Nasce índio de número 1.500 da etnia Waimiri-Atroari

Chegada da índia Ketamyna Atroari é comemorada pelo povo que quase foi dizimado. Acontecimento será festejado com ‘Maryba’

Em 2003, os waimiri-atroari festejaram o nascimento do milésimo bebê, Iawyraky, que hoje está com oito anos. Na ocasião foi realizado o ‘Maryba’
Em 2003, os Waimiri-Atroari festejaram o nascimento do milésimo bebê, Iawyraky, que hoje está com oito anos. Na ocasião foi realizado o ‘Maryba’ (Euzivaldo Queiroz )

Gerson Severo Dantas

Os Waimiri-Atroari, povo indígena que quase foi dizimado na época da abertura da estrada BR-174 (Manaus – Boa Vista), fará uma grande “Maryba” amazônico para festejar o nascimento do milésimo quingentesimo (1.500º) indivíduo da etnia.

A índia Ketamyna Atroari nasceu na aldeia Paryry, localizada em algum lugar entre o Amazonas e Roraima, no dia 4 de novembro. Com 4 quilos e 49 centímetros ela é mais um marco no renascimento do povo que em 1988 somava apenas 374 indivíduos e convivia com 20% de taxa de mortalidade anual e tinha extinção prevista para os anos 90.

O nascimento de Ketamyna foi comunicado na última semana pela Eletrobras, que opera junto com a Fundação Nacional do Índio (Funai) o Programa Waimiri-Atroari (PWA), apontado como estratégico para o renascimento do povo, que sofreu o impacto de três grandes projetos econômicos implantados no território deles: a BR-174, a Usina Hidrelétrica de Balbina e a exploração da Mina de Pitinga, ambos no Município de Presidente Figueiredo.

Projetada durante a ditadura militar (1964-1985), a abertura da BR-174 quase reduz a zero os Waimiris-Atroari, que reagiram a invasão das máquinas e dos militares do 6º Batalhão de Engenharia de Construção (6º BEC).

Do período de construção é famoso o episódio do massacre da expedição do padre Caleri, cuja autoria é atribuída aos índios por uns e aos próprios militares por outros.

O certo é que após esse episódio, que resultou na morte do padre, considerado até então um amigo dos índios, e mais dez pessoas, os militares encararam a construção como um esforço de guerra e não economizaram no uso da força contra os índios.

PRIMEIRO GOLPE

Com a estrada aberta veio o segundo golpe com a construção de Balbina, cuja formação do lago estende-se desde antes da sede de Presidente Figueiredo, no Km 107, até o território indígena no Amazonas, que começa no Km 200, aproximadamente. No total, o lago inundou mais de 30 mil hectares das terras waimiri-atroari.

Estrada

O último golpe veio com a construção de uma estrada ligando a BR-174 à sede do projeto de Pitinga, no meio da floresta. Por essa estrada era escoada toda a produção de bauxita e cassiteria da mina, que está fechada, mas com reabertura prevista para o início do próximo ano.

Etnia está aumentando rapidamente

O nascimento de Ketamyna Atroari, o 1.500º indivíduo da etnia, acontece apenas oito anos após o nascimento de Iawyraky, o milésimo Waimiri-Atroari, em 2003 na aldeia Iawara.

Na época, todos os Waimiri-Atroari participaram do “Maryba” (pronuncia-se marubá), um ritual onde cantaram e dançaram por três dias. Um novo “Maryba” em honra de Ketamy está sendo preparado para os próximos dias.

Filho de Anapidene e Ketamy, o milésimo Waimiri-Atroari completou oito anos em setembro deste ano e deve estar presente, conforme expectativa da Eletrobras, no “Maryba” de Ketamy.

Em 2003, destacando o nascimento de Iawyraky, o cacique Mário Pawere saudou a todos que participaram dos três dias de festa com uma frase que se confirma com o nascimento da nova indiazinha: “Digam ao mundo que vivemos!”.

Virada da etnia iniciou em 1986

A virada dos Waimiri-Atroari começou em 1986, quando a criação do PWA foi negociada como compensação pela inundação. Com os recursos do programa pagos pela Eletrobras, os indígenas ganharam novo fôlego e passaram a ter atenção em áreas como saúde e educação.

De acordo com a Eletrobras, hoje existem 19 postos de saúde e oito laboratórios nas aldeias, que são atendidas por uma médica, enfermeiras, odontólogas, 18 agentes de saúde, motorista, e ainda 39 agentes técnicos de saúde e 12 laboratoristas indígenas.

A empresa ressalta que no início do programa todos os profissionais de saúde eram “brancos”, mas com o passar dos anos os índios passaram a assumir estes serviços.

O mesmo fenômeno repetiu-se na área de educação. São 19 escolas tocadas por 54 professores waimiri-atroari e sete não-índios que auxiliam em disciplinas como ciências, geografia e matemática.

Educação e saúde realizadas por profissionais indígenas e o bom uso dos recursos do programa, que é decidido coletivamente, são o segredo para o renascimento dos Waimiri-Atroari que, diferente de outras etnias, vivem em suas terras sem influência de organizações não-governamentais ou missões religiosas.

http://acritica.uol.com.br/amazonia/Nasce-indio-etnia-Waimiri-Atroari_0_590940948.html

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