Pós-1964: “milagre” e modernização fugaz

Capitalismo e pobreza: regime autoritário semeou desenvolvimento industrial achatando salários e favorecendo grandes grupos econômicos. Colheu crise social que provocaria sua própria queda 

Por Flavio Lyra*

Tive oportunidade de salientar, na primeira parte deste texto, que o julgamento de um acontecimento histórico não se destina nem a penalizar os que erraram, nem a recompensar os que sofreram as consequências, mas a trazer luz aos fatos, de modo a que possam servir de lição para o futuro.

Os grandes desafios que o Brasil tem pela frente não tornam convenientes, nem revanchismos dos que foram prejudicados, nem a defesa intransigente das ações adotadas no passado e responsáveis por tais prejuízos. O fundamental é saber o que favoreceu e o que prejudicou o avanço do processo de desenvolvimento e o bem-estar da população e, quando necessário, apagar as manchas que ainda ofuscam nossa imagem de país democrático. (mais…)

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A história do racismo no futebol brasileiro

O Negro no Futebol Brasileiro, de Mario Filho, 342 pp., Editora Mauad X, 1947.

Por Julio Ribeiro Xavier*

Em tempo de Copa do Mundo, tendo o Brasil como país-sede em 2014, é sempre bom lembrar a trajetória da nossa “paixão nacional”. E ninguém melhor do que o jornalista e escritor Mario Filho para abordar o assunto. Mario Filho nasceu em Pernambuco, viveu no Rio e trabalhou nos jornais A ManhãA Crítica e O Globo. Depois dirigiu o Jornal dos Sports até a sua morte, em 1966. A prática de racismo no futebol não é uma novidade no Brasil. Mario Filho tratou do assunto em 1947. Com O Negro no Futebol Brasileiro, livro publicado em 1947, o jornalista abordou um assunto incômodo para a época: o lento e doloroso ingresso de negros e mulatos no futebol brasileiro. Afinal de contas, até pouco tempo, nossa sociedade pregava aqui e no exterior que a nossa democracia racial era um exemplo para o mundo de convivência harmoniosa entre negros e brancos.

Nos primórdios, no nosso “esporte nacional”, ainda não era comum jogar banana ou xingar um jogador negro de “macaco” nos campos de futebol. Naquela época, futebol era coisa de branco e rico. Introduzido no Brasil pelos ingleses que aqui chegaram, no futebol não se admitia mulato ou negro nos campos, e nas aquibancadas eram raridade. Era o Brasil onde o futebol tinha um sentido aristocrático. Era “coisa de bacana”. (mais…)

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Zonas de exclusão: como a Fifa quer proibir camelôs na Copa

Documento mapeia situação dos vendedores ambulantes no país e mostra que eles já são afetados pelos preparativos para o mundial de futebol

Por Andrea Dip, em A Publica

Durante as Olimpíadas de 1988 em Seul, os vendedores ambulantes foram removidos das ruas principais e colocados atrás de paredes e becos, como parte do processo de higienização da cidade. Nas Olimpíadas de 1992, em Barcelona, o comércio de rua foi completamente proibido*. Na África do Sul, o estatuto da Fifa vetou o comércio informal perto de edifícios públicos, igrejas, caixas eletrônicos e das áreas oficiais de exclusão da Fifa – ou “áreas de restrição comercial” como preferem chamar – que, diferentemente do que se pensa, não se restringe apenas ao entorno dos estádios mas também aos locais de eventos oficiais da Fifa (que incluem as fan parks, grandes festas de torcedores geralmente montadas nos centros das cidades ou em praias), centros de credenciamento, áreas oficiais de treinamento, hotéis onde as delegações dos países e as equipes da Fifa estão hospedadas, dentre outros. Na África, qualquer comércio não autorizado era proibido em um raio de 100 metros destes locais (2 km no caso dos estádios). Também foi expressamente proibido o uso de uma lista interminável de termos relacionados à Copa, Fifa e futebol, como a Pública mostrou no documentário “Trade Mark 2010”, do jornalista Rudi Boon.  (mais…)

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Indígena amazonense estreia em Medicina e na telona

Adana Kambeba tem muito orgulho de suas raízes indígenas. É pesquisadora, compositora e cantora dos costumes de seu povo, o Kambeba (Omágua). Apesar disso, não se esquiva de sua outra identidade, a “brasileira”, que está registrada na certidão em português como Danielle Soprano Pereira. Na vida dela, essa mistura não é apenas formal. É uma “missão”.

A jovem nascida na área rural de Manaus cresceu em contato com a cidade. Sente-se uma intermediária para seu povo. Por isso, tomou a corajosa decisão de morar a quase 4 mil quilômetros de casa. Adana, ou Danielle, é a primeira indígena do Amazonas a ingressar no curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A amazonense pretende estudar a medicina “ocidental”, como chama, para unir a prática desses conhecimentos aos da medicina tradicional do povo Kambeba. Adana quer estudar a possibilidade de unir a visão de cura de seu povo, que envolve o uso de plantas e presenças espirituais, e a ciência ocidental.

