O Manifesto foi traduzido e enviado por Danilo de Assis Clímaco, que vem colaborando com este Blog, principalmente no acompanhamento dos acontecimentos ligados ao projeto Minas Conga. A nota anterior a ele, que situa o estado atual do conflito, também é de autoria de Danilo, a quem agradecemos pela colaboração. TP.
Observação sobre o contexto imediato: dentro do conflito causado pela imposição do projeto Minas Conga na província de Celendín, Cajamarca, os próximos dias serão de excepcional tensão, pois: (a) um conjunto de especialistas associados às empresas mineiras internacionais foi contratado para dar um veredicto supostamente definitivo sobre a viabilidade ou não de Minas Conga, que será com toda certeza, dada a parcialidade dos especialistas, favorável ao projeto; (b) há poucas semanas especialistas contratados pelos movimentos sociais declararam inviável o projeto; (c) o movimento anti-Conga, unificado, declarou entre outras medidas, a vigilância constante das lagoas ameaçadas pelo projeto e jornadas de reflexão e de paralisação para, respectivamente, os dias 9 e 11 de abril; e (d) frente à impossibilidade de prosseguir o projeto sem o uso da violência, o governo central está progressivamente mobilizando tropas na região de Cajamarca.
O Manifesto abaixo, de Edy Benavides Ruiz, presidente da Frente de Defesa dos Interesses, Direitos e Ambiente de Haalgayoc-Bambamarca, zonas vizinhas a Celendín que serão diretamente afetadas por Minas Conga, é um exemplo pontual da invasão das tropas que acontece em várias outras zonas de resistência. (DAC).
FRENTE DE DEFENSA DOS INTERESSES, DIREITOS E AMBIENTE,
PROVINCIA DE HUALGAYOC – BAMBAMARCA – CAJAMARCA
FREDIDAP H-BCA.
PRONUNCIAMIENTO
À opinião pública, Frentes de Defesa, Rondas Campesinas (Polícias comunitárias), Governo Regional, Defensoria do Povo, Ministério Público, Congresso da República, organizações e instituições do âmbito local, regional, nacional e internacional, fazemos público e denunciamos o seguinte:
PRIMEIRO: A província de Hualgayoc Bambamarca, especificamente o distrito de Bambamarca, é considerada como O SEGUNDO BERÇO DAS GLORIOSAS RONDAS CAMPONESAS (POLÍCIAS COMUNITÁRIAS), cuja organização conseguiu ter justiça, paz social, erradicação do roubo de gado no campo e neutralização do terrorismo (nos anos 80-90).
SEGUNDO: Somos uma província com uma bendição e uma maldição. A bendição é que temos água para todos nossos solos territoriais, a maldição é que as Empresas Mineiras contaminaram e continuam contaminando nossos rios importantes: Tingo Maygasbamba, Arascorgue e parte do Llaucano. Sobra-nos o Rio Pomagón e parte do Llaucano. Hoje querem nos impor um Projeto Mineiro, Minas Conga, que vai secar 600 mananciais de água, lagoas importantes como a Azul e a Perol, bofedais[1], colchões aqüíferos e as lagoas, principalmente a Mamacocha, de onde nascem nosso Rio Pomagón (o único ainda não contaminado).
TERCEIRO: Denunciamos a presença de Efetivos Militares do Exército Peruano em nossa cidade de Bambamarca, porque nosso povo é lutador e pacífico, estamos indignados por tal ação realizada pelo governo central. As forças armadas são para velar por nossa segurança por nosso bem-estar como cidadãs e cidadãos, para a vigilância de nossa soberania nacional e não para brindar segurança a projetos mineiros inviáveis de empresas transnacionais.
QUARTO: Não aceitamos militarização em nossa zona, não há razão justificável para tal; em nossa luta demonstramos unidade, coragem, firmeza, capacidade, inteligência e reprovamos todo tipo de violência, pelo qual pedimos que seja feita a gestão necessária para que no prazo mais breve possível sejam retirados os militares, para evitar provocações e possíveis enfrentamentos, porque nossas ações de lutas programadas seguirão seu curso com normalidade.
QUINTO: Caso não seja respeitado nosso pedido, responsabilizamos o governo central do que possa passar pela militarização de nosso povo, pois somos fiéis defensores de nossas lagoas, rios, bofedais, mananciais, colchões aqüíferos, recursos hídricos e meio ambiente, tendo a razão técnica-científica, assim como a legal. Por tanto, nossa luta é justa, esperamos somente uma resposta do governo, a de ratificar a posição do povo: CONGA NAO VAI, NEM HOJE NEM NUNCA.
SEXTO: Com militarização ou sem militarização, nossa luta continua firme até conseguir que o projeto mineiro Minas Conga seja declarado inviável. Como guardiães das lagoas, estamos preparados para nos cuidá-las, pedimos a todas as províncias de nossa Região Cajamarca, assim como às regiões de nosso país, que estejam atentas a nosso chamado para, juntas, seguir nossa luta social justa. É agora ou nunca, o futuro de nossos povos está em nossas mãos, a defesa da água é a defesa de nossa vida.
VIVA A LUTA JUSTA DO POVO CAJAMARQUINO!!!
VIVA A ÁGUA, NOSSAS LAGOAS E O MEIO AMIENTE!!!
O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO!!!
Bambamarca, 06 de abril de 2012.
Lic. Edy Benavides Ruiz
Presidente do FREDIDAP Hualgayoc-Bambamarca