O índio José Arara, 65 anos, aponta o leito do rio, com pedras salientes e perigosas e diz, num tom de desabafo. “Tampando o rio, como é que nós vamos ficar? Não digo por mim, que já estou quebrado da idade, mas e os meus filhos, netos, sobrinhos?”. O velho índio Juruna, da aldeia Paquiçamba, teme o futuro que será imposto à aldeia com a barragem do rio Xingu. A reportagem é publicada pelo Diário do Pará.
Naquele trecho, o rio deve secar. Há descontentamento entre os índios em relação ao que pode vir a ser uma compensação pelo modo de vida interrompido com a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Para os índios, o consórcio Norte Energia, responsável pela obra, está falando “língua de branco”, ou seja, não confiável até agora.
“Prometeram muito e cumpriram pouco”, resume o cacique Manoel Juruna. “Mas, no fim, o que a gente sabe é que não tem dinheiro que compense a destruição que estão fazendo e vão fazer. Se por acaso a barragem sair e o rio secar, o peixe vai morrer”, diz. A aldeia Paquiçamba fica às margens do rio Xingu. E se o rio ainda não secou, algo já vem secando. O número de moradores da aldeia. Atualmente não chegam a 19 famílias, espalhadas em casas de madeira, alvenaria e palha.
A pesca tem se tornado mais difícil. “Quase não tem mais peixe”, reclama Jerciléia ‘“Labirininha”, encostando a canoa, junto ao filho pequeno, às margens do rio. Voltara de mãos vazias. Nenhum peixe, nenhum marisco, foi o resultado de uma tarde de pescaria. Jerciléia seria socorrida pela chegada de um grupo de índios jovens, que chegaram com mais de cinco tracajás. Ela recebe um para a janta. (mais…)
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