Voto sem papelzinho: “Urnas brasileiras são um atentado à democracia”

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“O processo eleitoral brasileiro está sofrendo intervenção pesada”

Viomundo

Leia aqui a transcrição completa da entrevista com Gustavo Castanõn, doutor em psicologia pela UFRJ e professor de filosofia pela Universidade de Juiz de Fora sobre as eleições, o poder judiciário, as urnas eletrônicas, institutos de pesquisa e uma fraude gigantesca que se opera no Brasil

do site do PCO, sugerido pela Perci Marrara

Reprodução Parcial e editada para melhor entendimento

Causa Operária: Desde 2010 você questiona a urna eletrônica. O que motiva essa desconfiança?

Gustavo Castanõn: A fraude. A fraude sistemática que ocorre toda eleição no Brasil, desde que eu acompanho, 1998.

É claro que pode parecer leviana essa afirmação. Eu não tenho como provar a ocorrência dessa fraude materialmente. Por um motivo muito simples: porque nenhum ser humano teria como provar, já que as urnas brasileiras são as únicas no mundo inteiro que são completamente invulneráveis à fiscalização.

Você não tem como fazer a recontagem dos votos, não tem uma contraparte física dos votos, é um completo descalabro, um absurdo, um atentado à democracia.

Não existe democracia sem transparência nos processos eleitorais, nos processos de votação.

Eu tenho certeza de que ao menos a desconfiança que eu estou manifestando é compartilhada por cidadãos brasileiros de todas as matizes políticas, de todas as regiões do país e de todas as idades.

A urna eletrônica não tem a confiança dos brasileiros, apesar da propaganda maciça do TSE, das redes de televisão e do enorme bloqueio midiático a todas as denúncias de fraude que ocorrem sistematicamente em todas as eleições.

Então, o que motiva minha desconfiança basicamente é: a urna brasileira é a única no mundo que não permite recontagem de votos, não permite fiscalização.

Há o empenho do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo [Tribunal Federal], através de ministros como o Nelson Jobim, em cercear, chantagear, impedir o Congresso Nacional de alterar esse sistema de uma maneira completamente ostensiva e absurda, assim como a rejeição pelo STF de uma reforma eleitoral aprovada pelo próprio Congresso [prevendo a] impressão do voto. Alegam que a decisão iria contra o direito constitucional do voto secreto, quando nós sabemos que esse papel impresso seria para ser depositado imediatamente, dentro da cabine, em uma urna física, para permitir a recontagem de algumas seções.

Ou seja, esse empenho absurdo do TSE — que não tem que se empenhar politicamente em nada–  faz pensar que estamos diante de um grande sistema de fraude e um negócio milionário, em toda eleição, envolvendo os votos dos eleitores.

É claro que eu não posso afirmar isso, não estou fazendo essa afirmação, mas você é levado a perguntar isso: será que isso é um negócio?

Será que existe tanto interesse pessoal desses juízes do Supremo em pressionar o Congresso, a Comissão de Constituição e Justiça e posteriormente votar contra a alteração já foi aprovada pelo Congresso Nacional?

Nosso Congresso Nacional é muito ruim, mas será que ele é melhor que o próprio Supremo?  Esse Congresso é uma corja de deputados eleitos em sua grande maioria com a força do dinheiro, mas até eles querem acabar com isso. E o Supremo não permite?

Como o Supremo pode considerar a impressão de voto com depósito automático na urna, só para conferência, uma violação ao voto secreto? Todos os países do mundo que aplicaram a urna eletrônica fizeram esse procedimento, todos os países do mundo que testaram a urna eletrônica do Brasil. Até Honduras e o Paraguai rejeitaram a urna eletrônica brasileira.

Os países que adotaram sistema eletrônico de voto imprimem seus votos e depositam na urna para garantir a recontagem, por amostragem.

Todos os especialistas em informática dizem que o sistema brasileiro é vulnerável.

