Repórter Brasil completa 10 anos e apresenta novidades

Evento internacional, novos sites, documentário e programa televisivo. Para celebrar uma década de atividades, organização anuncia série de lançamentos para ajudar a refletir sobre o país que temos e o país que queremos

Por Leonardo Sakamoto*

Repórter Brasil foi fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de fomentar a reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores do campo no Brasil através da garantia de informação de qualidade.

Logo no início, sentimos que apenas relatar graves situações de desrespeito aos direitos humanos seria impossível. Diante de uma realidade como essa, o silêncio das ações, mais do que apenas das palavras, é um ato de conivência. Ao rodar o país, escrevendo e mostrando a gente simples e humilde, que se soma aos milhões, mas que simplesmente não existe, pois dificilmente consegue fazer parte de planos dos governos ou dos debates da opinião pública acabamos por nos tornar atores diretos de transformação social. A Repórter Brasil tomou uma clara e inequívoca opção pelos empobrecidos e marginalizados, no que se refere à realidade política, econômica, social, cultural e ambiental do país.

A organização se tornou uma das mais importantes fontes de informação sobre trabalho escravo no país. Suas reportagens, investigações jornalísticas, pesquisas e metodologias educacionais têm sido usadas por lideranças do poder público, do setor empresarial e da sociedade civil como instrumentos de combate à escravidão contemporânea, um problema que afeta milhares de pessoas.

Mas não apenas isso. A Repórter Brasil se tornou referência internacional para entender os impactos sociais e ambientais envolvidos na produção de etanol e biodiesel. Sua articulação política há muito tempo extrapolou as fronteiras nacionais, envolvendo redes na América, Europa, África e Ásia.

Nos últimos dez anos, vimos o país dar um salto em sua economia. O problema foi a maneira como isso se deu e os “efeitos colaterais” desse processo. Incluímos milhões, negando a outros tantos seus direitos mais fundamentais.

Para celebrar os 10 anos, preparamos uma série de ações e novidades para ajudar a refletir sobre o país que temos e o país que queremos. Eis algumas delas:

Conferência Internacional da Repórter Brasil: Realizaremos, no mês de novembro, a I Conferência Internacional da Repórter Brasil. Durante três dias, organizações e movimentos sociais, poder público e entidades empresariais poderão discutir os impactos sociais e ambientais causados pelo modelo de desenvolvimento no campo, bem como soluções e alternativas para resolver esses problemas. O evento será realizado em São Paulo (SP) e pretende reunir 400 pessoas.

Novidades na internet: Lançamos, no início de fevereiro, o site Comunicar para Mudar o Mundo, desenvolvido por nossa área de Educação e Comunicação, uma antiga reivindicação de nossas redes que atuam pela democratização da comunicação. Logo na sequência, veio o Blog da Redação, espaço novo para a publicação de conteúdos variados relacionados ao nosso trabalho. Nos próximos meses, o site do programa “Escravo, nem Pensar!”, que trabalha desde 2004 na formação de professores e lideranças populares para combater o tráfico de pessoas e o trabalho escravo, entrará no ar – levando interação e integração a uma rede de mais de 40 municípios, seis estados e 100 mil envolvidos. A organização também ganhará uma nova home page, com novas ferramentas para maximizar o potencial de interação. Junto, virá uma reforma para possibilitar que o principal canal de comunicação da organização seja mais 2.0 e, portanto, mais democrático.

Telona e telinha:documentário “Carne, Osso, da Repórter Brasil, que trata das condições de trabalho nos frigoríficos do país, foi selecionado para o festival “É Tudo Verdade”, será exibido nos cinemas de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) entre 31 de março e 10 de bril  e concorrerá na categoria de longas e médias metragens. Ao mesmo tempo, estamos finalizando o piloto do programa “Pegada Ecológica“, uma parceira com o canal de televisão Futura que irá ao ar em breve, para mostrar que o impacto do nosso consumo vai muito além do que imaginamos.

Isso sem contar os lançamentos de estudos e pesquisas de cadeias produtivas que fizeram da Repórter Brasil uma das mais respeitadas organizações do setor.

Últimos e próximos
Diante do que se verificou na última década e com base nas projeções para a próxima, o Brasil tende a se consolidar como uma das maiores economias do mundo por conta, em grande parte, do crescimento da produção, processamento e comercialização de matérias-primas e alimentos. Por outro lado, os impactos sociais (como trabalho escravo, trabalho infantil e violência contra comunidades indígenas e quilombolas) e ambientais (como desmatamento, contaminação de cursos d´água e poluição do ar) negativos causados por esse processo estão no centro da agenda internacional. Não apenas pelos danos que podem causar ao meio ambiente, ao clima, aos trabalhadores, às populações tradicionais e aos migrantes, mas também pelos problemas trazidos por barreiras comerciais impostas a mercadorias produzidas de forma não-sustentável.

Por isso, a Repórter Brasil deve se tornar também a principal fonte de análises e informações sobre todos os impactos sociais, trabalhistas e ambientais no campo. Sem informação de qualidade, é impossível evitar prejuízos sociais, ambientais e econômicos. Dessa forma, a importância do trabalho da organização crescerá na mesma medida em que o país crescer.

Unimos a paixão pela defesa da liberdade dos trabalhadores e a dignidade dos povos do campo com o profissionalismo de quem produz com todo o rigor técnico e científico. Nossa independência na produção de conteúdo também garante um diálogo com organizações e os movimentos sociais, o poder público e o setor empresarial. Por fim, possuimos uma rede com dezenas de organizações parceiras e centenas de fontes de informação no Brasil e no exterior, das vítimas no campo a lideranças no governo e no setor empresarial.

Dez anos depois, temos a certeza de que estamos apenas engatinhando. Mudamos muita coisa, mas poderíamos ter feito muito mais – desejo que esbarrou nas limitações financeiras e estruturais. Mas temos paciência. Afinal de contas, a mudança na condição de um povo depende da conscientização do papel do próprio povo, pois ele é o ator da mudança e detentor real de todo o poder.

Um processo também muito lento, mas inexorável.

*Coordenador da ONG Repórter Brasil, é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo

http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1859

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