“Se antes de cada ato nosso nós pudéssemos prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é que é imortalidade.” Saramago
Por Mônica Cristina Brandão dos Santos Lima*
É com um olhar muito especial, sob a perspectiva de uma educação classista e libertadora, que quase diariamente parto para lecionar no sistema prisional. Ao adentrar os corredores do cárcere também me vejo nas celas superlotadas, olho atentamente as pessoas nas celas em situação desumana, para de alguma forma me comunicar e conhecê-las. Muito me orgulho de conhecê-las e chamá-las pelo nome. Enxergo rapidamente seus sonhos que se misturam aos meus, algumas também me chamam pelo nome ou simplesmente “professora” e nossa identidade é natural e recíproca. Cada olhar é um mundo desconhecido e misterioso.
Muitas vozes se misturam e penetram em mim como gritos de socorro. Penetro (um pouco) na realidade daqueles que são (como nós) a consequência miserável de uma sociedade capitalista violenta e injusta, pois subvivem à margem dela, no submundo que é o cárcere, mas que fazem parte do meu mundo, do nosso mundo. Muitas vezes não sinto vontade de sair de lá, assim como certas vezes me sinto encarcerada junto com minhas alunas e meus alunos…São muitos os direitos que são violados! Para meus alunos e minhas alunas costumo dizer que sou professora de “Biologia Política, Bem-Viver e Biologia do Conhecimento” e em nossas discussões políticas o desejo de muitos deles, além da liberdade, é que pudessem cursar uma Universidade, muitos são escritores, poetas, artistas, etc.
Sabemos que o Estado deixa de ser democrático quando o essencial direito à educação lhes é negado, dentro do cárcere e anteriormente fora do mesmo. Portanto, por que não avançarmos na construção de Universidades também dentro do Sistema Prisional? Ou melhor, aumentar as chances destas pessoas estudarem fora do Sistema Prisional? Por que não avançamos rumo a uma Educação-Formação Diferenciada, portanto, protagonizada pelos próprios educandos privados de liberdade? (mais…)
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