“Movimento”: exemplo para ser lembrado

Coletivo. Assembleia dos trabalhadores do jornal "Movimento", gerido de forma horizontal

DOUGLAS RESENDE, Especial para O Tempo

Em meados de 1975, o jornalismo brasileiro realizou uma utopia, ironicamente durante a ditadura militar. Um grupo de jornalistas, motivados pela necessidade urgente de um jornal que expressasse a oposição democrática, livre e destemidamente, criou o semanário “Movimento”, jornal que, para ser de fato independente, não possuía dono – os patrões eram os próprios jornalistas que o faziam. E também os cerca de 500 acionistas que “compravam as ações sabendo que não iriam render nada”, mas conscientes de que estavam colaborando com algo politicamente relevante, como conta em entrevista ao Magazine Carlos Alberto de Azevedo, um dos muitos colaboradores do semanário e autor de “Jornal ?Movimento?, uma Reportagem”, livro que tem lançamento esta noite (15), na Livraria Mineiriana, com a presença do autor.

Resultado de uma pesquisa de fôlego de Azevedo e de mais duas jornalistas, Marina Amaral e Natalia Viana, a obra organiza a trajetória do “Movimento” em seus seis anos de vida, período em que militou em temas cruciais como a criação de uma assembleia constituinte. “?Movimento? teve essa importância na época como uma janela para o debate político”, comenta Azevedo. “Ele tinha um programa político muito claro e explícito nas suas páginas, pela redemocratização do país”.

Equipe. No conselho editorial do “Movimento”, estavam figuras de peso da esquerda brasileira como Chico Buarque de Holanda, Fernando Henrique Cardoso [sic] e Jean-Claude Bernardet. E entre as centenas de pessoas que fizeram o jornal, em suas muitas sucursais espalhadas pelo país, estavam Caco Barcelos, Guido Mantega, Laerte, Maria Rita Kehl e Chico Mendes, colaborador no Acre. “O jornal foi um fruto de uma mobilização e de um trabalho de equipe muito grandes”, diz Azevedo. “Mas queria destacar Raimundo Rodrigues Pereira, o grande organizador” – e cuja polêmica demissão como editor de “Opinião” teve como consequência a mobilização que gerou “Movimento”. “Queria lembrar também o Sérgio Mota, que administrou o jornal do número um até o último, passando o chapéu em entidades progressistas e entre políticos do MDB”.

Outro colaborador importante, num dos momentos mais decisivos da atuação do jornal – quando este percebeu um racha nos militares e decidiu apoiar o candidato da oposição a Geisel, o general Euler Bentes Monteiro, com o objetivo de enfraquecer o governo – foi o jornalista Teodomiro Braga, ex-diretor de redação de “O TEMPO“. Atuando na sucursal de Brasília, ele que fazia a ponte entre os militares e o jornal.

Azevedo acredita que “Movimento” continua sendo “até hoje uma experiência válida, porque não temos mais um jornal como esse, pois há um monopólio dos meios de comunicação, em que muitos aspectos importantes da realidade não são mostrados”. E acredita que seria possível o surgimento de outra experiência como aquela. “Ainda é possível. Se sob uma ditadura o foi! O difícil é existir uma unidade de pensamento”.

http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=182273. Enviada por José Carlos.

 

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