Representantes de Roraima apontam propostas para a Conferência Rio+20

Diversos segmentos da sociedade de Roraima e de outros estados da Amazônia se reuniram, neste final de semana, no Seminário Estadual Preparatório para a Conferência Rio+20, com o tema “A Salvação do planeta esta na sabedoria Ancestral e na Mobilização dos Povos”, promovido pelo Comitê Roraima Rio+20. O evento ocorreu no sábado (27) e domingo (28) na Casa de Cura, em Boa Vista (RR), no trecho urbano sul da BR-174, sede do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

Representantes dos segmentos indígena, urbano, rural, mulheres e juventude debaterem propostas e consolidaram posições comuns que serão levadas como propostas para a Conferência Global Rio+20 e demais eventos paralelos que ocorrerão em junho, no Rio de Janeiro. Foram dois dias em que as lideranças mantiveram intenso diálogo com troca de ideias. O documento final está sendo elaborado neste domingo, depois que foi concluída a plenária com as diversas instituições de Roraima e de outros estados, que compõem o Comitê Roraima Rio+20, entre lideranças indígenas, membros de movimentos sociais, sindicatos e representantes de instituições governamentais.

No primeiro dia do Seminário Estadual Preparatório para a Rio+20, no sábado (28), começou a ser discutido que propostas os diversos segmentos sociais querem levar para o Rio de Janeiro, em junho. Povos indígenas, mulheres, jovens, trabalhadores rurais e urbanos encerram o documento final neste domingo (28), no início da noite. 

Um documento ainda não consolidado foi elaborado a partir das discussões que ocorreram até o momento, o qual permite ter uma visão de quais sãos as preocupações e propostas em relação a este momento crítico para a história da humanidade e do nosso planeta Terra. Veja o resumo:

Descrição do modelo de desenvolvimento atual

O atual modelo de desenvolvimento é de pressão sobre a natureza e não condiz com a realidade da maioria da população, além de violar os direitos e ser conivente com as violências contra os povos menos favorecidos. Muitas pessoas hoje passam fome no mundo por conta de um modelo de desenvolvimento que não é sustentável, que transforma os bens comuns da natureza e o próprio ser humano em mercadorias.

Hoje o desenvolvimento econômico do Brasil passa pela Amazônia e as consequências são pagas pelas pessoas que nela vivem. As políticas públicas para a Amazônia seguem a lógica do crescimento industrial e do agronegócio, consolidando uma grande aliança com as empresas transnacionais e as entidades financeiras multilaterais.

A pressão dos interesses econômicos sobre os recursos naturais busca um maior controle sobre os territórios, de modo que possam servir para os grandes empreendimentos o agronegócio, a produção de agrocombustíveis, energia e extração de minérios para exportação. As indústrias estão em crise e vão destruir ainda mais o meio ambiente.

É preciso inverter a lógica deste sistema. Toda a construção de alternativas deve passar necessariamente pela valorização do protagonismo local, fortalecendo o uso dos recursos pelas populações locais.

RIO+20: soluções falsas contrárias aos objetivos dos movimentos sociais

Faz 20 anos que a Organização das Nações Unidas (ONU) convocou a ECO 92 com as discussões sobre sustentabilidade, desertificação, mudanças do clima e biodiversidade. A pesar dos compromissos assumidos, não houve avanços nessas questões porque não mudou o modelo de produção e de consumo no mundo. A leitura da Carta da Terra hoje mostra que os problemas continuam os mesmos e os desafios não foram enfrentados.

Agora, em 2012, a ONU realiza uma nova Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como RIO+20, trazendo as mesmas soluções que já não deram resultados, dessa vez com o nome de economia verde. Esta proposta está baseada na exploração, centralização e concentração dos recursos naturais.

A criação de mecanismos de compensação para a preservação das florestas, como o REDD e pagamento de Serviços Ambientais, se apropria do trabalho dos pequenos agricultores e povos indígenas para justificar o modelo de expropriação capitalista. Estas falsas soluções não atendem às nossas necessidade e servem apenas aos interesses financeiros.

O Brasil, em especial a região amazônica, tem grande importância na manutenção do clima global, nas reservas de recursos naturais e na biodiversidade, por isso ocupa um lugar de destaque nas discussões da RIO+20. Porém, sob o foco da economia verde, ela está sendo tratada como um grande negócio para o “investimento verde”, tornando os Bens Comuns em mercadoria.

As bases para uma nova lógica

Nós, movimentos sociais, povos indígenas, mulheres, jovens, trabalhadores rurais e urbanos não somos pequenos. Temos experiências acumuladas suficientes para mostrar alternativas à idéia do crescimento a qualquer preço, sem limites. Nós somos guardiões da natureza e uma das principais estratégias de conservação. Mas não queremos ser considerados como aqueles que vão resolver os problemas de poluição e destruição gerados por outros, nossa preocupação é com a vida.

Sustentabilidade para nós é ter nossas terras, trabalho, proteção dos direitos e procurar o bem viver dentro dos nosso territórios, dando condições para que os jovens cresçam em um mundo onde participem ativamente de sua construção. É necessário colocar limites na concentração de rendas, terras, poder e uso dos recursos naturais.

Hoje estamos vivendo um momento de mudanças do comportamento e da consciência, e queremos construir um novo mundo baseado na sabedoria ancestral de na mobilização dos povos. Queremos propor alternativas concretas e reais para procurarmos juntos um outro modo de vida, de produção e de convívio com a Natureza.

Cúpula dos Povos e o Acampamento Terra Livre são
os espaços representativos dos movimentos sociais

Percebemos a Rio+20 como um espaço distante da sociedade que não considera seus verdadeiros problemas e apresenta apenas soluções para os problemas ambientais que não interfiram na estrutura de privilégios para uns poucos.

Consideramos a Cúpula dos Povos e o Acampamento Terra Livre como espaços legítimos para que os movimentos sociais busquem pontos comuns, construam convergências e apresentem suas alternativas, pressionando a Conferência oficial para que assuma compromissos com as transformações indispensáveis para garantir os direitos sociais e ambientais e a vida no planeta.

http://comiteroraimario20.blogspot.com.br/

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