“Segurança e território”, por Marianna Araujo

O livro "O que é a favela, afinal?" lançado ontem no FSU. Foto: Francisco Valdean / Imagens do Povo
O livro "O que é a favela, afinal?" lançado ontem no FSU. Foto: Francisco Valdean / Imagens do Povo

O eixo temático previsto para as atividades de ontem, dia 23, do Fórum Social Urbano foi “Criminalização da Pobreza e Violências Urbanas”. Em meio aos eventos programados para esse dia, cerca de 50 pessoas se reuniram para a roda de conversa “Territórios populares e segurança pública: (re) vendo políticas públicas e práticas sociais”, promovida pelo Observatório de Favelas e pela Redes da Maré. Conduzindo o debate estavam Jailson de Souza, fundador do Observatório, Eblin Farage, da Redes da Maré e Raquel Willadino, da vertente Direitos Humanos do Observatório de Favelas. Entre os presentes, estudantes, militantes de diversos movimentos urbanos e integrantes das duas instituições.

Além do debate, estava previsto o lançamento do livro “O que é a favela, afinal?”, publicação produzida pelo Observatório de Favelas com patrocínio do BNDES. O livro reúne as reflexões produzidas durante o seminário de mesmo nome que ocorreu em agosto de 2009 e contribuições de estudiosos convidados.
A atividade teve início com uma fala de Jailson de Souza acerca do histórico do Observatório de Favelas e sua atuação no campo da luta pelo direito à cidade. Souza explicou que a instituição busca romper com a ideia que tradicionalmente define a favela pela carência material e precariedade nas estruturas. De acordo com o geógrafo, essa visão alimenta um discurso que cria estigmas e gera preconceito. “A definição tradicional tem como princípio fundamental o paradigma da ausência. Por que definir a favela por ela mesma? Nós acreditamos que é impossível pensá-la fora do contexto da cidade, marcada historicamente pela precariedade de investimentos públicos”, afirmou.
Souza ressaltou que ver a favela como um problema em si é desconsiderar as questões que estão na raíz das desigualdades presentes na cidade, mas implica também em negar seus moradores enquanto sujeitos. Segundo ele, é preciso reconhecer as particularidades desses espaços, mas também valorizar as iniciativas e subjetividades que emergem neles. O coordenador do Observatório de Favelas concluiu sua fala afirmando que os Jogos Olímpicos são “uma oportunidade fundamental para a cidade”, não apenas em termos de estrutura, mas como via de garantir os direitos de todos os cidadãos.
Em seguida, Eblin Farage falou sobre a experiência da Redes da Maré no campo da educação, área em que a instituição desenvolve projetos há mais de 10 anos. Farage deu ênfase ao Seminário de Educação realizado na Maré em novembro de 2009. Segundo ela, a experiência de reunir professores, moradores e gestores em um Seminário na favela é algo inédito e demonstra o potencial da ação mobilizadora como forma de interferir na favela. “O caminho para a transformação passa pela moblização. Apenas mobilizando moradores, poder público e instituições locais é que podemos levar adiante ações estruturantes que tenham impacto nesses espaços”, afirmou.
A roda de conversa promovida pela Redes da Maré e Observatório de Favelas. Foto: Francisco Valdean / Imagens do Povo
Assim como Souza, Farage citou a importância de se trabalhar o conceito de favela como forma para superar estigmas e promover melhorias. “Nós pensamos em uma conceituação de favela que direcione políticas públicas que se contraponham à essa noção de precariedade. Apenas assim é possível promover projetos coletivos que visem ao desenvolvimento desses espaços”, explicou ela.
Encerrando este momento de abertura da roda de conversa, Raquel Willadino falou sobre as ações que Observatório de Favelas e Redes da Maré, juntamente com outras instituições locais, têm realizado no campo do debate acerca da segurança pública. Willadino ressaltou que ações como a Conferência Livre de Segurança da Maré e a Consulta Livre, que ocorrerá no próximo dia 27, acerca da reestruturação do Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp) são importantes formas de mobilização da população. “É fundamental constituir espaços de construção coletiva de proposições. É uma forma de prevalecer os interesses coletivos, diferente daquelas iniciativas que vêm de fora para dentro”, explicou ela.
Após as três falas, seguiu-se uma hora de debate, com participação intensa dos presentes. Para Mariana, estudante de geografia e serviço social, que acompanhou toda a roda de conversa, a articulação feita entre os temas segurança pública e território se mostrou bastante interessante. “Fiquei bastante impressionada também com as informações que foram trazidas pela Raquel sobre violência na Maré. A gente acaba vendo muito com os olhos da mídia e perde um pouco a noção da realidade”, afirmou a estudante.
O Fórum Social Urbano continua até sexta-feira com debates, plenárias e intensa programação cultural. Veja aqui a programação completa.
http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=782

