Relatório da ONG Save The Children mostra avanços no país no que diz respeito ao nível de educação das mulheres, taxa de amamentação e imunização. No entanto, alta taxa de cesáreas, partos prematuros e mortes após abortos ilegais ainda deixam o Brasil mal colocado
Por Marcela Bourroul – Revista Crescer
Um relatório da ONG Save The Children, divulgado na última semana, coloca o Brasil em 78º lugar num ranking de 176 países que aponta os melhores e os piores lugares para se tornar mãe. A principal conclusão do documento é que o primeiro dia após o nascimento do bebê é o mais perigoso para a mãe e para a criança. Dos quase 3 milhões de bebês que morrem anualmente no primeiro mês de vida, cerca de 1 milhão morrem nas 24 horas posteriores ao parto.
Para ranquear os países – cujo primeiro lugar ficou com a Finlândia e o último com a República Democrática do Congo -, a ONG levou em consideração informações atualizadas sobre a saúde da mulher, saúde das crianças, níveis de escolaridade, renda e presença de mulheres na política nacional. No caso do Brasil, a Save The Children destacou a diminuição da mortalidade infantil em 64% entre 1990 e 2011. Essa redução coloca o país no caminho certo para alcançar uma das Metas do Milênio propostas pela ONU – diminuir a mortalidade infantil em dois terços até 2015. Outro ponto positivo colocado pelo relatório é a diminuição das desigualdades entre ricos e pobres, pelo menos em termos de acesso ao sistema de saúde. Além disso, o Brasil conseguiu melhorar o nível de educação das mulheres, a taxa de amamentação, a imunização e teve uma dramática redução de casos de gravidez não planejada.
Mas não é apenas ao lado de elogios que o nome do Brasil aparece. As principais críticas dizem respeito à chamada “supermedicalização do parto”, já que 50% dos bebês brasileiros nascem de cesárea, ao alto número de mulheres mortas em consequência de abortos ilegais e à alta frequência de partos prematuros. Para saber mais sobre o que o Brasil ainda pode fazer para melhorar, CRESCER conversou com Denise Maria Cesario, gerente executiva de desenvolvimento de programas e projetos da Fundação Abrinq, representante da Save the Children no país.
CRESCER: Por que melhoramos?
Denise Cesário: O Brasil melhorou porque tivemos importantes mudanças socioeconômicas e demográficas (crescimento econômico, redução da desigualdade de renda, urbanização, melhoria na educação das mulheres e redução nas taxas de fecundidade); melhorias na saúde (programas de transferência de renda; melhorias no sistema de água e saneamento; promoção da amamentação, hidratação oral e imunizações); além da criação do Sistema Nacional de Saúde (SUS), cuja cobertura foi expandida para atingir as áreas mais pobres do país por intermédio do Programa de Saúde da Família; e a implementação de vários programas nacionais e estaduais para melhoria da saúde e nutrição infantil e, em menor grau, para a promoção da saúde das mulheres.
C.: O que ainda falta fazer?
D.C.: Apesar dos muitos progressos, grandes desafios importantes ainda persistem, incluindo o grande número de cesareanas, que ocorre em 50% dos nascimentos – muito mais elevado que o limite máximo de 15% recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e superior aos números registrados em qualquer outro país. Além disso, o Brasil ainda convive com mortes maternas causadas por abortos ilegais e com uma alta frequência de nascimentos prematuros. É de extrema importância reduzir ainda mais as desigualdades socioeconômicas e regionais na área de saúde, principalmente no Norte e Nordeste do país.
C.: Quais ações simples podem beneficiar mães e crianças?
D.C.: Muitas mortes de mães e recém-nascidos poderiam ser evitadas ao garantir o acesso de ambos a intervenções de baixo custo por meio da expansão e melhoria dos sistemas de saúde, além do acesso a agentes de saúde bem treinados e equipados durante o parto. De acordo com as Nações Unidas, muitas vidas de recém-nascidos até o primeiro mês de vida poderiam ser salvas com o acesso adequado a medicamentos e equipamentos de saúde, como corticoides, anti-sépticos, antibióticos e equipamentos de ressuscitação (alguns bebês precisam de ajuda na primeira respiração). Outras intervenções de baixo custo, como o método Canguru de cuidado materno e a amamentação exclusiva podem salvar muitas vidas de bebês.
C.: O relatório informa que o Brasil ainda apresenta alta taxa de partos prematuros. Quais são as principais causas desse problema no Brasil?
D.C.: A ocorrência de partos prematuros é um grave problema de saúde não apenas no Brasil, mas no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. As causas de prematuridade são inúmeras, entre as principais estão a pressão alta e as hemorragias, as infecções genitais, doenças crônicas pré-existentes, malformações uterinas, gestações múltiplas, fatores sociais, entre outros. Para reduzirmos cada vez mais os partos prematuros no país, faz-se fundamental realizar a assistência obstétrica de qualidade, com rigorosa atenção às condições biopsicossociais das gestantes, identificando as várias situações de risco, exames clínicos e ginecológicos exemplares, além de todos os exames laboratoriais e de imagem que são necessários.
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Compartilhada por Rodrigo de Medeiros Silva.