“Cuidar da Vida no Planeta é nossa Missão!”
“Vamos salvar a nossa serra: terra e água, vida para o sertão!”
Realizamos a 32ª Missão da Terra da Diocese de Bonfim, no dia 25 de setembro de 2011, na cidade de Antônio Gonçalves – BA. Somos cerca de 5.000 pessoas, cristãos católicos das Comunidades Eclesiais de Base, das Paróquias vizinhas, militantes dos movimentos sociais, de entidades sindicais e associativas e organizações não governamentais, gente da Bahia e do Brasil, cidadãos e cidadãs do Planeta Terra. Nos move a fé em Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado em nossas comunidades e lutas. Por meio desta nos dirigimos às autoridades e ao povo em geral, para dar notícia do que discutimos, rezamos e cantamos aqui. Queremos anunciar nossos compromissos e cobrar as atitudes necessárias e urgentes que exige o nosso tema deste ano: “Cuidar da vida no planeta é nossa missão”.
É nossa missão zelar pelo meio-ambiente ao nosso redor – não jogar lixo em qualquer lugar, não desperdiçar água, não desmatar nem queimar indiscriminadamente. Mas é nossa missão também, com a moral que estas atitudes nos conferem, exigir das empresas e autoridades o mesmo compromisso de preservação da vida, ainda que isto custe menos lucro e menor “crescimento”. O atual desenvolvimentismo na Bahia e no Brasil não pode continuar sendo “carta branca” para degradar ainda mais os bens da terra, universalmente destinados pelo Criador a toda criatura.
Ao pé da Serra da Jacobina, nas margens do Rio Água Branca, afluente do rio Itapicuru, pudemos contemplar a importância das serras – as “produtoras” das águas e das matas – as protetoras da terra e da água –, e perceber o quanto a vida depende de que serras e matas estejam plenas, preservadas, protegidas. Descobrimos, porém, o quanto estão ameaçadas por empreendimentos de mineração e do agronegócio, principalmente nas comunidades de “fundo” e “fecho de pasto”.
Em nome de um “falso progresso”, as mineradoras, como a Ferbasa, a Cimpor, a Caraíba Metais e a Yamana Gold e empresas agrícolas de monocultoras como a Sitio Barreiro, no Perímetro Irrigado de Ponte Novo, com forte apoio do Governo do Estado, tem invadido e se instalado nos territórios comunitários, promovendo a expulsão de camponeses, a concentração fundiária, o desmatamento da caatinga, a degradação do solo, a poluição das águas, a morte das nascentes, e os problemas na saúde da população. Diante desse horror, silenciar é consentir. Por isso, indignados nos perguntamos: será que vale a pena tamanha destruição na região comparada com a riqueza que levam?
Preocupa-nos que estejam em franca expansão projetos de energia eólica como em Jacobina e Campo Formoso. Em nome de uma energia tida como “sustentável”; serras, nascentes e territórios camponeses, como os de “fundo de pasto”, estão sendo tomados e devastados para instalação de torres eólicas.
As comunidades e entidades aqui presentes, ao mesmo tempo em que denunciam, também sinalizam com suas lutas por terra e territórios, suas práticas agroecológicas, de educação e saúde populares e de economia solidária no campo e na cidade, um modelo de sustentabilidade real, baseado na justiça social, política, econômica e ambiental – aquele modelo que carece urgentemente ser construído como uma tarefa de todos, antes que o aquecimento global torne inviável a vida no planeta.
Sentimos como em nós doídas as balas que vitimaram Leonardo de Jesus Leite, 37 anos, assassinado no último dia 6 de setembro, em Monte Santo. Pai de família, líder do CETA – Movimento Estadual de Trabalhadores/as Assentados/as, Acampados/as e Quilombolas, Leo foi morto porque há 11 anos não desistia da terra para si e para seus companheiros, e não encontrou no INCRA a mesma disposição para concluir o processo de seu assentamento. Disposição que não faltou aos latifundiários da região para matá-lo, o quinto camponês assassinado nos últimos três anos em Monte Santo. Disposição que no Estado, nos níveis federal e estadual, é de omissão e incompetência, muito oportunas à expansão economicista.
Como compromissos desta 32ª Missão da Terra, juramos todos e todas, com as bênçãos do Senhor do Bonfim, nosso padroeiro, não arredar pé da nossa Caminhada, de fé, luta e cuidado com a vida no planeta, nossa casa comum e única!
Antônio Gonçalves, 25 de setembro de 2011.
Enviada por Ruben Siqueira.