Bolívia, 12 set (ANSA) – O governo da Bolívia anunciou hoje que o chanceler David Choquehuanca retomará amanhã as negociações com indígenas que são contra a construção de uma rodovia que cruzará a maior reserva florestal da Bolívia, o Parque Nacional Isiboro Sécure.
A decisão foi anunciada depois que várias organizações sociais pediram ao presidente Evo Morales para evitar um enfrentamento entre os 1.700 índios, que marcham desde a Amazônia até a capital La Paz, e os agricultores, que apoiam o projeto viário do governo.
O ministro da Presidência, Carlos Romero, anunciou que comunicou hoje aos dirigentes indígenas que, tal como solicitaram, o chanceler, único ministro de origem camponesa, viajará amanhã para a região de La Embocada, onde os manifestantes os esperam, para recomeçar as negociações.
Embora os índios tenham declarado “interlocutores inválidos” a outros nove ministros que tentaram negociar, Romero disse que ele e o ministro dos Transportes, Walter Delgadillo, também se encontrarão com a comunidade indígena.
La Embocada fica a 25 quilômetros de Yucumo, onde os agricultores cavaram valas no caminho para bloquear a marcha dos índios. O governo deslocou cerca de 300 policiais para impedir um possível enfretamento e o prefeito da cidade, Rosendo Chura, anunciou garantias aos manifestantes.
O secretário-executivo da Confederação de Agricultores das Comunidades Interculturais de Yucumo, Adriano Lovera, declarou que os indígenas “não passarão” e pediu que eles aceitem dialogar com o governo.
O presidente da Assembleia do Povo Guarani, Celso Padilla, no entanto, disse que eles não negociarão em Yucumo. “Querem sequestrar os dirigentes. Os policiais estão do lado dos lavradores”, declarou ele, afirmando que o diálogo deve acontecer em La Embocada e que, caso fracasse como nas seis tentativas anteriores, a marcha em direção a La Paz, que foi iniciada em 15 de agosto, será retomada mesmo com a presença dos agricultores na região.
Sete organizações não governamentais (ONGs) se somaram à demanda de diálogo e garantias para os manifestantes que várias instituições e personalidades envolvidas com os direitos humanos já tinham feito.
Um comunicado conjunto, pede “com todo o respeito às partes, especialmente ao governo como principal garantidor das liberdades e direitos”, que se tome medidas “acertadas e efetivas para proteger as vidas humanas envolvidas” em caso de “atos de violência” se a marcha for recomeçada.
As ONGs negaram que seu apoio às nações indígenas tenha objetivos políticos, como denunciou o governo, e afirmaram que suas atividades se limitam a apoiar a busca pela “melhora de vida das pessoas e combate à desigualdade”.
Os cerca de 90 mil índios de diversas etnias que moram na região temem que a construção da rodovia, prevista para ligar as cidades de Villa Tunari, em Cochabamba, e San Ignacio de Moxos, em Beni, prejudique a caça e a pesca na região e destrua suas culturas e seu habitat.
O projeto da estrada tem custo de US$ 410 milhões (cerca de R$ 654 milhões), dos quais US$ 350 milhões (cerca de R$ 558 milhões) foram concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil. Sua construção está a cargo da empreiteira brasileira OAS, que venceu a licitação em 2008.
http://www.ansa.it/ansalatinabr/notizie/notiziari/bolivia/20110912160735315721.html