Tapajós: cosmologia Munduruku ameaçada, por Telma Monteiro

Imagem: ECI
Imagem: ECI

Por Telma Monteiro

Destaquei abaixo dois parágrafos do Estudo do Componente Indígena (ECI) do projeto hidrelétrico São Luiz do Tapajós elaborado pela Eletrobras e CNEC/WorleyParsons.

Nem precisariam ter escrito um relatório de 309 páginas. Apenas esses dois parágrafos já são mais que suficientes para que tanto a Funai, como o Ibama e o próprio governo descartassem definitivamente de seus planos os projetos das usinas do Tapajós. Os Munduruku poderão perder a relação com os seus antepassados. Sua vida passada e os laços com sua história seriam literalmente submersos.

Os impactos decorrentes da construção da UHE São Luiz do Tapajós afetariam diretamente os Munduruku, em especial os lugares sagrados que preservam a história dos seus ancestrais. A perda espacial da referência dessa cosmologia transmitida de geração para geração produziria um dano irreversível na sua cultura. Como seria possível mitigar algo tão intangível?

“Os Munduruku se caracterizam por sua grande mobilidade espacial, gerando novas ocupações e vínculos sociais estendendo-se desde o alto Tapajós até a foz com o rio Amazonas. Assim, diversas localidades ao longo do curso do médio Tapajós são considerados pelos Munduruku como lugares sagrados onde viveram seus antepassados e por isso é de grande valor cosmológico e social na vida e história desta etnia.”

 “Considerando as interações comunitárias, importantes para os Munduruku do médio Tapajós, os impactos relevantes se referem a perda de locais devido a inundação e as áreas de intervenção da obra, bem como, ao barramento do rio que interferem na mobilidade dos grupos nos processo de interação com parentes e outros eventos associativos e comunitários.”

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