Carta Denúncia: Acampamento Geraizeiro do Alegre é alvo de ataque e de ameaças por policial aposentado

No dia 29 de Setembro de 2014, 135 famílias dos gerais e veredas de sete comunidades do Distrito de São Joaquim, no município de Januária Norte de Minas, retomaram seu  Território Tradicional. As famílias acampadas, vêm sofrendo uma série de ameaças e ataques por parte de um fazendeiro, vizinho da área retomada pelas famílias. Anexo [abaixo] a carta denúncia enviada às autoridades, relatando os últimos acontecimentos e solicitando com urgência apuração dos fatos. (Zilah de Mattos – Comissão Pastoral da Terra)

movimento geraizeiro

Ao Ministério Público de Conflitos Agrários de Minas Gerais
À Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
À Delegacia de Conflitos Agrários de Minas Gerais
À Ouvidoria Agrária Nacional

As 135 famílias do Acampamento Geraizeiro do Alegre, do Distrito de São Joaquim, município de Januária sofreram várias ameaças e um violento ataque na quinta feira, dia 16 de outubro de 2014. O fato se deu por volta das 18 horas quando o investigador aposentado da Policia Civil de Minas Gerais, o Sr. Edson Eduardo Sales Gomes, proprietário vizinho ao Acampamento do Alegre, deixou sua camionete Hilux, adentrou o acampamento, derrubou a bandeira do Movimento Geraizeiro e, em seguida, desferiu dois tiros, enquanto ameaçava aos geraizeiros que assistiam atônitos à investida: corram daqui senão vou matar todo mundo!

Os geraizeiros imediatamente comunicaram o fato à Policia Militar e solicitaram o envio de uma viatura até o acampamento para fazer um boletim de ocorrência. Para surpresa dos acampados, no dia 18 de outubro, sábado, às 22:30 horas uma caminhonete amarela e com luzes piscando no teto superior parou em frente à casa do jovem Donizete, na comunidade de Poçãozinho, distrito de São Joaquim. Os quatro ocupantes se dizendo policiais e fortemente armados com espingardas calibre 12 solicitaram o documento do mesmo e pediu que chamasse o seu pai, o Sr. Pedro. O mesmo se dirigiu até a caminhonete e os policiais solicitaram também o seu documento de identidade. O Sr. Pedro perguntou se os mesmos vieram fazer o boletim de ocorrência e que o fato deveria ser realizado no acampamento e não na casa dele uma vez que não fazia parte do acampamento. Com brutalidade um dos ocupantes do veículo perguntou: que ocorrência? O Sr Pedro respondeu: a do Sr. Edson que, segundo os acampados, disparou tiros no acampamento. Um dos ocupantes reagiu imediatamente: o Sr. Edson sou eu, e agora é que vocês vão ver o que é tiro! O veículo em seguida saiu em alta velocidade e a comunidade ouviu assustada mais dois tiros de espingarda 12 sendo disparados para o alto.

No dia 20 de outubro lideranças do Movimento Geraizeiro se dirigiram até a cidade de Januária e procuraram apoio da CPT, Cáritas, CAA, Comissão de Direitos Humanos, Diocese de Januária e também junto a professores do Instituto Federal Campus de Salinas. Juntamente com assessoria jurídica, comunicaram o fato à delegacia da Policia Civil e ao Batalhão da Polícia Militar de Januária e também junto ao Ministério Público de Conflitos Agrários de Minas Gerais, à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e à Delegacia Estadual de Conflitos Agrários. Consideram o caso muito grave, pois membros e estrutura da corporação da Policia Civil de Minas Gerais estão sendo utilizados para as ameaças e ataques contra o Acampamento Geraizeiro do Alegre.

Junto com esta denúncia, outra já registrada também em um Boletim de Ocorrência – M2789-2014-4228735 – ocorrida na madrugada do dia 06 de outubro quando três focos de incêndio foram simultaneamente disparados em volta do acampamento no intuito de queimar os barracos e que provocou um enorme incêndio nas veredas. Este só não foi maior porque foi mobilizada uma grande turma do acampamento e da comunidade de Poções para apagar o incêndio. Na preocupação e desespero em tentar controlar o fogo, uma criança de 13 anos, sofreu queimaduras nas pernas e se encontra internada no hospital em Januária.

Uma pergunta fica no ar: porque o Acampamento Geraizeiro do Alegre vem sendo alvo de ataques e ameaças embora já esteja ocorrendo uma negociação intermediada pelo Ministério Público Estadual com a Empresa PLANTAR? Porque os geraizeiros vêm sendo ameaçados por organizarem um acampamento em terras que foram supostamente griladas, que sofreu uma degradação sem precedentes pelo plantio da monocultura do eucalipto e agora, com o Acampamento, estão propondo a criação de um Assentamento Agroextrativista para, sob o seus cuidados, promoverem a recuperação de uma área de quase 20 mil ha que foi degradadas pela PLANTAR e RIMA? Porque um fazendeiro vizinho, policial aposentado, cuja terra está fora da disputa, vem aterrorizando a comunidade?

O Movimento Geraizeiro, pastorais, entidades e organizações que estão solidárias com a luta das comunidades dos gerais e das veredas de Januária solicitam o empenho e agilidade das autoridades nas investigações e apuração dos fatos e que atendam às demandas dos Geraizeiros e Veredeiros de Januária que reivindicam o reconhecimento dos seus direitos territoriais e a promoção da preservação do Cerrado, com suas nascentes e veredas.

Movimento Geraizeiro de Januária
Comissão Pastoral da Terra
Cáritas da Diocese de Januária
Comissão de Direitos Humanos de Januária
Professores do Instituto Federal Campus de Januária
Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas
Laboratório ETTERN/IPPUR/UFRJ
Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais

Januária, aos 21 de outubro de 2014.

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