Em depoimento em Santo André, ex-metalúrgico confirma participação de empresas
Gislayne Jacinto – ABCD Maior
Apesar da resistência por parte de militares da reserva, que negam crimes cometidos contra opositores da ditadura militar (1964-1985), a Comissão da Verdade de Santo André concluiu seus trabalhos e afirma: houve tortura, perseguição, assassinatos e “desaparecimentos forçados” durante a repressão. Com depoimentos de militantes e familiares, o relatório será entregue às comissões da verdade estadual e nacional.
O ex-metalúrgico Elias Stain, preso durante a ditadura, afirma que mais de 500 trabalhadores foram torturados com o apoio de listas repassadas por empresas da Região ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social)
“Eu sempre insisto nisso: além da agressão física, foram torturados pelo desemprego, pela depressão, porque eram bons profissionais, mas não conseguiam emprego e não sabiam o porquê. Ninguém sabia ainda da lista”, lamentou Stain.
O atual secretário de Finanças da Prefeitura de Santo André, Antonio Carlos Granado, disse que ficou preso durante três anos sendo torturado por Dirceu Gravina, conhecido como JC (Jesus Cristo). Atualmente, Gravina é delegado da Polícia Civil de São Paulo.
“Este personagem (Gravina) me marcou muito, porque esse era de uma violência atroz e não tinha nada de inteligência. Ainda carrego algumas sequelas físicas e tenho marcas todas provocadas pela tortura. JC não perguntava nada, apenas batia”, relembrou Granado.
O presidente da Comissão da Verdade Assembleia Legislativa, deputado estadual Adriano Diogo (PT), lamentou que Gravina trabalhe para a polícia de São Paulo.
“Ele (Gravina) está para se aposentar. Subiu na vida, é professor de faculdade lá de Presidente Prudente, está rico para chuchu. Esse é o Dirceu Gravina, o JC, cara que me prendeu, que me deu uma coronhada no olho. Um assassino. Em todas as 73 mortes que ocorreram na Oban, o Dirceu Gravina esteve presente ou esteve ajudando”, disse.
Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, Gravina, ou “Jesus Cristo”, afirmou que os gritos dos presos ouvidos no DOI-Codi (centro de repressão comandado pelo Exército) de São Paulo eram simulação.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.