“É melhor morrer na luta do que morrer de fome”
Margarida Alves
Por Vanderleia Costa e Ana Paula Alves*, ASA
Cerca de 50 mulheres camponesas de seis municípios que compõem o Território de Identidade da Bacia do Rio Corrente – Santa Maria da Vitória, Canápolis, São Felix do Coribe, Coribe, Jaborandi e Tabocas do Brejo Velho – se reuniram no dia 12 de agosto, na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santa Maria da Vitória, para debater as lutas e as resistências das mulheres no campo.
Neste dia, há 31 anos, Margarida Alves, sindicalista e militante pioneira nas lutas pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil, foi assassinada por um pistoleiro a mando dos usineiros da região em Alagoa Grande na Paraíba.
O encontro na Bahia foi um momento ímpar no fortalecimento das lutas das mulheres do território da Bacia do Rio Corrente. As mulheres presentes refletiram acerca dos direitos conquistados ao longo da história do Movimento de Mulheres Unidas na Caminhada (MMUC), que surgiu na década de 70 a partir das reuniões feitas pelas mulheres nas Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) e que posteriormente começam a se engajar nos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e nas lutas contra os muitos conflitos de grilagem de terra que assolam até hoje essas comunidades que resistem para permanecer com dignidade em seus territórios de origem.
Com assessoria da Comissão Pastoral da Terra (CPT), um dos temas abordados foi o surgimento do movimento feminista no mundo, no Brasil e no Oeste Baiano. Refletiram ainda sobre a atual conjuntura do avanço do capital nesta região, uma fronteira agrícola do país nesse momento com o avanço do agronegócio, que vem derrbando dezenas de milhares de hectares de Cerrado para plantação de soja e algodão. Os diversos projetos de infraestrutura com suas grandes obras, a exemplo da Ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol) e dos 165 projetos de aproveitamentos hídricos (Barragens e Pequenas Centrais Hidrelétricas) nos rios que abastecem o São Francisco. Como se não bastasse, neste território cresce, cada vez mais, o número de pesquisas de minérios nas comunidades.
Outra pauta importante debatida pelas mulheres foi a necessidade de uma reforma no sistema político no Brasil e da participação no Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva, momento importante de participação das mulheres, já que hoje no Brasil somente 9% dos congressistas são mulheres e as mesmas somam 51% da população brasileira conforme dados do último Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Todas as mulheres presentes reafirmaram o compromisso com a luta pela permanência no campo, pela produção agroecológica, pela busca de direitos e libertação de todas as mulheres, no campo e na cidade. Com isso, acreditam que o feminismo é bandeira essencial para a construção de uma nova sociedade e da igualdade nas relações de gênero e de classe.
*Vanderleia Costa é Comunicadora popular da ASA; Ana Paula Alves é Membro da Comissão Pastoral da Terra – CPT, Bahia.