O companheiro Cleomar, Coordenador da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Bahia, foi covardemente assassinado nesta quarta-feira, 22 de outubro de 2014, após passar pela “cancela do cascalho”, uma das primeiras do caminho para chegar à Área Revolucionária Unidos com Deus Venceremos, onde o companheiro morava, trabalhava e lutava pelo pedaço de terra junto com outros companheiros.
Seu corpo foi encontrado perfurado por arma de fogo, de acordo com as primeiras informações de sua companheira que estava bastante emocionada.
Estamos enviando este comunicado para todos os que apoiam e acompanham a luta pela terra, para que se manifestem repudiando mais este crime do latifúndio e deste Estado podre e assassino, enquanto os companheiros da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas recolhem todas as informações e preparam uma honrosa despedida para este mártir da luta do povo.
Conclamamos a todos que (apesar da distância) possam se fazer presentes nas despedidas ao companheiro, que o façam.
Cleomar era humilde, dedicado, responsável, trabalhador, combativo, inteligente, paciente, perspicaz, politizado. Marido e pai exemplar, respeitador, sereno.
Cleomar cansou de receber ameaças de morte, cansou de denunciar às autoridades, sem que nenhuma providência fosse tomada.
O roteiro do assassinato do companheiro Cleomar repete o de outras centenas de emboscadas contra camponeses em luta pela terra: em uma porteira, onde o companheiro tem de parar; e após uma audiência do Ministério Público, no dia 09 de outubro, onde o companheiro cobrou as estradas fechadas pelo latifúndio, a água de poços artesianos prometidos e travados pelo CDR municipal, a desapropriação e a entrega das terras que ocupava pelo INCRA, terras que já estavam desapropriadas quando ele e as famílias entraram nelas, mas cujo processo havia voltado à estaca zero, também como milhares neste país nos últimos anos.
Cleomar nesta audiência denunciou na cara dos latifundiários as ameaças contra ele, conclamou à união de camponeses, vazanteiros, pescadores e quilombolas contra o latifúndio para conquistar a terra.
Cleomar ajudou a fazer o corte popular em dezenas de áreas, Cleomar organizou a produção de mel por um grupo coletivo, e imaginem a felicidade que ele ficou quando viu o “seu” mel ajudando os manifestantes presos políticos no Rio de Janeiro… Cleomar havia participado no começo do ano do Congresso da Associação Internacional dos Advogados do Povo, e seu interesse pelas lutas de outros povos era contagiante.
O Cleomar não queria só terra não, o Cleomar queria o poder para a aliança operário-camponesa!
Levantemos bem alto o nome, a consciência e a luta do companheiro Cleomar, mártir do nosso povo!
Dor e revolta, ódio, vingança! Contra os assassinos e os responsáveis pelo assassinato do companheiro. Os primeiros, latifundiários e pistoleiros; os segundos, esse Estado e seus gerentes ou candidatos a gerentes, oportunistas, canalhas; esses dois candidatos que estão aí poderiam ter evitado a morte do companheiro, se fizessem ao menos um por cento do que diz essa constituição brasileira de … O Cleomar já estava com nojo de ir a audiências no Incra e ver a cara lavada com que o gerente local mentia, ironizava e enrolava.
Dor e revolta, ódio, vingança. Exigimos Justiça!
Honra e glória aos mártires do nosso povo!
Viva a luta pela terra! Viva a Revolução Agrária!
Companheiro Cleomar, Presente na luta!
Belo Horizonte, 23 de outubro de 2014.
Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres – LCP
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Zilah de Mattos.
A terra é de quem trabalha nela.