Mulheres da Via Campesina ocupam Incra em Recife em defesa da Reforma Agrária

Na manhã desta segunda-feira, dia 28, cerca de 500 mulheres da Via Campesina ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, na cidade de Recife.

As manifestantes protestam contra a inoperância do Governo em realizar a Reforma Agrária, contra a precária política agrária para os assentamentos e a ausência de assistência técnica e de liberação de créditos para produção de alimentos.

Segundo os movimentos da Via Campesina, para os que lutam em defesa da Reforma Agrária, 2010 foi o pior dentre os oito anos comandados pelo Governo Lula. Além disso, um dos pontos centrais da manifestação foi denunciar o avanço do agronegócio e da utilização desenfreada dos agrotóxicos nos monocultivos e na fruticultura irrigada, patrocinada pela política agrícola do Governo Federal.

A ação faz parte da jornada Nacional de Lutas contra o Agronegócio e contra a Violência: por Reforma Agrária e Soberania Alimentar, em comemoração ao Dia Internacional de Luta das Mulheres.

Cristiane Albuquerque, da direção do MST em PE, declarou que o governo dá total apoio ao agronegócio, incentivando o uso de agrotóxicos, alguns de alta periculosidade que são proibidos, inclusive, em outros países. A integrante da CPT, Marluce Melo, destacou ainda durante a manifestação que “os agrotóxicos contaminam o ar que respiramos, a terra que pisamos. Envenenam os rios, as fontes de água e ainda vão parar na mesa da população. A luta contra os agrotóxicos tem que ser uma luta do campo e da cidade.”

Contra os Agrotóxicos e em defesa da Soberania Alimentar

Desde 2008, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. De acordo com o último Censo agropecuário, realizado em 2006, cerca de 80% dos grandes proprietários rurais usam veneno em suas plantações. Só em 2009, foram mais de 1 bilhão de litros de veneno utilizados nas lavouras. As consequências para a saúde da população do campo e da cidade são desastrosas. Para as organizações da Via Campesina, as altas taxas de consumo estão relacionadas ao modelo de produção implementado no país, o agro-hidronegócio.

Este ano, a jornada de luta das mulheres da Via Campesina em Pernambuco leva o nome de “Luiza Ferreira”, em homenagem à trabalhadora rural, dirigente do MST, brutalmente assassinada pelo ex-marido em março de 2010, no município de Aliança, zona da mata norte do estado. A jornada também homenageia todas as mulheres que cotidianamente sofrem todos os tipos de opressão e dominação e que lutam em defesa de deus direitos, da vida e dignidade no campo e na cidade. Até o dia 08 de março acontecerão diversas mobilizações das mulheres da Via Campesina em várias partes do país.

Abaixo, leia o manifesto das mulheres da Via Campesina de Pernambuco.

Nós, mulheres da Via Campesina,com a proximidade de mais um dia internacional de luta das mulheres – 08 de março – estamos mobilizadas em todo o Brasil contra a extrema violência do atual modelo de desenvolvimento para o campo: o agro-hidronegócio, que tem como lógica a exploração da terra, dos recursos naturais, do trabalho, da vida e dignidade de milhares de camponesas e camponeses.

Denunciamos a total conivência e inoperância dos Governos Federal e Estadual em garantir a realização de uma profunda Reforma Agrária no Estado de Pernambuco e no país. Para os que lutam em defesa da Reforma Agrária, 2010 foi o pior dentre os oito anos comandados pelo Governo Lula. A realidade é que a promessa do Presidente Lula, de atender a histórica demanda da partilha da terra no país, não foi cumprida.

O que vimos foi o avanço do agro-hidronegócio, responsável pela concentração de terras, pela devastação ambiental, pobreza no campo e pelo trabalho escravo para obter mais lucros. Esse modelo só produz alimentos transgênicos e utiliza desenfreadamente os agrotóxicos, que contamina o nosso solo, matas, rios, fontes de água, plantas, nossos alimentos e até o ar que respiramos. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Grandes empresas utilizam tanto veneno em suas produções que até produtos proibidos em outros países são utilizados livremente por aqui. De acordo com o último Censo agropecuário, realizado em 2006, cerca de 80% dos grandes proprietários rurais usam veneno em suas plantações. Só em 2009, foram mais de 1 bilhão de litros de veneno utilizados nas lavouras. Esse uso descontrolado traz consequências desastrosas para a saúde do povo.

E isso não é um problema só para quem vive no campo. O povo da cidade também sofre as consequências. Neste modelo de agricultura, a produção de alimentos saudáveis e a saúde do povo não interessa. Quanto mais agrotóxicos, pior a qualidade dos alimentos consumidos pelo povo do campo e da cidade. Quanto mais veneno, mais lucro para as grandes empresas transnacionais e mais doença para a população brasileira. Não podemos permitir isso!

Nós mulheres camponesas, somos duplamente afetadas por este modelo de agricultura, porque somos nós que passamos boa parte de nossas vidas envolvidas no cultivo e no preparo da comida para garantir saúde à nossa família. É preciso discutir com toda a sociedade os males que os agrotóxicos causam e mostrar que existem outras formas de produzir alimentos sem causar danos à saúde e ao meio ambiente. Camponesas e camponeses sempre produziram alimentos saudáveis para o povo do campo e da cidade, de forma agroecológica, sem utilização de agrotóxicos. A agricultura camponesa é a única que pode garantir a saúde e soberania alimentar do povo brasileiro!

Contra o agronegócio e seus venenos!

Viva as Mulheres Camponesas e a Soberania Alimentar!

http://www.mst.org.br/Mulheres-da-Via-Campesina-ocupam-Incra-em-Recife-em-defesa-da-Reforma-Agraria%20

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