“Muitas violências são naturalizadas e não são percebidas, sendo difícil o enfrentamento. Urge a necessidade de ampliação da rede de atendimento e o fortalecimento da rede de enfrentamento à violência contra a mulher”, diz a assistente social
IHU On-Line – “As mulheres vítimas de violência, em geral, são vistas no sistema de saúde como as ‘poliqueixosas’ crônicas. O problema é que se tratam os sintomas da violência, e não a raiz”, comenta Patrícia Grossi em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Segundo ela, em casos de estupros, “ainda se pergunta à vítima o que ela estava vestindo, questionando também o comportamento da mesma, como se ela fosse merecedora ou causadora do ato de violência”.
De acordo com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado recentemente, o Rio Grande do Sul é o estado que contabiliza o maior número de tentativas de estupro no país e o quarto em que se registram mais casos de estupro. Para Patrícia, os dados podem ser explicados pelo fato de o estado ainda ter “resquícios de machismo e conservadorismo que contribuem para o alto índice de crimes como o estupro contra mulheres”.
A pesquisadora lembra que os números do Anuário de Segurança Pública também demonstram que “as vítimas de estupro, em geral, não denunciam”. Atualmente, 35% das mulheres denunciam as agressões. Contudo, diz a pesquisadora, “há algumas décadas, esse índice ainda era menor, em torno de 5%. É como a teoria do iceberg, somente vemos o topo, e submerso, milhares de mulheres ainda sofrem no silêncio com esse tipo de violência. Em geral, não denunciam por vergonha, medo de represálias por parte do agressor, desejo de manter a imagem da família, dependência econômica do agressor, dependência emocional, falta de perspectivas, falta de uma rede de apoio, entre outros fatores”. (mais…)