Bem, isso são só fatos concretos, objetivos que eu estou falando.

Agora, nos resultados das eleições desde 1998, eu acompanho as diferenças entre as pesquisas de boca de urna e o que sai das urnas —  e é sistematicamente contra candidatos de esquerda, com exceção da Bahia, que é um caso à parte.

Tem acontecido muitas vezes, desde 2006, em todo o país, sistematicamente, surpresas em relação às pesquisas de boca de urna e é sempre contra a esquerda.

Você poderia esperar que ocorresse uma coisa para um lado, outra coisa para o outro lado. Afinal de contas, é margem de erro, é eventual, teria que ser distribuído isso.

Mas sistematicamente acontece contra candidatos considerados mais à esquerda ou que oferecem uma ameaça real ou imaginária a interesses da classe dominante.

Então, tudo isso é muito suspeito e é o que me faz desconfiar da urna eletrônica.

Causa Operária: Você citou Honduras e Paraguai. Poderia citar outros países que recusam a urna eletrônica brasileira e por quê?

Gustavo Castanõn: Os EUA, a Argentina, a Venezuela…

E eles rejeitam porque é uma urna de 20 anos atrás e não oferece nenhuma segurança e nenhum meio de recontagem de votos.

Estamos diante do caso mais espetacular da história das eleições brasileiras de todos os tempos: a votação do senhor Aécio Neves em São Paulo, no pleito de 5 de outubro.

É uma votação que cresceu, em relação à pesquisa Datafolha de um dia antes, 24% em 24 horas.

Foi o que o Aécio cresceu em São Paulo, se a gente considerar o Instituto Datafolha um instituto sério.

Imagina se não considerar que é sério, porque imaginar que o instituto da Folha, o Ibope da Globo estão trabalhando contra os candidatos do PSDB é, no mínimo, patético.

Então, considerando que o Datafolha já trabalha para o candidato do PSDB, como pode o Aécio Neves sair das urnas no dia 5 de outubro com 24% de índice de votos — não é 24% a mais nos votos dele, não — é de índice total de votos a mais do que ele tinha de intenção de votos um dia antes, de acordo com o Datafolha, em São Paulo.

Então, esse é um escândalo absoluto. Esse é o motivo. Nesse momento, o que podemos fazer? Podemos pedir recontagem dos votos? Não. Não existe nenhum meio de recontagem de votos.

O que se poderia recontar é o boletim eletrônico emitido pelas urnas, que estão registrados no TSE. Porque nem os papéis das zerésimas emitidos no fim da votação a gente tem, não tem mais acesso aos papéis das zerésimas.

[Nota: É o nome dado ao relatório emitido pelo sistema de computação das urnas eletrônicas, com a finalidade de comprovar a inexistência de algum voto computado no sistema antes do início da votação. Cada urna eletrônica, na ocasião da apuração, deve estar acompanhada de uma zerésima]

Como vamos fazer recontagem de votos? É por isso que nenhum país democrático, nenhum regime democrático permite a incapacidade de auditar as eleições e contar votos.

É da essência da democracia conseguir recontar os votos. Só no Brasil você não consegue recontar votos.

Esse é motivo pelo qual os Estados Unidos até hoje preferem os votos de papel. De fato, voto de papel tem fraude. Mas as fraudes não podem ser volumosas. Não dá para fazer grandes fraudes. Tem fiscais dos partidos nas cidades.

Então, vai ter fraude que pode decidir as eleições como a do [George W.] Bush e a do [Al] Gore na Flórida, porque a margem de votos é muito estreita. Ou como decidiu, na minha opinião, a eleição [presidencial] contra o Brizola, em 1989, em Minas Gerais, fazendo o Lula passar para o segundo turno.

Era interesse da direita eliminar o Brizola do segundo turno. Eles consideravam que o Lula não tinha a menor possibilidade de ganhar e ficaram assustados depois com o que aconteceu.