Além do debate, estava previsto o lançamento do livro “O que é a favela, afinal?”, publicação produzida pelo Observatório de Favelas com patrocínio do BNDES. O livro reúne as reflexões produzidas durante o seminário de mesmo nome que ocorreu em agosto de 2009 e contribuições de estudiosos convidados.

A atividade teve início com uma fala de Jailson de Souza acerca do histórico do Observatório de Favelas e sua atuação no campo da luta pelo direito à cidade. Souza explicou que a instituição busca romper com a ideia que tradicionalmente define a favela pela carência material e precariedade nas estruturas. De acordo com o geógrafo, essa visão alimenta um discurso que cria estigmas e gera preconceito. “A definição tradicional tem como princípio fundamental o paradigma da ausência. Por que definir a favela por ela mesma? Nós acreditamos que é impossível pensá-la fora do contexto da cidade, marcada historicamente pela precariedade de investimentos públicos”, afirmou.

Souza ressaltou que ver a favela como um problema em si é desconsiderar as questões que estão na raíz das desigualdades presentes na cidade, mas implica também em negar seus moradores enquanto sujeitos. Segundo ele, é preciso reconhecer as particularidades desses espaços, mas também valorizar as iniciativas e subjetividades que emergem neles. O coordenador do Observatório de Favelas concluiu sua fala afirmando que os Jogos Olímpicos são “uma oportunidade fundamental para a cidade”, não apenas em termos de estrutura, mas como via de garantir os direitos de todos os cidadãos.

Em seguida, Eblin Farage falou sobre a experiência da Redes da Maré no campo da educação, área em que a instituição desenvolve projetos há mais de 10 anos. Farage deu ênfase ao Seminário de Educação realizado na Maré em novembro de 2009. Segundo ela, a experiência de reunir professores, moradores e gestores em um Seminário na favela é algo inédito e demonstra o potencial da ação mobilizadora como forma de interferir na favela. “O caminho para a transformação passa pela moblização. Apenas mobilizando moradores, poder público e instituições locais é que podemos levar adiante ações estruturantes que tenham impacto nesses espaços”, afirmou.

A roda de conversa promovida pela Redes da Maré e Observatório de Favelas. Foto: Francisco Valdean / Imagens do Povo
A roda de conversa promovida pela Redes da Maré e Observatório de Favelas. Foto: Francisco Valdean / Imagens do Povo

Assim como Souza, Farage citou a importância de se trabalhar o conceito de favela como forma para superar estigmas e promover melhorias. “Nós pensamos em uma conceituação de favela que direcione políticas públicas que se contraponham à essa noção de precariedade. Apenas assim é possível promover projetos coletivos que visem ao desenvolvimento desses espaços”, explicou ela.

Encerrando este momento de abertura da roda de conversa, Raquel Willadino falou sobre as ações que Observatório de Favelas e Redes da Maré, juntamente com outras instituições locais, têm realizado no campo do debate acerca da segurança pública. Willadino ressaltou que ações como a Conferência Livre de Segurança da Maré e a Consulta Livre, que ocorrerá no próximo dia 27, acerca da reestruturação do Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp) são importantes formas de mobilização da população. “É fundamental constituir espaços de construção coletiva de proposições. É uma forma de prevalecer os interesses coletivos, diferente daquelas iniciativas que vêm de fora para dentro”, explicou ela.

Após as três falas, seguiu-se uma hora de debate, com participação intensa dos presentes. Para Mariana, estudante de geografia e serviço social, que acompanhou toda a roda de conversa, a articulação feita entre os temas segurança pública e território se mostrou bastante interessante. “Fiquei bastante impressionada também com as informações que foram trazidas pela Raquel sobre violência na Maré. A gente acaba vendo muito com os olhos da mídia e perde um pouco a noção da realidade”, afirmou a estudante.

O Fórum Social Urbano continua até sexta-feira com debates, plenárias e intensa programação cultural. Veja aqui a programação completa.

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