Carta em nome do Povo Tenharim, pedindo urgência de visita da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas e Comissão de Direitos Humanos da Câmara

Foto: internet
Foto: internet

Por Iremar Antonio Ferreira*

Poteakuá… bom dia…

“Nosso espírito está doente… nosso sangue está escorrendo pelo chão junto com nossas lágrimas…” – estas as palavras de dona Margarida Tenharin, no alto de seus sessenta e poucos anos, que viu a chegada da frente de ocupação de seu território tradicional nas margens do Rio Marmelos, que viu a Rodovia Transmazônica rasgar o coração de seu povo, que viu a Mineradora Paranapanema abrir crateras, extrair minérios e enterrar seus parentes aos montes, vítimas do sarampo, da catapora e da gripe…

Este discurso foi a tônica da Assembléia dos Kawahib – Povo Tenharin na aldeia Bela Vista -, entre os dias 13 a 15 de junho, com mais de 300 indígenas Tenharin e com a presença de convidados: Antenor Karitiana e Henrique Yabadai Surui, da Comissão de Articulação do Movimento Indígena de RO, noroeste do MT e sul do AM; de pessoas do CIMI (Volmir e Laura); do IIEB (Cloude e equipe); do IMV (Márcia Mura); e do mandato do Dep. Fed. Pe. Ton (Iremar).

Esta assembléia teve um único objetivo: energizar o povo Tenharin na condução da vida diante de outros desafios como: sustentabilidade pós-pedágio (compensação), organização interna e ameça da barragem de Tabajara.

Porém a situação da prisão dos cinco Tenharin – Gilson, Gilvan, Domiceno, Simeão e Valdiná – também ocupou a pauta e gerou muita consternação, principalmente entre os mais idosos. Depoimentos dão conta de que foram escalados jovens para vigiar os idosos, porque falam em se matar para não sofrer mais com a prisão de seus filhos.

O mês de julho é o período de realização da Festa dos Espíritos. No ano passado foi escolhido o cacique Domiceno (que está preso) para coordená-la, ou seja, ele é o dono da festa escolhida pelo antecessor… só ele pode coordenar este momento… sem ele dar as coordenadas, nem as pessoas podem se preparar, cortar cabelo, construir a maloca da festa…

Já Gilvan (preso) é filho do falecido cacique Ivan, e ele deveria ter sido empossado pelos mais velhos como cacique de origem do Povo Tenharin… Ele foi preparado para ser o guardião da cultura, a continuidade e manutenção da relação intra-étnica dos clãs Tarawé e Mutum-Namguera.

SE NÃO FOR CONSENTIDO PELA JUSTIÇA A LIBERDADE DELES ESTE CICLO DA CULTURA VAI SE QUEBRAR… isso significa que o Povo estará desprotegido pelos Espíritos porque o Povo está sem cacique de origem e sem o dono da festa… ficarão sujeitos a doenças, conflitos internos e externos, porque estarão sem direção…

Alguns guerreiros antigos afirmaram que se não for feita Justiça, se eles não forem soltos (nem que seja para cumprir prisão domiciliar na aldeia), os Tenharin estarão declarando guerra à in-Justiça dos “brancos” e isolarão a Transamazônica que só tem trazido mortes para eles…

Por isso as lideranças mais jovens pedem urgentemente a presença da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas, Comissão de Direitos Humanos e demais lideranças políticas do Estado do Amazonas para que vão visitá-los, para ajudar a criar esperança, para se solidarizar e transmitir energia para eles, porque do contrário tudo poderá acontecer com aquele povo e o que mais temem, perder o controle…

Porque assim disse uma liderança: preferimos viver no isolamento do nosso jeito, do que ver nossa terra sendo destruída por esta rodovia, por estes governos, por estes madeireiros, garimpeiros, traficantes e ver nosso povo ser tratado como marginal…

Outra liderança ainda afirma: a ação do Coronel Poty aqui foi de mentiroso…nós confiamos neles, demos apoio para as investigações e tudo; e aí junto com a Federal eles levaram nossos filhos pra fora da nossa terra pra prendê-los, isso foi ilegal, e ainda os mantêm presos sem provas… onde já se viu se nós tivéssemos feito alguma coisa com essas pessoas nós íamos abrir as portas de nossa terra, acompanhar eles nas buscas, dar apoio?

ATENÇÃO: o cacique Domiceno já sofreu um AVC a uns anos atrás e sua papelada foi queimada na CASAI de Humaitá e o mesmo está doente na prisão correndo risco de repetir e pela ausência deste histórico a administração do presídio não deixa entrar medicamentos… isso é gravíssimo… esta semana deverá vir médico da Casai de Humaitá para ver esta situação… imagina se neste período ele sofre outro (tem reclamado de dores de cabeça e com inchaço) e vem a óbito dentro da prisão… ai é o fim…

As perguntas que não calam feitas pelas lideranças:

  • quem vai pagar prejuízo de nossas aldeias com a queima de construções, moto, carros compradas por nós…
  • quem vai responder pela morte do cacique IVAN, que foi assassinado e não acidente como afirmam no laudo;
  • quem vai pagar pela violência física e psicológica sofrida pelos Tenharin, Jiahui e demais povos da região;
  • quem vai pagar pela queima do patrimônio público;
  • porque a justiça dos brancos só enxerga nós como criminosos…

Só vivenciando alguns momentos junto ao povo Tenharin para sentir… choramos muito juntos… é muita dor, é muito pranto na luta por Justiça…

A decisão do conjunto que lá estava é de ir juntos até o final e juntando mais gente pra esta Luta… Por isso elegeram nova diretoria para a APITEN – Associação do Povo Indígena Tenharin, como coordenador geral Antônio Anésio Tenharin…

Por isso, deputado padre TON, independente do calendário da CDHC ou FPDPI urge uma visita aos Tenharin, e melhor ainda se articulada com parlamentares do AM, porque eles estão isolados, abandonados e criminalizados, e passou da hora de mostrarmos que o Povo Tenharin e Jiahui não são criminosos… Criminosa é a bancada ruralista que incita a violência de toda forma para violar os direitos indígenas, dos quilombolas, entre outros neste País e em mídia nacional.

*Coordenador Equipe Mandato Dep. Fed. Pe. TON; Graduado em História – UNIR; Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente – PGDRA/UNIR; Educador Popular; membro do Instituto Madeira Vivo – IMV.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.