Agora, não pode haver uma fraude de 2, 3, 4% [dos votos] numa votação de papel.

Imagina: como fraudar um partido como o PT, que é o partido declarado de 23% dos brasileiros? Fraudar um partido que tem uma militância do tamanho que o PT tem?

Como fraudar em massa uma eleição contra o PT através do voto de papel? Então eu acho que a gente está numa situação muito delicada. Por que o país mais rico do mundo não aplica esse tipo de sistema? Nem sequer de voto eletrônico?

Todos os países que adotaram esse sistema fazem a impressão do voto. O motivo é óbvio: é o único meio de garantir a conferência e recontagem dos votos por amostragem.

A pessoa vota, a urna emite um recibo, ela confere o resultado da votação, se tiver contrário comunica à mesa, que anula o voto e ela pode votar novamente. Se estiver de acordo deposita na urna e sai da urna sem o papel — o voto secreto permanece inviolável.

Agora, diante de uma votação como essa em São Paulo, onde o PT perdeu para o Aécio no ABC (no ABC!) em regiões tradicionais do PT, na periferia de São Paulo… você poderia questionar, “olha esse resultado é muito estranho, vamos fazer recontagem aqui”.

Aí abre-se [as urnas] por amostragem, os fiscais dos partidos escolhem 2% das urnas e conferem. Isso ofereceria ao pleito uma segurança muito grande, mas infelizmente não é o que a gente tem.

Causa Operária: Em artigo seu publicado em 2010 você relata casos denunciados como fraude ainda em 2006. Poderia relatar este e outros casos de que tenha conhecimento?

Gustavo Castanõn: Houve casos extremamente absurdos em 2006. Houve o caso de Guarulhos, em São Paulo, que ficou muito famoso e foi alvo de matéria do SBT.

Houve casos de fraudes absurdas no Maranhão, ficaram muito famosos na rede, porque a grande mídia raramente reproduz. Mas nesses casos até houve reportagens de rede de televisão.

Houve o caso de Alagoas. Chegou ao TSE o julgamento, uma fraude generalizada, maciça, no estado todo e que não deu em absolutamente nada.

Houve alegações de fraudes em muitos lugares, mas esses três — Guarulhos, Maranhão e Alagoas — a realidade da fraude ficou muito evidente. A mídia não divulga e o TSE afirma que são casos isolados, problemas com uma urna, de inseminação em uma seção etc.

Eu posso narrar um evento pessoal me tornou adversário ferrenho das urnas eletrônicas e do processo eleitoral do jeito que está.

Quando eu era do PDT, do Brizola, em 1998, era fiscal do partido, nas eleições.

Garotinho era o candidato a governador no Rio de Janeiro. Como eu era militante motorizado na época e, digamos assim, bem doido, com fama de destemido, me mandaram para o maior foco de corrupção eleitoral do Rio de Janeiro que era, na época, pelos boatos da época, a seção eleitoral de Bangu. Fomos eu e mais um militante da área.

Tenho certeza que ele confirmaria a história, mas eu não vou revelar o nome dele, a não ser que me intimem para tal. Tenho certeza que ele, assim como a nacional do PDT, poderiam confirmar essa história, com certeza.

Fui lá exercer meu direito como fiscal. exigir as zerésimas das urnas, assim que fechou a votação. Porque você fecha a votação, emite a zerésima com os votos daquela urna e manda o boletim eletrônico para o TSE. Mas lá não apareceu ninguém, no local onde eles levariam as urnas para fazer esse suposto procedimento. Não havia fiscal nenhum.

Quando eu cheguei foi um alvoroço. Não queriam me deixar emitir as zerésimas, o que é direito de todos os fiscais. Não queriam emitir nada. Depois de duas horas começaram a chegar carros pretos com juízes eleitorais. De várias áreas adjacentes a Bangu e uma profusão de juízes engravatados, velhos irados, me ofendendo e ofendendo meu companheiro. Eu devo confessar que estava com medo.

