Poder público ‘esquece’ de indígenas dos centros urbanos de São Paulo

Apesar de a maioria da população de índios do estado viver em cidades, comunidade ainda sofre preconceito. Cultura e costumes demandam ações de valorização

Por Virginia Toledo, Rede Brasil Atual

Poder público 'esquece' de indígenas dos centros urbanos de São Paulo
Mulheres e crianças indígenas de comunidade de Pirituba, periferia de São Paulo: precariedade e dívida social (Foto:©Ayrton Vignola/Folhapress)

São Paulo – Dos indígenas que vivem no estado de São Paulo, 37 mil estão em centros urbanos. Isso representa 91% do total, segundo dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo a coordenadora-executiva da Comissão Pró-Índio de São Paulo, Lúcia Andrade, pouco se sabe sobre a realidade da comunidade indígenas residente nas cidades, porque as prefeituras não têm essa preocupação de identificar as demandas específicas.

Eles sofrem especialmente pela ausência de políticas públicas, principalmente na periferia de grandes centros urbanos. Há ainda o agravante de que os indígenas fazem parte de uma cultura de resistência. As constatações fazem parte de um estudo da Comissão Pró-índio paulista e do Centro Gaspar Garcia. O levantamento é parte do projeto, iniciado neste ano, “A cidade como afirmação dos direitos indígenas”, lançado nesta quinta-feira (22), em São Paulo.

“Essas pessoas ficam numa situação vulnerável por acreditarem que, saindo de sua aldeia, elas não teriam mais direito à educação e à saúde, que são políticas garantidas ao índio pela Constituição”, sublinha Lúcia. Segundo ela, as políticas indigenistas, de forma geral, foram pensadas somente para os que vivem em terras indígenas e, agora, a realidade obriga a repensar a situação.

Avani Florentino, da comunidade Fulni-ô, acredita que o principal sofrimento pelo qual passa a maioria dessa população nas cidades é a falta de moradia fixa. Segundo ela, que participa do programa Pindorama, da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), muitos vivem à beira de córregos ou em favelas.

“Ainda tem o sofrimento de conviver com o preconceito”, frisa Lúcia Andrade. “As pessoas olham para a gente e veem que temos uma fisionomia diferente. O índio é índio, independentemente de estar na aldeia ou na cidade”, lamenta Avani.

Três situações

Para Lúcia, há três situações distintas vividas pela população indígena em centros urbanos. Primeiramente, os índios que moram em perímetro urbano pelo fato de a cidade ter chegado ao que antes eram terras indígenas, ou seja, por mais que vivam em território demarcado, são considerados moradores da cidade.

Há outra situação em que os índios optaram por viver em bairros, mas ainda mantêm contato estreito com a comunidade de origem. E ainda uma terceira condição, em que indígenas vão às cidades para comercializar produtos feitos nas comunidades, como artesanato, utilizando aquele espaço como geração de renda.”São esses tipos de realidade que têm que ser pensados agora”, diz Lúcia.

Para René Ivo, do Centro Gaspar Garcia, os estudos buscam ajudar etnias indígenas ligadas ao ambiente urbano a se relacionar com a cidade, ou seja, facilitando o caminho para o acesso a políticas públicas, de modo que sejam respeitadas em seus direitos, culturas e costumes.

http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2011/09/indigenas-em-centros-urbanos-carecem-de-politicas-publicas

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