Em Taqui Pra Ti
“Por favor, pare agora, senhor Juiz, pare agora”
Wanderlea
Quando tomei conhecimento da lambança do juiz que foi flagrado numa blitz no Rio dirigindo sem habilitação um carro sem placa e sem registro de licenciamento, telefonei para minhas irmãs em Manaus. São elas as narradoras oniscientes que me abastecem com as histórias do Bairro de Aparecida, em cujos becos cabe todo o universo. Tudo o que acontece e ainda vai acontecer no planeta, já ocorreu no Beco da Bosta, onde se vive um tempo mítico. O Beco contém o mundo e o infinito. Essa é que é a verdade.
– Maninha, como é o nome do teu ex-vizinho, marido da dona Albertina, que mandou prender a Leonor por causa da farinha do Uarini?
– “Cachorrão” era o apelido. Já morreu faz tempo. Esqueci o nome dele, mas da história eu lembro – me disse a Dile.
Consultei as outras irmãs. Nada. Nenhuma delas – são 9 – sabia o nome do “Cachorrão”. Nem a Helena que tem memória de elefante. O cara era tão bostífero, mas tão bostífero que elas apagaram seu nome da memória. Nos anos 1950, ele serviu o Exército aquartelado no 27° Batalhão de Caçadores, hoje prédio do Colégio Militar. Lá dentro era um reles soldado e se borrava todo diante do grito do sargento, mas lá fora se sentia “o general”, berrava e mugia, humilhava e agredia mulher, filhos e vizinhos civis. (mais…)