Estávamos no meio do mato, do nada, em uma região violenta e um monte de pessoas de nenhuma credibilidade moral, juízes eleitorais etc. me ameaçando. Uma situação e pessoas extremamente perigosas. Mas eu falei, só saio daqui com as zerésimas ou no caixão.

Eles então apareceram com uma urna, para emitir uma zerésima, eu disse que ia emitir de todas as urnas daquela zona eleitoral. E falei que ia chamar a imprensa e comecei a ligar. Liguei para o partido, falei que estava pegando a fraude. E foi enviado um camarada para cumprir aqueles três passos típicos. Ele se apresentou como um assessor do meu partido, falando primeiro que o partido já sabia de tudo e que poderíamos ir para casa. Eu liguei e perguntei para o responsável, na época o Hugo Leal, que me disse que nunca tinha ouvido falar naquele nome. Foi aí que ele tentou subornar a mim e a meu colega.

Eu disse que não adiantava e estava ali para desmascarar aquela fraude. Aí começou a me ameaçar. Disse que fulano era muito poderoso, disse que poderia acontecer algo de estranho comigo, com minha família, essas ameaças típicas. Foi quando eu falei que “só duas pessoas me tiram daqui, ou o Brizola ou o Garotinho. Se um deles me ligar eu saio daqui. Nesse caso não aceito sair daqui nem com ordem da executiva nacional do PDT”.

Resultado? Nenhum. Fiquei lá até anoitecer, com muito medo, cercado de juízes e eles não emitiram zerésima alguma e o resultado foi no primeiro turno no Rio de Janeiro, tudo muito abaixo do esperado pro Garotinho. A expectativa era de o Garotinho ganhar no primeiro turno. O resultado do PSDB foi absurdo, muito além da margem de erro da pesquisa de boca de urna.

Para o Lula também, muito menos votos que o esperado no Rio de Janeiro.

Pois bem, a partir daí eu me tornei uma pessoa convicta da fragilidade da urna.

Além disso, tem as histórias que nós escutamos. Eu fiz política no Rio de Janeiro, política partidária. Não trabalhei no governo Rosinha Garotinho, mas fui assessor parlamentar da liderança do partido, e conheço muitos deputados. A gente escuta isso o tempo todo no Rio de Janeiro.

A oferta de votos pelo TSE, é claro que tudo pode ser história, mentira, mas são coisas comuns de se ouvir no Rio de Janeiro. Você não pode provar, a quantidade de mentiras na política é muito grande, mas isso que eu narrei eu vivi.

Não tenho menor dúvida do significado dessa história, do que eu passei, e é só um caso objetivo que se soma a esses casos objetivos de Alagoas, Maranhão e Guarulhos.

Se qualquer um procurar no YouTube, na internet, “fraude eleitoral em Guarulhos” ou “fraude eleitoral em Alagoas”  ou “fraude eleitoral em Maranhão” vai encontrar as reportagens às quais estou me referindo.

Causa Operária: Nesse mesmo artigo de 2010, você diz que as grandes diferenças que aparecem no primeiro turno, dificilmente se repetem no segundo turno. Por que isso seria assim?

Gustavo Castanõn: Porque a possibilidade de fraudar é menor, já que todos os olhares das eleições estão voltados para poucos resultados. Não existem mais eleições proporcionais, porque nas eleições proporcionais você pode fraudar em massa sem que ninguém perceba essa fraude. A tendência é que no segundo turno a fraude seja menor.

O problema é que a diferença é sempre em relação à pesquisa de boca de urna. E a própria boca de urna pode ser fraudada. Então, vamos supor que a situação agora estivesse Dilma 55% e Aécio 45% dos votos válidos.

