Por Andreia Costa
Outro dia, durante uma vigília noturna no Esperança, estava eu sentada numa roda, ao lado de uma fogueira, enquanto observava os helicópteros da polícia sobrevoar a região, tentando enxergar no escuro uma possível movimentação vinda do Vitória ou do Rosa.
Um sobressalto a cada foguete, ficava de pé cada vez que a ronda dos apoiadores se aproximava para saber as notícias. Recebia as informações e sentava novamente. Dava um sorriso aos colegas e dizia, até agora – tudo bem e vai continuar assim.
Fui então que um morador vendo a minha aflição, que era a mesma de todos ali, me fez uma série de perguntas:
– por que vocês, apoiadores, estão aqui?
– vocês não tem medo de ficar aqui na hora que a polícia chegar?
– se vocês tem escolha, por que estão aqui?
Respondi que nós também não tínhamos escolhas, todos nós que conhecemos os problemas dos movimentos sociais sabemos que só há um lado pra ficar.
Respondi que tinha sim medo, muito medo mas que a luta deles era justa.
Repeti que eu tinha muito medo, e esse era o motivo de eu estar ali. Por ter muito medo sabia que eles não podiam ficar sozinhos nessa hora, sabia que era muito ruim ter medo e estar só.
Falei que mesmo com medo todos nós ficaríamos ali até a hora da polícia chegar e faríamos o combinado.
O morador então colocou a mão no meu ombro e virou o rosto. A contra luz da fogueira e a escuridão da noite não me deixavam ver seu rosto, mas eu sentia que ele chorava.
O bom é que ele não chorou sozinho.
#resisteisidoro
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Débora Barcellos Teodoro.
Todos choramos, os que sabemos.