Depoimentos dos professores do IPPUR sobre as difamações e arbitrariedades contra seus orientandos Carla Hirt e Igor Matela

Perna de Carla Hirt, atingida por bala de borracha

Caso não tenha conhecimento de todos os fatos, leia por favor informações sobre o acidente e sobre a matéria a respeito publicada pelo jornal O Globo em  Vi o Mundo. As cartas abaixo são em solidariedade ao casal duplamente atacado. TP. 

1. Depoimento de Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro

Prezado Igor, Prezada Clara,

Gostaria de expressar a minha solidariedade neste momento no qual vocês estão sendo submetidos a ações que me parecem injusta, violentas e arbitrarias. Como professor e orientador posso atestar o bom senso e a honestidade de caráter como marcas do comportamento de vocês dois na vida acadêmica, o que me parece totalmente contraditório com fatos e atos que estão lhes sendo imputados pela policia e pela imprensa. 

Estou certo que a verdade e a justiça acabarão prevalecendo e coloco-me a disposição para alcança-las, caso seja necessário. 

Abraços,
Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro
Professor-Titular do IPPUR/UFRJ 

***

2. Depoimento de Orlando Alves dos Santos Junior:

Governo Sérgio Cabral: estado de terror

Caros(as) amigos(as),

É impossível não se indignar com a grande mídia e com o governo Sérgio Cabral.

Dois amigos e estudantes do IPPUR/UIFRJ estão vivendo uma grave situação de terror e farsa. As notícias veiculadas hoje (25 de julho de 2013), pelo jornal O Globo são fantasiosas, vergonhosas e caluniosas e buscam incriminar Carla Hirt e Igor Matela. Carla e tantas outras pessoas que têm se mobilizado e manifestado sua opinião nas ruas têm sido presas e acusadas de “vandalismo” e de “formação de quadrilha”, quando, cada vez fica mais claro, que isso é resultado de ação de agentes infiltrados e da ação do governo do Estado do Rio de Janeiro, baseado na promoção do terror. Gostaria de manifestar minha solidariedade e registrar que Carla e Igor são duas pessoas maravilhosas e solidárias. Vale a pena divulgar essa contra-informação, buscando desmascarar a mentira a farsa que está sendo divulgada pela grande imprensa. 

Segundo relato de Carla Hirt, doutoranda do IPPUR e integrante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, no dia 17, ela e mais alguns manifestantes dos protestos pacíficos contra o governo estadual, que nunca se viram e nem se conheciam, foram presos sob a acusação de formação de quadrilha, pelo simples fato de terem corrido de três viaturas que entraram atirando na rua em que estavam. A polícia teria decidido que esses manifestantes eram uma “quadrilha” simplesmente por que eles se abrigaram em frente a um prédio com fachada de vidro, em Ipanema/Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, depois que começaram os confrontos entre a polícia e alguns manifestantes.

Pois bem, Carla Hirt foi baleada 2 vezes por balas de borracha (uma na perna e outra na altura da cintura), além de ter sido, segundo denuncia que ela registrou, agredida por um policial. Além de não ter nenhum atendimento na delegacia, para não ser levada para a penitenciária de Bangu, ela precisou ter que pagar R$ 700,00 de fiança, como todos os demais manisfestantes presos. 

Cabe ressaltar que a policia registrou que ela foi presa na rua Visconde de Pirajá, sendo que ela foi presa na rua Redentor, 294. Tudo indica que a intenção da polícia era dizer que os manifestantes teriam sido presos no ambiente onde estavam ocorrendo os confrontos e quebradeiras em agências bancárias. Carla fez o registro de agressão policial, e no seu depoimento disse exatamente o endereço em que tudo aconteceu. 