Pode-se esperar que um instituto faça uma [pesquisa de] boca de urna com a Dilma com 53% e o Aécio com 47% e vêm as urnas e pega 3% da Dilma, coloca no Aécio, e dá a vitória pro Aécio por uma margem ínfima de votos.

Veja que agora não estão mais respeitando nem mesmo a margem de erro. É uma mentira que uma pesquisa com 64 mil eleitores no Brasil inteiro, todos os estados da Federação — porque eles fizeram boca de urna para os governos estaduais — tenha pouco mais de 0,5% de margem de erro. Abstenção não explica isso. Porque quem se absteve não apareceu na seção eleitoral para responder à pesquisa.

Eu trabalhei cinco anos em pesquisa de opinião. Não trabalhei no Ibope, mas trabalhei no Datafolha, Databrasil, até para o Info Globo eu fiz duas pesquisas, como pesquisador e supervisor de campo.

Numa pesquisa de boca de urna você faz pesquisa em massa.

Ninguém frauda funcionário porque não precisa. Você pega o cara que saiu da seção e simplesmente pergunta “em quem você acabou de votar?”

O Datafolha ainda faz o seguinte: “Está aqui uma urna e um papel. Responde, por favor, em quem você acabou de votar”. A pessoa vai lá, responde, o voto continua secreto e acabou.

Em uma pesquisa desta você vai dizer que as pessoas estão com medo de dizer em quem votaram, por quê? Nem sequer elas revelam, necessariamente, para o entrevistador de quem é o voto.

Não tem como ter uma diferença grande entre a pesquisa de boca de urna e o resultado.

É impossível.

[…]

Causa Operária: Falando das eleições de 2014. Com base em que dados você sustenta a possibilidade de fraude no primeiro turno?

Gustavo Castanõn: A primeira das fraudes aparentes da eleição, que parece ser uma fraude maciça, absurda e sem vergonha é a votação que o Aécio teve em São Paulo.

Um completo absurdo comparado com as pesquisas anteriores que eram favoráveis a ele, de institutos, de jornais que o defendem publicamente como Folha de São Paulo e O Globo. O que é sabido e não existe dúvida quanto a isto.

Achar que esses institutos estavam prejudicando o Aécio não faz nenhum sentido político. Pode fazer para leitores de Olavo de Carvalho, esse tipo de pessoa. Mas para qualquer pessoa que raciocine o mínimo, ou que conheça o processo político brasileiro não faz o menor sentido.

Então estamos diante de um caso em que o Datafolha dava, 24 horas antes, para o Aécio, na cidade de São Paulo, 24% a menos dos votos.

No Brasil inteiro, em uma eleição que teve 66 mil e 400 entrevistados na boca de urna do Ibope, uma pesquisa dessa monta teria uma margem de erro de 0,5%, que eles colocam em 2%, que parece um número mágico.

Serve para salvar a pele deles, mas na verdade uma pesquisa dessas tem uma margem de erro muito menor.

A margem de erro se calcula em função da quantidade da amostra em relação à população que ela representa. E o Aécio teve 3,5% a mais de votos do que previa o Ibope na boca de urna. Isso é um absurdo!

A pesquisa tinha uma margem de erro real de 0,5% e declarado de 2%. Como que [Aécio] pode ter 1,5% a mais da margem de erro dessa pesquisa? Muita gente fala das abstenções.

Mas abstenção não tem nada com isso. Ela pode mudar os percentuais em relação à pesquisa que se faz na rua — e já tinha mudado — mas nem vou entrar nessa situação, considerando assim que a própria pesquisa de boca de urna não é confiável.

A verdade é que se discutia, 24 horas antes das eleições, a possibilidade de a Dilma ganhar no primeiro turno, com 47, 46% das intenções de voto — e ela sai com 41% das urnas. Isso é uma brincadeira.

Na boca de urna do Ibope ela tinha 44% de votos. Porque boca de urna não mede intenção de voto, mede em quem a pessoa votou.

