaturas e o apoio de 14 empresas civis em serviços que foram terceirizados.
O projeto de integração do São Francisco, incluído na lista de prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tem como objetivo assegurar oferta de água, em 2025 — quando ficará totalmente pronto —, a cerca de 12 milhões de pessoas residentes em 391 municípios do agreste e do sertão dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Serão mais de 600 quilômetros de canal em dois eixos: leste e norte. Apesar de ambicioso, os acréscimos no valor da obra, hoje orçada em R$ 8,2 bilhões, e nos prazos de entrega geram críticas de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU). De acordo com a Integração Nacional, hoje trabalham na construção dos canais, barragens, aquedutos e túneis mais de 4 mil pessoas.
Empreendimento
Início: primeiro semestre de 2007
Dividido em dois eixos
Leste: 220km de extensão
Norte: 402km de extensão
Investimentos previstos
2007: R$ 4,8 bilhões
2012: R$ 8,2 bilhões. Reajustes contratuais geraram aumento de 30%
Principais entraves
2007: Em 20 de julho , o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a imediata paralisação das obras. Segundo ele, a concessão da licença de instalação, que permite o início das obras, descumpriu condições estabelecidas na licença prévia, dada anteriormente.
2012: Em 28 de março, auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou superfaturamento de R$ 29 milhões em um dos trechos da obra, no Ceará, e mandou rever os custos do negócio.
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Enviada por Ruben Siqueira.