Na resposta a matéria do jornal O Globo, Igor Matela, companheiro de Carla, traz esse importante depoimento:

“Hoje fui surpreendido por uma reportagem da editoria Rio do jornal O Globo que relata que eu e minha esposa, Carla Hirt, teríamos sido presos por ações de vandalismo no dia 17/07 na sequencia do protesto em frente à casa do governador Sérgio Cabral. Além disso, a reportagem afirma que eu e minha esposa teríamos nos identificado como agentes da Abin, insinuando que estávamos infiltrados e com outras intenções que não a livre manifestação política. Gostaria de informar que tal reportagem é difamatória, não nos ouviu e publicou informações erradas que poderiam ser facilmente checadas na própria 14 DP. Carla é professora e atualmente doutoranda no IPPUR/UFRJ. Foi presa de forma arbitrária, agredida, baleada, acusada de formação de quadrilha junto com outros rapazes que ela sequer conhece. A denúncia é tão absurda que o Ministério Público indicou que não irá levar adiante, uma vez que a polícia não conseguiu provas do crime. No meu caso, é verdade que trabalho na Abin. Passei num concurso público e sou um servidor federal como qualquer outro, submetido à lei 8.112. Tenho garantido minha livre manifestação política. Neste dia, não fui preso. Quando Carla estava sendo abordada e já tinha sido ferida, conseguiu me ligar. Ouvi pelo telefone que estava sendo agredida e levada para a delegacia. Corri para a DP e cheguei lá uns 30 minutos depois indignado, perguntando pela minha esposa e questionando o abuso de autoridade da PM. Injustamente fui acusado por desacato, numa situação que nada teve a ver com atos de vandalismo. Me identifiquei com minha carteira de motorista e disse, quando a delegada que questionou, que trabalhava na Abin . Em nenhum momento tentei usar isso para o que quer que seja, pois se fosse assim teria sido autuado por abuso de autoridade ou então teria sido liberado. Tudo isso está nos registros de ocorrência da delegacia. Esta história conspiratória está me causando muitos prejuízos. Está ferindo minha honra e de minha esposa, me colocando em risco por me associar com policiais infiltrados e está me trazendo problemas no trabalho, onde posso sofrer um processo disciplinar.”

Registro meu testemunho do efetivo e honesto engajamento político de Carla Hirt e Igor Matela e minha solidariedade a eles nesse processo.

É necessário se perguntar quem plantou essa calúnia, quais as suas relações com o jornal O Globo e com a grande imprensa, e com que interesses. Não é preciso refletir muito para saber que há muitos suspeitos…

Espero que a justiça e a verdade seja reestabelecidas e que os danos morais sofridos por Carla Hirt e Igor Matela sejam reparados. 

Meu sentimento é de indignação e vergonha por esse estado de terror.

Um grande abraço.

***

3, Depoimento de Carlos Vainer:

Gente

1) Já sabemos que a matéria saída na 5ª feira é mentirosa. Ela diz que um casal da ABIN foi preso. As manifestações de Carla e Igor a desmentem. Importante destacar que, antes da matéria, Carla havia registrado a violência e a autuação fraudulenta de que foi vítima no Ministério Público e na Defensoria Pública.

2) Na 6ª feira, a matéria não reconhece os erros e falsidades constantes da matéria anterior. Ademais, a matéria de 6ª feira está centrada na autuação de Igor, marido que teria “desacatado” o policial que agrediu e prendeu arbitrariamente sua esposa. Em seu depoimento, Igor nega que tenha agredido verbalmente o policial, embora reconheça que tenha se dirigido a ele com a expressão: “Você vai pagar pelo que fez à minha mulher” (ou algo assim). Mesmo que isso seja desacato, ou mesmo que tenha xingado o policial, é perfeitamente compreensível que estivesse nervoso e fora de si um jovem esposo, vendo sua mulher com grave ferida na perna (ela foi atingida por bala de borracha) e presa de forma arbitrária, e ainda por cima agredida por um policia.

