— Desde os anos 30 empresários da indústria sabiam de tudo — acusou a socióloga francesa e especialista em saúde no trabalho Annie Thébaub-Mony.
O uso do amianto já é proibido em 66 países, mas só foi banido em 2005 na União Europeia (UE), depois de um período de cinco anos de tolerância, apesar das evidências, acumuladas desde a década de 60, de que o produto é tóxico e cancerígeno. Só Grécia e Portugal usavam amianto quando a proibição foi adotada. A Noruega foi o primeiro país europeu a proibir, em 1984, o uso do mineral. Na França, o amianto é proibido desde 1997, mas processos judiciais se arrastam há anos, sem condenação.
— As primeiras queixas penais aconteceram em 1997, mas, 15 anos depois, nada aconteceu — disse Annie num debate na televisão franco-alemã Arte.
O advogado da Associação Francesa de Vítimas do Amianto (Andeva), Jean-Paul Teissonnière, que estava em Turim na defesa de famílias italianas, disse ao jornal “Le Monde”:
“O quadro é quase idêntico. Os procedimentos industriais da Eternit em Itália, Suíça, Bélgica e França são os mesmos, e o número de vítimas, equivalente. Mas na França, temos a impressão de um naufrágio da Justiça.”
Só na França, estima-se que 100 mil vão morrer até 2025
Para os críticos, a questão é política. A França, com a reputação manchada por um grande escândalo de sangue contaminado com o vírus da Aids, estaria tentando, segundo ativistas, evitar uma caça às bruxas: melhor deixar que indenizações encerrem o caso. Mas, após o julgamento de Turim, associações e sindicatos aumentaram a pressão pelos processos.
Estima-se que a França terá 100 mil mortos no período de 1995 a 2025. É que o amianto causa duas doenças: a asbestose, uma doença pulmonar progressiva que causa a morte por asfixia; e o mesotelioma, câncer da pleura, a membrana que envolve os pulmões, e que só se manifesta mais de 30 anos depois da exposição ao amianto. O alemão Bernd Eisenbach, da Federação Europeia de Trabalhadores na Construção e Madeira, acha que isso é só uma parte do problema:
— Não há somente as perdas do passado que envenenam nossas vidas 30 anos mais tarde. Temos que nos projetar e dizer a todos que há milhões de toneladas de amianto nas nossas construções — disse Eisenbach no debate da TV Arte.
Asbestose é considerada doença ocupacional na Alemanha desde 1933, enquanto o mesotelioma entrou para a mesma categoria em 1938. Mas Eisenbach se diz frustrado com a lentidão nos processos no país e a falta de condenação.
— As instituições responsáveis pela prevenção e indenização fizeram muito pouco para ajudar as vítimas.
A grande polêmica agora na França é outra. Algumas vítimas do amianto estão sendo obrigadas a devolver uma parte das indenizações, três anos depois do recebimento, devido a um erro nos cálculos. Nove vítimas foram condenadas no dia 1 de março a devolver uma parte da indenização pelo Tribunal de Apelação de Douai, com montantes variando entre 5 mil e 11 mil. Uma decisão que revoltou a associação de vítimas da França, Andeva.
— As vítimas sofrem uma segunda punição, da Justiça — protestou Pierre Pluto, presidente da Andeva.
http://extra.globo.com/noticias/rio/rio-20/amianto-processos-se-espalham-na-europa-4976447.html
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