Mas sai das urnas abaixo da margem de erro declarada do Ibope de 2% e muito abaixo da margem de erro real de 0,5%.

Então, o que a gente vê sistematicamente é a transferência de, no mínimo, a margem de erro do PT para o PSDB. A gente não pode dizer que isso é fruto de fraude.

Mas essa coincidência fantástica estatisticamente, inédita na história da Humanidade, ocorre desde 2002.

Tem a boca de urna, abre a urna e a margem de erro quem comeu? A margem de erro do PT para menos e a margem de erro do PSDB para mais. É uma coisa fantástica. Se isso ocorresse ao acaso iria variar de eleição para eleição.

Mas vou dizer os números das outras eleições. Depois eu volto para 2014.

Em 2002 o Lula saiu da boca de urna com 63% e teve nas urnas eletrônicas 61%. O Serra saiu da boca de urna do Ibope com 37% e saiu das urnas com 39% dos votos.

Em 2006 o Lula saiu da boca de urna do Ibope com 50% dos votos, ganhando a eleição no primeiro turno, mas saiu da urna eletrônica do TSE com 48,7% dos votos.

O Alckmin saiu da boca de urna com 38% dos votos e das urnas eletrônicas do TSE com 41,6%, muito parecido com o que aconteceu com o Aécio esse ano.

Em 2010 para presidente a Dilma estava eleita no primeiro turno pela boca de urna do Ibope. Ela saiu da boca de urna com 51% dos votos e saiu das urnas eletrônicas do TSE com 46,9%, pior do que aconteceu esse ano. O Serra saiu da boca de urna do Ibope com 30% dos votos, saiu das urnas eletrônicas do TSE com 32,6% dos votos. A Marina também saiu com mais do que na boca de urna, provocando o segundo turno.

No segundo turno Dilma saiu com 58% dos votos na boca de urna, saiu das urnas eletrônicas do TSE com 56% dos votos. Serra com 42% na boca de urna, 44% no TSE. E esse ano é isso que a gente viu.

Primeiro, 24 horas antes o Aécio estava com empate técnico com a Marina. Dois dias antes, Aécio estava atrás da Marina. E saíram os resultados das urnas eletrônicas e Aécio teve 12% de votos a mais que a Marina. Foram 12% em 48 horas.

Uma virada de 15, 14% de votos entre os dois.

Dilma com 44% na pesquisa de boca de urna — não é em pesquisa anterior, é na boca de urna — mas sai com 41,5% nas urnas eletrônicas; Aécio com 30% sai com 33,5%.

Enfim, as pessoas acreditam no que elas querem. Tem gente que acredita em urna eletrônica. Em urna eletrônica que não se pode fiscalizar.

[…]

Causa Operária: Você de alguma maneira também questiona os institutos de pesquisa? Por quê?

Gustavo Castanõn: Porque eu trabalhei neles. As pesquisas existem. As pessoas vão para a rua e fazem as pesquisas. Mas o problema não está na ponta. Pode até ter um pesquisador que fraude formulário, mas isso é muito dissolvido, não é o problema.

O problema pode ser na escolha das cidades onde vai fazer a pesquisa. Quando o instituto é mais sério manipula dessa maneira: ele escolhe em que cidades vai fazer, em que pontos da cidade vai fazer a pesquisa.

Por exemplo, p Datafolha faz amostra de rua.

Se me mandarem para Conceição do Rio Verde, em Minas Gerais, fazer uma pesquisa, se eu fizer a pesquisa num bairro nobre, vai dar o mesmo resultado que se eu fizer numa comunidade do Minha Casa Minha Vida?

O Datafolha te diz qual esquina você vai fazer, geralmente uma esquina de muito movimento na cidade, mas você pega o voto da periferia se você faz no centro da cidade, por exemplo?

