Angela Figueiredo*, no População Negra e Saúde
Na quarta feira, dia 16 de setembro, excepcionalmente, eu estava em casa quando meu filho ligou a TV e estava passando o programa Encontros, de Fátima Bernardes. Então ele me chamou: – Mãe, venha ver o programa que estão discutindo o tema do novo seriado da Rede Globo, que já está dando problema! Diante dos debates que têm ocorrido nas redes e nos movimentos sociais, apressei-me para assistir ao programa na esperança de que a emissora e a apresentadora tivessem o mínimo de sensatez para tratar do tema. O problema é que toda vez que se fala da população negra no Brasil, qualquer um pode se pronunciar, não é preciso ser estudioso, pesquisador do tema ou mesmo apresentar dados de pesquisas, basta simplesmente dizer a opinião pessoal e tudo estará resolvido. Somos muitos pesquisadores e pesquisadoras que trabalham com o tema das desigualdades de gênero e raça no Brasil.
Entretanto, somos absolutamente ignorados pela emissora, que prefere escolher a dedos uma pessoa que corrobore com a opinião dela, nesse caso em especial, o convidado para falar foi o cantor Carlinhos Brown. Todos sabem que Brown é mais indígena do que negro, basta observar o uso constate que ele faz do cocar, mas, naquela ocasião ele se constituiu como um representante legítimo para falar de um tema complexo: a relação entre gênero, raça e sexualidade. O depoimento de Brown não acrescentava nada às representações do senso comum. Realmente, ele prestou um desserviço à comunidade negra no Brasil que luta a duras penas por respeito e dignidade. Além dele, estava o autor da trama Falabella, e as quatro protagonistas negras. A rede globo, como sempre, perdeu uma grande oportunidade de ser democrática e abrir espaço para um verdadeiro debate. (mais…)