Depois da postagem sobre o valor dos votos das “elites” e do dos “excluídos“, este texto, que acabo de receber, não poderia ficar de fora. (Tania Pacheco)
Como votar no 2º turno? De um lado, a direita, cada vez mais raivosa e conservadora, mostra suas garras e, uma vez mais, seu profundo desprezo pelo povo e por sua inteligência. De outro lado, uma coalizão que, após 12 anos de governo, parece ter perdido tanto os laços com suas origens quanto a possibilidade de se reinventar para o futuro.
Em 2002, a eleição de Lula para a presidência da república representou o desenlace das lutas travadas desde o fim dos anos 1970, que aceleraram a queda da ditadura militar e sua “transição lenta, gradual e segura”, como a designavam os ditadores de plantão, seus principais beneficiários e prestadores de serviço: a grande mídia, os “democratas moderados” (que têm mais medo de povo que amor à democracia), o grande capital convertido às virtudes da transição negociada após 20 anos de benesses obtidas sob as asas do autoritarismo, e, nunca é bom esquecer, muitos intelectuais desde sempre disponíveis para explicar por que razão uma “transição brusca” e um “excesso de democracia” constituiriam uma ameaça à democracia.
Desde as grandes mobilizações populares do início da década de 1960, em 2002, pela primeira vez encontrava-se novamente a sociedade brasileira colocada diante de uma oportunidade histórica; abriam-se caminhos, senão para a revolução social, ao menos para profundas reformas políticas, econômicas e sociais.
Nos anos 1960, as lutas populares colocaram no campo das possibilidades as “reformas de base”: reforma agrária, reforma urbana, reforma universitária, reformas bancária e fiscal, entre outras, que, se levadas a cabo de maneira integrada e consistente, teriam mudado a face do Brasil. Como sabemos, uma santa aliança reunindo as classes dominantes – latifundiários e capitalistas de todos os setores – e expressivos setores de uma classe média urbana amedrontada por implacável campanha terrorista de propaganda anti-comunista, amparada no “generoso e desinteressado apoio” norte-americano, golpeou os movimentos populares, lançando o país em uma brutal ditadura. O golpe militar e a ditadura frustraram as expectativas populares e conduziram uma modernização conservadora que aprofundou as desigualdades sociais e o monopólio político, institucional e econômico que produziu e reproduz uma das sociedades mais injustas e violentas do mundo. (mais…)