Um beija-mão. Assim pode ser definida a participação dos três principais presidenciáveis nas sabatinas feitas pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) receberam oficialmente documento com as propostas da entidade para os próximos anos. Todos se declararam amigos ou parceiros do agronegócio.
Uma frase de Campos, o primeiro a falar, ajuda a resumir como foi o evento. Ele falou que amigo não é aquele que só elogia, mas também o que faz críticas. Por essa metáfora, o candidato Aécio Neves foi um amigo que não faz críticas. Ele referendou, do começo ao fim, as teses dos ruralistas. Por exemplo, aquelas relativas à demarcação de terras indígenas. Também se declarou favorável à terceirização do trabalho no campo. E defendeu total desoneração das exportações agropecuárias.
Dilma Rousseff foi uma amiga que fez restrições pontuais, como no caso da terceirização. Ela disse que isso não significa precarização do trabalho, mas que é preciso haver acordo entre as partes – trabalhadores inclusive. Assim como Aécio, ela bancou uma expressão cara ao agronegócio, a de que é preciso ter “segurança jurídica” – termo usado pelos ruralistas para defender a propriedade privada, mesmo que sem função social ou com origem ilegal, e atacar a demarcação de terras indígenas ou quilombolas.
Dilma defendeu a continuidade da política atual, que ela impôs ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de revisão das normas para demarcação de terras indígenas. Aécio afirmou que outros órgãos, como a Embrapa, precisam participar do processo demarcatório. Essa é a tese dos ruralistas. A atual presidente dedicou boa parte de seu tempo a descrever as realizações do governo. Ao contrário de Aécio, citou mais de uma vez a agricultura familiar – ainda que de passagem.
Eduardo Campos, ao menos no discurso, foi menos adesista, ao defender as demarcações, as unidades de conservação e a reforma agrária, como prevê a lei. Ele era observado atentamente pela candidata a vice-presidente, Marina Silva, persona non grata em boa parte do universo ruralista por sua defesa do ambiente. Mas o candidato do PSB não hesitou em se declarar amigo do agronegócio. Ele defendeu compromisso com o setor, “sem preconceito”.
Os outros presidenciáveis não foram convidados para as sabatinas.
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Nota de Combate:
O documento da CNA – “O que esperamos do próximo presidente 2015-2018” – pode ser lido AQUI.