“Povo no Poder” – Um rapper por Moçambique / Trilha sonora para o despertar de um povo

Em letras de enorme sucesso, e num estilo que lembra o dos “Racionais”, o africano Azagaia denuncia injustiça social e misérias políticas de seu país

O rapper Azagaia, 27 anos, faz história na música de Moçambique. Nascido na Vila de Namaacha, filho de uma moçambicana e de um cabo verdeano, Azagia vai para Maputo, capital da província, aos 10 anos de idade. Foi lá que concluiu o ensino médio e entrou na universidade e na música, fazendo parte do grupo Dinastia Bantu. Na mesma época conheceu o movimento humanista. Iniciava-se aí, a carreira de um rapper ativista no sul do continente africano.

Sua música assemelha-se muito com o rap brasileiro da década de 90, quando grupos como Racionais MC’s, RZO e Thayde e Dj Hum (entre outros) denunciavam o que acontecia em suas comunidades. Apesar de muita semelhança, Azagaia tem uma visão mais abrangente e política sobre o contexto nacional e internacional que circunscreve o cotidiano de seu país.

Batizado como Edson da Luz, Azagaia iniciou a sua carreira musical no Hip Hop em 2006. No ano posterior ingressou na gravadora Cotonete Records e lançou o álbum Babalaze, polêmico por conta da música “As mentiras da verdade”. Nela, o rapper coloca em questão alguns acontecimentos históricos que influenciaram a trajetória do país. Por exemplo, a controversa morte do ex-presidente Samora Machel. Líder revolucionário de inspiração socialista, que liderou a guerra da Independência e se tornou o seu primeiro presidente de Moçambique, ele morreu num acidente de avião em 1986. Para Azagaia, foi um assassinato. Tratava-se de uma crítica que há muito não se ouvia e que gerou debates em diversas camadas sociais e econômicas do país. Babalaze mostrou quem de fato era o rapper.

Diante a abordagem da música As mentiras da verdade, as próximas canções eram esperadas com ansiedade pela juventude moçambicana. Azagaia continuou a apontar suas rimas em direção ao governo. A Marcha surge com uma abordagem fortemente crítica e bateu recordes de vendas. Em dezembro de 2007 e de 2008, Azagaia lançou os sons Obrigado Pai Natal e Obrigado de Novo Pai Natal, onde ele faz uma retrospectiva dos principais acontecimentos do ano no país, segundo seu ponto de vista. Em 2009, lançou o vídeo Combatentes da Fortuna. Sobre esta música, o rapper diz ter se inspirado na crise do Zimbabwe. No ano de 2010 lançou a música Arri, que retrata um escândalo de tráfico de drogas em Moçambique, bem como outros casos de fuga ao fisco e assassinatos.

Atualmente, Azagaia desvinculou-se da gravadora – Cotonete Records — e se assume como musico independente. Para 2011, está previsto o lançamento do seu álbum intitulado Cubaliwa (significa “nascimento” na língua do Centro e Norte do país- Sena).

Trilha sonora para o despertar de um povo

Em primeiro de setembro de 2010, aconteceu na cidade de Maputo, capital de Moçambique, um protesto que envolveu grande parte da população. O fato sucedeu porque o governo havia anunciado o aumento nos preços de produtos de primeira necessidade: pão (essencial na dieta local), eletricidade, combustível, água e transporte. Mensagens por celulares convocaram manifestantes para interromperem com barricadas as estradas e as ruas. Veículos atravessados no meio das vias e pneus incendiados, fizeram com que o município permanecesse incomunicável. O transporte público parou, comerciantes baixaram as portas, postos de gasolina, padarias e mercados foram saqueados. Pedras e outros objetos foram lançados em direção a policia que disparava contra o povo sem pudor, porém população estava disposta a continuar, caso o governo prosseguisse com o decreto.

Os jornalistas de emissoras públicas foram orientados a não cobrir as manifestações. Além das agências de notícias, foram poucos os meios de comunicação, inclusive internacionais, que divulgaram o despertar da população. Na ocasião o ministro do interior, Jose Pacheco classificou os manifestantes como “aventureiros, bandidos e malfeitores”, e pediu ponderação por parte deles. Nos bairros periféricos registraram-se os confrontos mais violentos. Segundo estatísticas oficiais foram 13 mortos e mais de 500 feridos.

Esta manifestação popular resultou na música Povo no Poder.

http://rede.outraspalavras.net/pontodecultura/2011/11/09/um-rapper-por-macambique/

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