População de rua aumenta e ocupa novos viadutos em BH

Moradores de rua
Sob o viaduto da Cristiano Machado, mendigos "construíram" uma moradia

Estimativa é de que haja aproximadamente 2 mil sem-teto na capital, 70% a mais do que no censo de 2006

Pedro Rotterdan – Do Hoje em Dia

Viadutos recém-inaugurados nas avenidas Cristiano Machado e Antônio Carlos, em Belo Horizonte, já servem de abrigo para mendigos. Vizinhos desses locais e comerciantes reclamam que os moradores de rua fazem sexo ao ar livre, usam drogas, brigam e deixam muita sujeira. Em alguns pontos, eles montam verdadeiros barracos, com móveis velhos e até animais de estimação. O cenário confirma a estimativa de que a população de rua da capital aumentou consideravelmente nos últimos cinco anos. A Pastoral de Rua, que trabalha diretamente com este grupo, acredita que sejam 2 mil em Belo Horizonte, um aumento de mais de 70% em relação aos 1.164 registrados no censo de 2006, quando foi feito o último levantamento.

Sob o viaduto Abgar Renault, o primeiro na Linha Verde, na esquina com a Rua Jacuí, altura dos bairros Floresta e Nova Floresta, vários sem-teto fizeram do estacionamento uma espécie de quarto e sala, com mesas improvisadas, cadeiras velhas, caixas de isopor, colchões e lonas dividindo os dormitórios. Um cão vira-latas faz a segurança do “lar”. Segundo moradores e comerciantes, pelo menos cinco pessoas dividem o espaço, em meio a muito lixo.

Na manhã de terça-feira (1°), o abrigo estava vazio. Uma comerciante, que pediu para não ser identificada, disse que todos saíram cedo para “garimpar” dinheiro e comprar comidas e drogas. Depois de alguns latidos do “cão de guarda”, por causa da presença da reportagem, surge um homem nervoso, gritando e querendo saber o que estava acontecendo. “Deixem minhas coisas no lugar. Isso é tudo meu”, disse. Ele trabalhava em um posto de gasolina desativado a menos de um quarteirão do local onde vive.

A comerciante afirma que o viaduto virou um antro de perdição. Os moradores de rua fazem sexo, usam drogas e brigam entre si sob a construção. “Fazem tudo isso na frente de todos, até de crianças. É uma vergonha. Todo dia é a mesma coisa. Muita bagunça, sujeira, barulho e mau cheiro”, reclama. De um lado, comerciantes, moradores e pedestres temem o risco de assaltos e agressões. De outro, os desalojados têm medo de perder as poucas coisas que possuem e de serem agredidos. Já são 20 casos de homicídio de moradores de rua só neste ano, de acordo com o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua. Acostumado com a presença dessas pessoas, o balconista Cláudio Marques Santos, de 35 anos, diz que já não se importa mais com as abordagens. “Paro meu carro aqui todos os dias. Às vezes, deixo um dinheirinho para eles comerem ou compro um lanche. Mas nunca fui ameaçado”, diz.

Moradores de rua
Sem considerar os riscos, casal ocupa espaço sob ponte do Ribeirão Arrudas (Marcelo Prates)
A cena se repete ao longo de toda a avenida. Em diversos pontos é possível flagrar pessoas dormindo e dividindo colchões e comida. Alguns precisam fazer as necessidades fisiológicas entre carros e pedestres. “É a única alternativa que esse pessoal tem. Belo Horizonte não possui um banheiro público sequer”, afirma o sociólogo Maurício Botrel.

Espaço para medo e atos de vandalismo

Debaixo das alças que ligam o Centro de BH à Avenida Antônio Carlos, no Bairro Lagoinha, Região Noroeste da cidade, a situação se repete. Moradores improvisam até caixas de papelão para impedir que o vento frio os impeça de dormir. Além disso, as marcas de vandalismo são visíveis. Alguns dos frequentadores do local já tentaram escavar uma das pilastras recém-inauguradas. Testemunhas afirmam que eles tentam retirar parte das vigas de aço para vender. Com olhares desconfiados, nenhum dos moradores de rua abordados quis falar com a reportagem nos locais visitados.

Mesmo sem dados consolidados, a Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social afirma que o número de pessoas morando nas ruas de Belo Horizonte cresceu. A estimativa está baseada no aumento da procura pelos serviços prestados pela prefeitura, como nos restaurantes populares e centros de apoio. Na Câmara dos Vereadores tramita um projeto que prevê a criação de áreas de convívio sob viadutos.

Segundo o gerente de Serviços Especializado em Abordagem Social, Harlei Silva, boa parte dos sem-teto foi parar nas ruas por causa de problemas com álcool e drogas. No entanto, a prefeitura não pode obrigar essas pessoas a deixarem as ruas. As abordagens são feitas diariamente por profissionais de assistência social de cada uma das nove regionais. “Do mesmo jeito que entraram nas ruas, eles saem. Podem se reconciliar em casa, voltar para a região onde moravam, parar de usar drogas ou ir para os abrigos. Tudo isso depende da vontade de cada um. Não podemos retirar ninguém à força”, afirma Harlei.

Ele diz que BH é considerada uma capital generosa e, por isso, as pessoas tendem a migrar em busca de novas oportunidades. “São 36% de pessoas oriundas de outras partes de Minas e do país. Elas chegam aqui à procura de empregos temporários, mas quando se deparam com a falta de oportunidades, se aproveitam das esmolas para sobreviver”.

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) deve lançar, em dezembro, um novo levantamento com o número da população de rua no estado e na capital. Até lá, os órgãos se limitam apenas a traçar o perfil dessas pessoas. “Em BH existem mais homens do que mulheres nas ruas. Os sem-teto têm entre 18 e 49 anos, com baixa escolaridade e muitos problemas com álcool”, diz Harlei Silva.

Para barrar a presença de moradores no viaduto do Minas Shopping, no Bairro União, Região Nordeste de BH, uma concertina (cerca cortante) foi instalada. O vereador Joel Moreira (PTC) criou o projeto de Lei 1509/11 que propõe um aproveitamento melhor das áreas debaixo dos viadutos. “Esses locais não são para moradias. O objetivo é promover eventos culturais e esportivos nessas áreas”, diz o vereador. O PL ainda não foi votado e está sendo analisado pelas comissões da Câmara.

http://www.hojeemdia.com.br/minas/populac-o-de-rua-aumenta-e-ocupa-novos-viadutos-em-bh-1.363817#.TrHBiM6huiY.gmail

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.