Silvia Maria Valentim, Aldeia Córrego Grande
Entre os dias 14 a 21 de abril celebra-se a Semana dos Povos Indígenas, lembrando o dia 19 de abril, Dia Nacional do Índio. Em muitas comunidades, a Semana dos Povos Indígenas não será de festa, mas de luto e de luta, pois conforme visão de lideranças Indígenas, a semana não é de comemorações distorcidas que não vejam os desafios e problemas que estão por vir ou já chegaram.
Em Cuiabá, acontecerá uma Mobilização com representações de vários povos Indígenas e Quilombolas do Mato Grosso. Será um espaço para debate e encaminhamentos de temas relacionados aos direitos dos povos indígenas. O evento acontecerá na ADUFMAT (UFMT), na “Oca”, entre os dias 15 a 17 de abril de 2012.
Entre os temas a serem debatidos está a “PEC 215/2000 – Proposta de Emenda à Constituição que acrescenta o inciso XVIII ao art. 49; modifica o § 4º e acrescenta o § 8º ambos no art. 231, da Constituição Federal. Inclui dentre as competências exclusivas do Congresso Nacional a aprovação de demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios e a ratificação das demarcações já homologadas; estabelecendo que os critérios e procedimentos de demarcação sejam regulamentados por lei e PEC 38 que limita as terras indígenas”.
Os Boe Bororo, na Aldeia Córrego Grande, a pedido da comunidade e das lideranças indígenas, a semana dos Povos Indígenas inicia-se com celebração de missa presidida pelo bispo Dom Juventino Kestering, com o objetivo de celebrar a vida do Povo, a resistência e afirmação cultural ao longo destes anos de contato com a sociedade não Índia. O Povo Boe Bororo é uma realidade na História do Estado do Mato Grosso e continuará sendo.
“Enquanto existir o último Boe, a resistência pela vida e continuidade não cessará jamais”, afirma o professor Bororo Dario Brame.
Neste ano não haverá festas, jogos, brincadeiras e outras atividades de alegrias na Aldeia Córrego Grande, pois a comunidade vive neste momento os Ritos Fúnebres de uma anciã tradicional e chefe de cantos. Desde o dia 23/03/2012, a comunidade está de luto e por esse motivo serão adiadas as atividades previstas para quando terminar o período fúnebre, que ainda não se tem previsão de término. A família deve formalizar o convite ao bispo Dom Juventino Kestering para ir participar dos três últimos dias de funeral, pelo qual o povo tem grande estima e pelo respeito que este tem pela cultura Boe Bororo.
Todos os anos, os Boe Bororo, por ocasião da semana dos Povos Indígenas, costumam ir à cidade de Rondonópolis a convite de diretores de escolas da cidade, como oportunidade de apresentações de seus rituais tradicionais, suas culturas e falar de suas histórias. Nestas ocasiões, conforme afirmam os índios, muitos jovens sentem medo pois recebem informações distorcidas da vida do Povo. Os índios Boe são acolhedores, simples e compreensíveis.
Um grupo de Boe Bororo está se articulando e se organizando para fazer parte da Mobilização do Movimento Indígena e Quilombolas em conjunto com outros parentes, que acontecerá em Cuiabá por ocasião da Semana dos Povos Indígenas. Será um momento importante de encontro para discutir e encaminhar documentos conjuntos sobre assuntos sociais e de interesses comuns à todas as etnias. Foi convidada a missionária da aldeia, Silvia Maria Valentim Pinheiro, para acompanhar o grupo para o encontro.
E para pensar
Um provérbio indígena diz que “somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio é que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro”. “O Povo Boe Bororo ainda vive”, gritam os indígenas.