Então pode-se manipular dessa maneira, ou simplesmente dizer que os números são outros. É uma pesquisa eleitoral. Não tem recontagem de votos, não tem nada. Não tem fiscalização. Não posso dizer que os institutos façam ou não isso, mas a gente vê casos absurdos.

Durante a campanha eleitoral a única certeza que você tem é que tem instituto manipulando. Porque durante a campanha eleitoral os resultados chegam a variar 20% de intenção de votos em um candidato de uma pesquisa para outra. Então é lógico que tem alguém fraudando. Porque como, quem, isso a gente não sabe.

Se esses institutos que fazem pesquisa recebem dinheiro, são comprados pelos partidos, ou emissoras de TV que tem interesse em fazer uma pesquisa, ora, são empresas privadas, há dinheiro. A única coisa que vai impedir eles de venderem um produto falso é a credibilidade mercadológica deles. Esse é o limite. Não tem limite moral nesse processo.

Eu estou falando de fraude objetiva, em resultado absurdo estatisticamente em relação à [pesquisa de] boca de urna. Mas a própria pesquisa de boca de urna pode ser fraudada. Então vamos supor que lá no primeiro turno os resultados reais foram os que saíram no Vox Populi, no Ibope em cima da eleição. Dilma com 47%, Marina com 23% e Aécio 23%.

Vamos supor que eu estou no controle da fraude, com muito dinheiro.

Vou ao instituto e falo que “quero um resultado de queda da Dilma para 44% e queda da Marina para 21% e subida do Aécio para 30%.  Eu garanto que os resultados vão ser mais ou menos assim. Você não vai ter problemas de reputação, basta colocar a margem de erro de tanto…”.

Aí sai da urna com uma margem de erro maior. Então você frauda a urna com 8%, 10%, como parece ter acontecido no Rio Grande do Sul.

O resultado do primeiro turno das eleições 2014 no Rio Grande do Sul é o mais escandaloso resultado eleitoral de todos os tempos no Brasil. Todos os tempos.

Tem um candidato que sai da boca de urna com 4.000 entrevistas, numa margem de erro também de 0,5% — que eles dizem ser de 2% — e o candidato sai com 29% da boca de urna mas nas urnas eletrônicas o senhor Sartori [José Ivo Sartori, candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PMDB] sai com 40,4% dos votos. Acredite nisso quem quiser. É inviável, impossível, é a evidência absoluta da fraude. Não tem outra forma de interpretar esses dados.

Eu, como cidadão, me reservo o direito da indignação diante desse processo eleitoral. Eu sou uma pessoa completamente indignada com o fato de não poder recontar os votos da minha seção, de não saber se meu voto foi computado, de não poder checar os resultados da minha eleição. Isso é um atentado à democracia. Nenhuma democracia pode sobreviver à falta de legitimidade das suas eleições, do seu Congresso que as urnas eletrônicas causam no Brasil.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

Comments (2)

  1. Roberta,
    Garantida total liberdade de opinião e expressão, só para esclarecer uma dúvida: você está chamando Dilma e Lula de comunistas? E o Príncipe dos Sociólogos também?

  2. Estas urnas são fraudes declaradas. E mais outras maracutaias.

    O entrevistado acima cita as possíveis fraudes do PSDB, mas eu cito aqui as possíveis fraudes do vermelhão PT, o dono da máquina do poder em meu estado e no país.

    Aqui ocorreram este ano VÁRIOS casos de sequestros anteriores de números de títulos de eleitores, a pessoa aparecia pra votar, o mesário digitava o número e dizia “já votou, minha senhora”, e ela, “não votei não !!”. Isso é FRAUDE, e tudo acabou em pizza – azeda…

    Outra maracutaia aqui é que, nas áreas rurais em que o PT sabe que vai perder, fecha as urnas logo após o almoço sem esperar os barcos de eleitores chegarem, isso sempre acontece, nos 16 anos da dinastia vermelha… TRISTES TRÓPICOS !!! Democracia quase zero…

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