Leonardo Sakamoto
Um grupo de jovens brancos, bem vestidos, criados no leite Ninho e provavelmente alunos de escolas caras da Paulicéia alopravam dois bolivianos que cruzavam apressados uma rua na região dos Jardins. “Esse aí perdeu sua flauta de bambu e a lhama!”, proferiu um deles – que provavelmente aprendeu a fazer humor com alguns gênios da TV. Os dois, de origem humilde, antes mesmo de ouvirem qualquer uma das baboseiras, já deviam se sentir deslocados naquelas ruas de alto poder aquisitivo devido suas feições.
Há algum tempo, vi outro grupo de pessoas ridicularizando imigrantes bolivianos no Centro de São Paulo. Também jovens, todos brancos, alguns de olhos claros. Índios, portanto não eram. E, dessa forma, desprezavam aquilo que um dia seus pais também já foram: estrangeiros recém-chegados, tentando a sorte.
Queria retomar esse tema, aproveitando que a discussão sobre imigração está em alta por aqui por conta das recentes libertações de bolivianos em oficinas de costura. Não vou debater as origens da xenofobia, a relação entre estabelecidos e outsiders, o entendimento da alteridade… enfim. Afinal isto é um post, não uma missa ou uma defesa de mestrado. Mas é ridículo que pessoas da mesma classe média que reclama ser barrada nos aeroportos na Europa e nos Estados Unidos reserve um tratamento preconceituoso como esse aos que vêm de fora. O ser humano aprende com a experiência coletiva? Faz-me rir. (mais…)