O hibridismo do afro-butô

Com seu afro-butô, José Chalons conecta duas tradições da dança

Júlia Guimarães

Vem da Martinica, pequena ilha do Caribe de colonização francesa e maciça presença de africanos, o espetáculo solo “Passage”, que integra o festival Vivadança em Belo Horizonte. Em cartaz amanhã no Teatro Oi Futuro, a montagem realiza uma curiosa junção entre danças africanas e butô japonês, a partir das experiência do bailarino franco-martinicano José Chalons.

Seu solo atravessa várias etapas do ciclo de vida humana e trafega também pela morte e pela reencarnação, a partir da figura de um anjo. Chalons explica que, embora aparentemente essas duas danças tragam energias muito distintas, existem diversos pontos de conexão possíveis explorados no espetáculo.

“Temos uma imagem rígida sobre as danças africanas como sendo muito externas, mas elas podem também ser minimalistas, todas as danças iorubá, por exemplo, se aproximam de uma energia interior. E tanto na tradição africana quanto na do butô existe uma conexão muito forte com a natureza”, explica Chalons.

No espetáculo, o bailarino reveste o corpo de cal branco para afirmar uma simbologia que também remete às duas culturas. “O butô nasce nos anos 1960 como reação ao trauma vivido pelos japoneses com a bomba de Hiroshima. Eles queriam reintegrar sua cultura após a invasão norte-americana. Então o pó branco usado no butô representa as cinzas desse passado”, contextualiza. “Já em cerimônias africanas, as mães-de-santo te cobrem com cal para limpá-lo e conseguir com que você se aproxime das divindades”.

A relação com energias que vêm de elementos como os minerais, os vegetais e os animais é também explorada por Chalons. “Vivemos hoje num mundo muito material, então tento me aproximar da espiritualidade e da natureza através da dança”.

O solo “Passage” teve sua primeira versão em 1986 e recebe constantes recriações a cada vez que é apresentado. Integra o repertório da Tête Grainée Cie, encabeçada por Chalons, uma das poucas companhias de dança contemporânea da Martinica: são quatro, no total. Embora tenha nascido na França, Chalons foi morar na Martinica em sua juventude, por conta da origem de seus pais.

“Temos uma dificuldade geográfica de sair da ilha, pois ela é bastante isolada e a passagem tem um custo alto. Além disso, sinto que não há vontade por parte da França de desenvolver a criação artística na ilha”, critica.

Agenda

O Quê. Espetáculo “Passage”
Quando. Amanhã, às 21h
Onde. Teatro Oi Futuro Klauss Vianna (av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras)
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia)

http://www.otempo.com.br/entretenimento/ultimas/?IdNoticia=202281,OTE. Enviada por José Carlos.

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