Jean Paulo Pereira de Menezes, Blog Convergência
Muitos alunos e seus pais se perguntam se a greve dos professores é realmente necessária. Não será a greve um ato extremo?
A que se fazer outra pergunta: será extrema a situação dos professores brasileiros a ponto de se justificar uma greve?
Iniciemos com valores, ou seja, o salário do professor. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) o salário do professor brasileiro é o terceiro mais baixo ente 38 países. No estado de São Paulo o valor hora/aula chega a ser menor do que cinco reais e se considerarmos a rede privada esse valor pode ser ainda menor.
Um professor que recebe este salário apresenta dificuldades para alimentar até mesmo a sua família. Com salários defasados, que não são corrigidos de acordo com a inflação, fica inviável qualquer tipo de acesso social. Milhares de professores passam a vida toda sem poderem ir ao teatro, ao cinema, ao circo com seus filhos porque o motivo é obvio: o salário não permite este tipo de “luxo”.
Um professor para poder ensinar deve estar bem alimentado, alinhado com suas necessidades materiais (e vejam que isso é a necessidade mais animal que possuímos) e culturais. Entretanto, como os salários defasados (ou atrasados) e com a precariedade cada vez maior nos espaços de ensino, fica cada vez mais difícil ser professor nos dias de hoje. De acordo com DIEESE, o salário mínimo no mês de abril de 2013 deveria estar nas casas dos 2800,00 reais e o que vemos é absurdamente diferente disso. Observem que as palavras não são inocentes: Salário mínimo; ou seja, uma quantidade de valor que se recebe e que é o mínimo necessário para a reprodução da vida… E como apontei antes… A vida não é apenas o saciar da fome, as necessidades materiais como vestir, morar, se transportar. Isso é o elementar da existência, e para além desta necessidade, o professor (assim como todos os trabalhadores) possuem outras necessidades. O Professor, especificamente, para poder ensinar seus alunos além de bem alimentado (assim como os alunos) deve estar bem formado, buscando constantemente sua formação humana. O Professor além de comer deve possuir bons livros, bons meios de se comunicar com o mundo, estar sintonizado na realidade social, cultural, economia e política. Assim ele poderá apresentar uma pratica de ensino para seus alunos que seja capaz de contribuir para o desenvolvimento histórico da humanidade. Ele necessita possuir referências para possibilitar o desenvolvimento de referências em seus alunos (nossos filhos e filhas).
Um professor que sequer consegue atender as suas necessidades mais animais fica fragilizado para proporcionar uma prática de ensino realmente de qualidade. Como é que o professor contribuirá para uma educação realmente de qualidade se este não possui nem mesmo qualidade em seu corpo? Como é que nossos filhos poderão se referendar socialmente aos seus professores se estes são tratados com desprezo e exploração pelos governos? Como é que nossos filhos irão aprender se o educador é tratado como cachorro pelo Estado?
Imagino que a situação é de extrema violência contra os trabalhadores no mundo. Neste caso, dos professores e a greve, estou convencido de que a situação de extrema precarização é que impõem a necessidade de greve. A greve não é uma situação extrema. Ela é uma manifestação mínima e legitimada pela própria ideia de direito na sociedade capitalista e que os extremizados devem utilizar todas as vezes que a exploração der o seu mínimo sinal de existência!
E, por isso, termino dizendo que ato extremo é ver nossos filhos sendo degolados pelas falácias do Estado e não fazermos nada. Ato extremo é não estarmos na mesma trincheira daqueles que ensinam nossos filhos a serem verdadeiros e não serem covardes diante das injustiças. Ato extremo é ver aquele que ensina como inimigo. E, o extremo de tudo isso, é deixar nossos filhos e alunos jogados em um mundo de faz de contas enquanto o futuro lhes espera com crocodilos famintos.
Como parte de uma luta internacional, todos à greve já!
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Compartilhada por GleiceOliveira Guarani-Kaiowá.