Socializando…

No dia 6 de junho publicamos uma notícia dizendo que o Rio de Janeiro passaria a adotar cotas para negros e índios em concursos públicos. Hoje ela recebeu um comentário feito por alguém chamado José Marcos. Como os comentários são públicos, entendo que há uma permissão intrínseca para eventualmente darmos destaque a eles, socializando-os. Aí vai, pois, o texto de José Marcos, que sem dúvida vale ler. TP.

“Não sei qual o absurdo dessa lei. Nós brancos sempre tivemos reserva de vagas e cotas por causa da nossa cor e sempre achamos isso perfeitamente natural. Quando nossos colegas negros e índios foram preteridos porque a nossa empresa não aceitava que uma pessoa de cor a representasse, isso era perfeitamente natural. Quando ganhávamos mais que eles por causa de nossa cor, isso sempre foi creditado a nosso trabalho, mesmo que muitas vezes trabalhassem o mesmo ou mais que a gente. Afinal, nós brancos sempre estivemos à frente de tudo; era natural que assim permanecesse.

Agora, quando nossas oportunidades são limitadas a “apenas” 80% das vagas, aí isso nos incomoda. Aí recorremos a nossos semelhantes, brancos, como se negros e índios não o fossem e não tivessem direito de sê-lo.

Quando mantivemos em nossos círculos um ou dois deles como álibis contra a acusação sempre presente de sermos racistas, isso era normal. Mas, quando eles começaram a se organizar para fazer parte do círculo por seus próprios méritos, temos então um absurdo.

Meritocracia só vale quando todas as vantagens nos são dadas. Partimos sempre na frente e depois estufamos o peito para dizer com orgulho: “cheguei lá e, se vocês trabalharem, também poderão”. Como se fossem os indolentes e preguiçosos que sempre imaginamos e não estivessem fazendo justamente isso desde o começo.

Enquanto achamos razoável R$ 2400,00 como recompensa de nosso esforço, não vemos que para uma boa parcela dos pobres deste país – em sua grande maioria negros, pardos e índios – isso é um sonho longínquo. Afinal, o país foi construído para nós – mesmo que não necessariamente por nós -, e eles que se satisfaçam em permanecer na cozinha, na portaria, no almoxarifado ou na taba.

Afinal, precisam expiar a culpa de serem negros e índios e seus antepassados terem trabalhado bastante e não terem tido tempo de crescer entre um massacre e outro, entre uma chicotada e outra, entre uma confronto e outro com a polícia.

É perfeitamente natural esperar que aqueles que sempre foram tratados como equivalentes humanos a animais de carga tenham as mesmas oportunidades que nós, imigrantes e roceiros brancos, que chegamos ao país sem nada, mas com todas as portas abertas.

Afinal, é a mesma coisa ter uma companhia de colonização à nossa frente, “limpando a área” e dividindo os lotes, e ser aquele que todos os dias precisa se defender dessas mesmas companhias. E quando elas terminam o trabalho, ainda podemos dizer orgulhosos: pegamos essa terra de “ninguém” e vencemos.

Se construímos nossas catedrais sobre os escombros dos terreiros e das malocas, isso é apenas um detalhe”.

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