“Nem sempre os agentes de saúde sabem lidar com a prática dos indígenas. Às vezes, impõem sua medicina, o que soa até como desrespeito, atropelando detalhes e valores próprios da cultura ou o Pajé. Por isso, é importante que o indígena estude e se capacite, se prepare para trabalhar no meio do povo. Hoje, as lideranças indígenas querem que nós, jovens, estudemos porque querem indígena cuidando de indígena”, afirma. (mais…)

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De quem é a terra na Bolívia?

O delicado problema de conflitos fundiários e de territórios, que por tantos anos foi ignorado, começa a ser discutido no país

Por Lídia Amorim, na Revista Forum

Todos os dias, antes que o sol saia no horizonte, Octavio Yauquirena se levanta para trabalhar. A divisão de trabalho na comunidade onde vive se dá de acordo com o que o coletivo decide, distribuindo-se tarefas como caçar, pescar, cuidar das árvores de cacau silvestre, plantar, colher, limpar terreno. Octavio é indígena guarayo, e vive na comunidade de Urubichá. A poucos quilômetros dali está o que antes era a fazenda de Laguna Coração e agora é uma comunidade campesina. No local, vive Ceferino Cuentas. Quando a fazenda foi expropriada, ele veio com sua família de La Paz, e hoje tem seu pequeno pedaço de terra onde planta produtos orgânicos em sistemas diversificados. E, ao lado do grupo de camponeses, separados apenas por uma pequena estrada de chão, está uma grande propriedade de soja. (mais…)

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Agricultor referência em convivência com o semiárido tem propriedade impactada pela seca

No Sítio Barra, a cerca de 40 Km da sede do município de Remanso-BA, vive a família de João Cícero Justiniano Souza, conhecido por Cícero da Barra. A experiência do agricultor em criar alternativas de convivência com o semiárido é referência em intercâmbios entre pessoas de diferentes comunidades, estados e até países. A propriedade da família possui infraestruturas para captação e armazenamento de água que vão de cisternas e barreiros à Mandala, que é um sistema integrado de produção, onde tudo acontece a partir de um reservatório de água de forma arredondada, com capacidade para 16 mil litros. A plantação dos canteiros e fruteiras é feita ao redor desse reservatório.

Cícero conta que, no entanto, a propriedade e sua produção estão sendo duramente impactadas pela seca que tem atingido à Bahia nos últimos meses. “Há 10 anos nossos barreiros não secam e este ano eles já estão sem água. Nossas cisternas de produção e de consumo da família estão secas. A mandala também está quase secando. Os animais estão bebendo água salobra de uma cafunda, que também está acabando. Na vizinhança, os animais ficam três, quatro dias com sede. Não sabemos o que fazer sem a chuva para juntar água. Tudo se acaba. É muito triste.”, lamenta. (mais…)

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Memórias quilombolas no CurtaDoc

Mahomed Bamba, professor de cinema da Universidade Federal da Bahia, é o convidado especial que comenta os curtas

“Rastros do Quilombo”, episódio do CurtaDoc que estreia no SescTV nesta terça-feira, 10, às 21h, faz um resgate da cultura quilombola, através das memórias de descendentes de escravos. Em cartaz, os documentários “Charqueada, Vida salgada no tempo” (2003), de Waltuir Alves, “Vissungo – Fragmentos da tradição oral” (2009), de Cássio Gusson e “Morre Congo, fica Congo” (2001), de Délcio Teobaldo.

Mahomed Bamba, professor de cinema da Universidade Federal da Bahia, é o convidado especial que fala sobre o tema e comenta os curtas. Para ele “os quilombolas são o registro dessa memória que alguns acham estar perdida”. O programa é uma realização da produtora Contraponto e conta com reapresentações na quarta-feira, à 1h e às 15h; quinta às 9h; sábado às 22h; e domingo às 19h.

http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=1&n=26593

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Código Florestal: a “linha dura” ruralista quer briga

Revelado relatório que irá a voto na Câmara dos Deputados. Documento radicaliza normas favoráveis à devastação e anula mesmo tímidas medidas de preservação alcançadas no Senado 

Por Raul Silva Telles do Valle, no Instituto SocioAmbiental

Vazou” o relatório preliminar que o deputado Paulo Piau (PMDB-MG) elaborou para orientar a apreciação final do Código Florestal na Câmara. Como vem se tornando praxe na já senil democracia brasileira, ele continua um texto secreto, e só virá a público, provavelmente, na hora da votação, justamente como ocorreu no primeiro round da Câmara, em maio de 2011. Por enquanto, está sob análise dos líderes partidários e da Confederação Nacional de Agricultura (CNA). Desrespeitamos a regra de “não transparência”, no entanto, e disponibilizamos o documento aqui para o público em geral. (mais…)

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Um “Xingu” comportado demais

Embora belo e didático, filme não explora cosmologias e formas de viver-pensar indígenas — nem a sideração de “tornar-se outro”, presente em “Avatar”

Por Ivana Bentes*

Fui ver “Xingu”, na estreia no Roxy, e é muito fácil embarcar no filme: didático, belo, comportado. E fiquei pensando o que Herzog faria com essa história, com um potencial tão disruptivo e perturbador! Eu queria ver outro filme, e definitivamente “Xingu” não é sobre os “indios”, mas sobre a relação dos brancos com um mundo que precisam neutralizar e que é, de certa forma, insuportável. (mais…)

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