3) Mas o fato jornalístico principal não era a discussão ou desacato. Uma imprensa preocupada em informar à sociedade, não daria prioridade jornalística à disputa entre um marido, nervoso ou não, e um policial, mas ao fato de que uma jovem manifestante, que exercia seu direito à manifestação, foi brutalizada e autuada por crimes que não cometeu. Assim como o Bruno, que ficou famoso pois ter aparecido na telinha da Globo. Assim como tantos outros que vêm sendo presos e autuados por formação de quadrilha. O fato relevante, e grave, é que a polícia autuou Carla informando que ela foi detida na Visconde Pirajá, e não na Rua Redentor 294. Ora, por que foi feita autuação como se ela houvesse sido presa na rua Visconde de Pirajá? Simplesmente porque foi nesta rua que ocorreram tumultos e quebra-queraç A intenção e fraude são evidentes: tinham que registrar que ela teria sido presa no local das depredações, para dar credibilidade à acusação de “vandalismo”.

4) Ou seja, um caso a mais de autuação fraudulenta. São vários. Os testemunhos chegam de toda parte, indicando uma orientação geral, sistemática, não de prender os responsáveis pelos quebra-quebra, mas de criminalizar os manifestantes

5) O jornalista responsável pela matéria entrou em contato comigo na 5ª feira à tarde. Disse-me que me procurava enquanto professor Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, uma vez que , em sua carta ao jornal, Igor informava que ele e sua companheira são alunos do IPPUR, onde sou Professor Titular. Interpelei-o duramente sobre o caráter falso de sua matéria. Disse-me que apenas reproduzira o que colhera em suas fontes. Eu retorqui que ele deveria ter ouvido o casal. Ele me disse, parece piada, que buscou encontrá-los pelo Facebook, mas não conseguiu. Eu disse que auto de prisão havia sido falseado, e ele disse que tinha lido a carta do marido. Após alguns minutos de dura troca, ele me perguntou se eu me dispunha a fazer um depoimento sobre o casal. Perguntei se ele também estava fazendo o currículo do policial agressor, da delegada e do delegado que lhe havia dado uma falsa informação. Ele apenas insistiu se eu daria um depoimento. Aceitei, com a condição de que ele não cortasse nada, que reproduzisse na íntegra. Ele aceitou, desde que fosse curto.

6) Enviou-me um e-mail (18:25) com duas perguntas. i) O senhor gostaria de comentar o caso? 2) O senhor conhecia o casal? Enviei a resposta (19:08) que reproduzo abaixo:

Carla é geógrafa, professora, brilhante estudante de doutorado em Planejamento Urbano e Regional. Digna e íntegra, como os milhões de jovens que têm ido às ruas manifestar sua inconformidade com a situação do país. Orgulho-me de ser seu professor. No Rio de Janeiro, o direito de manifestação vem sendo violado por uma polícia inepta, brutal e, como agora se sabe, capaz de forjar autuações fraudulentas para criminalizar manifestantes. Sob o pretexto de manter a ordem, a polícia instaura o terror a cada nova manifestação pública. É necessário investigar e punir policiais e autoridades que promovem ou acobertam essas violências. Ouvir a mensagem das ruas, recomendou a presidente Dilma. Querem, no entanto, calá-la.

7) Ele acusou a recepção (19:28) nos seguintes termos:

tá curtinha. acho que vou conseguir deixá-la na íntegra.

8 )Meu depoimento não saiu. Foi censurado! A matéria é enorme, mas se consagra ao agente da ABIN e seu suposto desacato à autoridade, e não à arbitrariedade e violência policial

Reitero aqui o disse no depoimento censurado. Orgulho-me de ser professor de Carla. E não vamos permitir que os herdeiros e continuadores do autoritarismo transformem esta e outras vítimas de seu arbítrio e ilegalidade em criminosos. Criminosos são eles. Eles devem ser julgados e condenados.

Carlos Vainer

Professor Titular
IPPUR/UFRJ
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Thiago Lucas.

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