Prezados (as) autoridades federais,
Eu, Tonico Benites, vim por meio desta mensagem comunicar a todas autoridades federais que hoje de manhã, sexta-feira [06/04/2012], às 10h20, na estrada pública em frente da aldeia Pirajuí-Paranhos-MS, um homem não índio, com dois revólveres na mão, cercou a estrada e me mandou parar o carro, pedindo para eu descer dele.
Diante disso, eu falei para minha esposa, que estava junto comigo, além da crianças: “É hoje que pistoleiro vai me matar; eu vou descer. Você desce e pega a chave do carro e as crianças, e vai correndo avisar as lideranças da aldeia Pirajui”.
Ela começou a chorar com as crianças. Abri a porta e desci. O homem começou me pedir documento pessoal e do carro; passou a me interrogar. Entreguei a ele os documentos, ele olhou meu documento e falou: “Hã! você é o Tonico Benites né!?, o que veio fazer por aqui!, conta? Hoje vamos conversar seriamente!”
Respondi: “Sim, eu mesmo. Vim visitar a família da esposa e parentadas aqui na aldeia Pirajui e Potrero Guasu”. Ele falou: “É só isso??” Respondi que sim. Comecei a entrar em estado de raiva, medo e desespero, e perguntei o que pretendia fazer comigo e a mando de quem? Ele riu e disse: “Você é inteligente, né? Que bom!?”.
Enquanto isso, a minha esposa gestante de 7 meses e as crianças irmãzinhas dela começaram a chorar dentro do carro. O homem, ao ouvir o choro, falou-me naturalmente: “Você tem filhos e esposa, né? Gosta dela e de teus filhos? hein?! fala?” Respondi que sim.
Então ele passou me ameaçar: “Você vai perder tudo, ela que você ama e filhos que gosta, vai perder. Vai perder carro. Vai perder dinheiro. Tudo você vai perder. Você quer perder tudo? Você quer perder tudo?”, ele repetiu várias vezes essas pergunta. Respondi: “Não! Não! Não!”
Já tinham passado mais de 20 minutos e a chuva estava chegando. “Você tem dinheiro?” Passou a me pedir a carteira do bolso. Entreguei a ele. “Hã! você tem sim! E vai começar a perder.” E pegou tudo o que eu tinha na carteira. Pediu-me várias vezes para não voltar mais àquela aldeia e região. “Se você promete que nunca mais vai volta por aqui vou soltar você vivo. Respondi: “Sim, sim!”.
Ele falou: “Não estou não sozinho não; somos muitos. Aqui estamos só quatro. Tá vendo?”, indicando o matinho. “Você não está fazendo o trabalho que presta, sabia não?”, referindo-se à ocupação da terra e pesquisa antropológica. Ele sabe tudo sobre mim e meu trabalho. Fala bem língua guarani.
Depois se apresentou dizendo que ele é polícia do Paraguai. A vestimenta dele é similar a traje da polícia da Força Nacional. Pediu para eu não contar para autoridade, não! Só assim me soltaria vivo e nem levaria o carro, e nem machucaria minha esposa e crianças. Prometi que não contaria para ninguém.
Mais ou menos por 40 minutos, ele me falou: “Vai embora daqui! Nunca mais quero ver você por aqui.” Respondi que sim!, se me soltasse, eu não voltaria àquela aldeia. Por último, disse: “Vou ficar de olho em você, hein?!
Assim me liberou. Não me machucou fisicamente, mas verbalmente sim; psicologicamente saí traumatizado, tremendo, muito medo. Às 10h45 fui direto à casa da liderança indígena da aldeia Pirajuí. Contei-lhe e ele ligou para a delegacia de Polícia Civil, em Paranhos, mas ninguém atendeu. Achamos que por conta do feriados.
Imeditamente, as comunidades de Pirajuí se juntaram, querendo saber do acontecimento. Contei a todos o fato ocorrido. O Otoniel já se encontrava no interior da aldeia Pirajuí, e Eliseu já estava em Ypo’i. Minha esposa ficou muito mal, pediu para retornar a Dourados. Por isso, pedi às lideranças para me escoltar até a cidade de Paranhos. Eles me escoltaram com várias motos, deixando-me na cidade em Paranhos-MS. Retornei a Dourados, chegando lá às 20h30, e passei a escrever o fato ocorrido comigo hoje.
A liderança da aldeia Pirajuí me pediu para retornar segunda-feira para registrar queixa na Polícia Civil. Mas sozinho não quero voltar para lá, não. Preciso fazer algo mais diante disso. O Otoniel e o Eliseu se encontram na região de Paranhos-MS.
Tonico
(via Jorge Eremites de Oliveira, no Facebook).
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=357584834288199&set=a.141287282584623.24195.100001100560243&type=1&theater
Infelizmente nossas verdadeiras lidernaças são ameaçadas dessa forma por esses assassinos, criminosos que semprem invadiram e tomaram as nossas terras e mataram nossa gente.São indivíduos da pior qualidade. Temos que ter coragem e muita fé.Muito cuidado também, porque eles matam e fica por isso mesmo. Não temos justiça!
Mais um episódio lamentável num estado marcado pela violência, intimidação e impunidade. Esperamos que, com o apoio das comunidades indígenas locais, suas lideranças e também das associações de cientistas sociais, esse quadro possa ser divulgado e revertido.