Justiça nos Trilhos – Os convidados para a audiência realizada ontem pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) criticaram irregularidades e violações de direitos humanos cometidas pela Vale do Rio Doce, pelo conglomerado Anglo-Americano e por outras empresas que atuam na área de mineração.
Subfaturamento das exportações de minério, sonegação de impostos, práticas ilegais de espionagem, destruição da natureza e uso de trabalho escravo e infantil foram algumas das irregularidades citadas pelos convidados.
— Hoje, mais do que nunca, se tem que ter um olhar para o minério que está embaixo da terra, também tem que ter um olhar para o meio ambiente e para as pessoas que estão em cima da terra. Ao discutir o novo código de mineração isso tudo tem que ser pensado — defendeu o deputado estadual de Minas Gerais Durval Ângelo.
O representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, disse que “a Vale é uma fraude” que fere os direitos humanos e a economia nacional e solicitou aos parlamentares que aproveitem a CPI da Petrobras para investigar as atrocidades cometidas ao longo dos anos pela empresa.
— No auge do preço da tonelada de ferro, em 2011, a Vale teve de lucro de R$ 29 bilhões e não pagou nada de imposto para as populações locais — protestou.
Doação
O representante do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Carlos Bittencourt, lamentou o alto impacto que as grandes empresas mineradoras têm sobre a própria democracia, já que exercem um papel importante na doação para campanhas eleitorais.
Segundo ele, o relator na Câmara do projeto do Código Nacional de Mineração, deputado Leonardo Quintão, feriu o decoro parlamentar por possível conflito de interesse, já que 20% do financiamento da campanha eleitoral dele foi feito por empresas do setor mineral.
— Já fizemos essa denúncia na Câmara, mas infelizmente nossa representação foi arquivada pelo presidente da Casa, Henrique Alves — lamentou.
O deputado Padre João lamentou que os problemas que envolvem a mineração se iniciem no processo eleitoral e destacou a importância do debate sobre financiamento público de campanha na reforma política.
Durval Ângelo destacou a falta de políticas públicas para “combater a insanidade que empresas como a Vale cometem” com comunidades de Minas Gerais e lamentou que haja uma cumplicidade dessas empresas com o poder público local. O deputado ressaltou que a cumplicidade das empresas não se manifesta somente no poder político, mas também no Judiciário, que aprova, constantemente, projetos poluidores do meio ambiente sem nenhum estudo de impacto ambiental.
— Os governos estaduais e federais são omissos, coniventes e, em alguns momentos, cúmplices de uma situação dessas. É lamentável — disse.
De acordo com o representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Ari Antônio dos Reis, outro fator que dificulta a luta de comunidades contra a expansão de empresas mineradoras é a mentalidade que persiste na elite e em grande parte dos governantes de que o bom cidadão é aquele que não protesta.
Para ele, devido a esse tipo de pensamento, vários movimentos sociais ainda são tratados como questão de polícia e não como indivíduos que buscam o bem comum.
Fonte: Jornal do Senado